Se entendia, há algum tempo, que o PSD passava pela sua Idade Média – ou seja, a sua “longa noite de mil anos – a análise de fenómenos internos mais recentes faz-me temer bem pior, olhando cada novo simulacro de facção como uma caverna de onde se espera que saia mais um beligerante com enorme desejo de amassar a caixa craniana do opositor mais próximo…
Deixando de lado as alegorias, comecemos exactamente por aqui: o PSD vive, hoje, de facções. O problema é que, em tempos idos (até meados dos anos 90, diria eu), cada grupo não só era suficientemente vasto para ser representativo, como era liderado por figuras com um percurso reconhecido e servidas por “generais” a quem também se reconhecia craveira para liderar “exércitos”. Acresce que as clivagens era ditadas por divergências ideológicas relativamente bem identificadas - creio que o último estertor disto se sentiu na “batalha” do Coliseu, em 1995, que envolveu Fernando Nogueira, Durão Barroso e Santana Lopes. Aliás, mesmo antes, em Coimbra (e presumo que no resto do país laranja), ser “nogueirista” ou “loureirista” (Dias Loureiro) era um “Grand Canyon” que apartava uma escolha social-democrata de uma opção liberal.
O problema actual reside exactamente no oposto. Assiste-se, nos dias que correm, à implantação de um modelo afegão dentro do PSD; há várias “tribos” (muitas…) e estas são lideradas por projectos eminentemente pessoais e por acólitos que já se banqueteiam em algumas sinecuras ou que, pelo menos, têm a esperança de trinchar um pouco do peru, no próximo Natal (que é como quem diz, num próximo executivo camarário, governamental ou em qualquer gabinete).
Razão tem, por isso, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa quando tenta impor um modelo minimamente federador, recusando mesmo o tentador apelo que lhe tem sido dirigido por várias individualidades dignas de crédito, sob pena de, aceitando, se tornar no candidato da “guarda de honra” de Durão Barroso que, a meu ver e com argúcia, tenta, a todo o custo, segurar posições internas a pensar em 2016, altura em que o seu líder já terá voltado de Bruxelas e em que poderá ver em Belém um bom (e, por que não, merecido) final de carreira política. Não digo que daí venha mal ao mundo, mas sublinho que não será assim que se contraria a decadência já iniciada e a ruína eminente da representatividade eleitoral do PSD.
Basta que o CDS institucionalize os ganhos obtidos – passando a ser menos dependente do carisma de Paulo Portas – e que o PS seja inteligente na gestão das sensibilidades de centro-esquerda, nos próximos anos, e o PSD ver-se-á, a meu ver, espartilhado numa franja com tecto máximo de 30% de votos que lhe ditará o fim da sua histórica condição de opção individualizada de governo. Basta ver que nos últimos quinze anos apenas três (e pouco) foram de governo social-democrata e, ainda assim, em coligação com o CDS.
Voltaremos ao tema, esperando eu estar redondamente enganado…
3 comentários:
Infelizmente tenho de confessar que acredito na tua visão macabra do actual PSD… mas acredito nos militantes… e acho que é possível alterar o futuro mais que previsível dos eternos 30%…
Gonçalo, assino por baixo. Farei o que puder para que, tal como dizes, estejas errado num futuro próximo.
Por isso muitos nessa altura viraram as costas ao partido e hoje é o que se vê. Pode ser que algum dia alguém se lembre dos porquês e dê a cara para ser lider.
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