Há dias, numa feira do livro, comprei um dos exemplares da Colecção "O País das Maravilhas", produto oficial do evento "Maravilhas de Portugal 07.07.2007" que com certeza ainda terão na memória, mercê da sua grande mediatização. O n.º 15 daquela colecção versa sobre o meu estimado Mosteiro de Alcobaça, monumento candidato que se veio a consagrar uma das sete maravilhas em solo luso.
O pequeno livro divide-se em três partes - a Maravilha (leia-se: o Mosteiro); 7 ícones ao seu redor (Chita, Doces conventuais, Maçã, Padeira de Aljubarrota, Pedro & Inês, Pop e Vidro) e, logo de seguida, "Outras 21 pequenas maravilhas". E é aqui que, para meu espanto, entre o destaque para outros monumentos locais, outras iguarias gastronómicas e algumas personalidades indelevelmente ligadas ao concelho, descubro que uma das figuras que ali consta é, voilá, o Marechal Gomes da Costa. Leio outra vez e sim, o que ali está é, preto no branco, "Marechal Gomes da Costa". E o pequeno texto, o que é que diz? Aqui se transcreve:
"Não nasceu em Alcobaça, mas sempre aí passou férias e fez amigos para mais que uma vida. Conhecido como General Sem Medo (1906-1965), procurou derrubar a ditadura através de eleições, tendo sido derrotado num processo eleitoral fraudulento que deu a vitória a Américo Thomaz. Foi assassinado pela PIDE, em Olivença, e encontra-se sepultado no panteão nacional. Foi-lhe erigido um monumento no lugar de Cela, em Alcobaça".
Por certo já se deram conta de que o texto refere-se não a um Marechal, mas a um General, de seu nome Humberto Delgado, este sim, intimamente ligado ao concelho. Um erro grosseiro que, dado o contexto - publicação oficial de um evento com o apoio institucional, imagine-se, do Ministério da Cultura, do IPPAR e do Turismo de Portugal - parece-me indesculpável. Além do mais, 3 anos volvidos e ninguém se deu ao trabalho de elaborar uma “Errata”.
Tenha-se em conta que é um livro que foi pensado para dar a conhecer um monumento, uma cidade e o que de mais marcante os rodeia e que se trata de um produto sujeito a uma revisão editorial que, no presente caso, parece ter corroborado da estapafúrdia ideia de que, entre a Ginja, a Louça de Alcobaça e a Maria de Lurdes Resende, o Marechal Gomes da Costa também ia bem com Terras de Cister.
Pois bem, recupere-se das lições de História de Portugal e relembre-se quem foi Marechal Gomes da Costa: destacado militar e líder da direita conservadora, encabeçou a Revolução de 28 de Maio de 1926 e, por golpe em Junho desse mesmo ano, alcança o Governo, sendo que este apenas dura 20 dias, uma vez derrubado por Óscar Carmona aos 9 dias de Julho seguinte. Carmona, assim que toma a posse, remete o seu precedente para o exílio nos Açores, não sem antes tê-lo feito Marechal.
É certo que, tal como Gomes da Costa, Humberto Delgado também fez carreira militar, tendo sido, já a título póstumo, também nomeado “Marechal” (da Força Aérea). Mas as semelhanças entre estas duas figuras históricas ficam-se, obviamente, por aqui. Opositor ao Estado Novo, o General Sem Medo sobressaiu naquela época pela sua coragem – daí o cognome -, coragem essa que, contudo, não lhe bastou para vencer as (fraudulentas) eleições de 58. Segue-se o exílio político, sem deixar de fazer oposição, até ao dia em cai numa cilada da PIDE e é assassinado em terras fronteiriças.
Muito mais fica aqui por dizer sobre este homem de exemplo, mas aos que desconhecem a sua apaixonante (embora trágica) história de vida, recomenda-se a biografia escrita por um dos seus netos, Frederico Delgado Rosa. A recomendação estende-se, naturalmente, à autora dos textos do livro aqui em apreço, para que não repita a proeza de confundir duas figuras históricas tão díspares.
* também publicado na edição de hoje do jornal “Região de Cister”;
O pequeno livro divide-se em três partes - a Maravilha (leia-se: o Mosteiro); 7 ícones ao seu redor (Chita, Doces conventuais, Maçã, Padeira de Aljubarrota, Pedro & Inês, Pop e Vidro) e, logo de seguida, "Outras 21 pequenas maravilhas". E é aqui que, para meu espanto, entre o destaque para outros monumentos locais, outras iguarias gastronómicas e algumas personalidades indelevelmente ligadas ao concelho, descubro que uma das figuras que ali consta é, voilá, o Marechal Gomes da Costa. Leio outra vez e sim, o que ali está é, preto no branco, "Marechal Gomes da Costa". E o pequeno texto, o que é que diz? Aqui se transcreve:
"Não nasceu em Alcobaça, mas sempre aí passou férias e fez amigos para mais que uma vida. Conhecido como General Sem Medo (1906-1965), procurou derrubar a ditadura através de eleições, tendo sido derrotado num processo eleitoral fraudulento que deu a vitória a Américo Thomaz. Foi assassinado pela PIDE, em Olivença, e encontra-se sepultado no panteão nacional. Foi-lhe erigido um monumento no lugar de Cela, em Alcobaça".
Por certo já se deram conta de que o texto refere-se não a um Marechal, mas a um General, de seu nome Humberto Delgado, este sim, intimamente ligado ao concelho. Um erro grosseiro que, dado o contexto - publicação oficial de um evento com o apoio institucional, imagine-se, do Ministério da Cultura, do IPPAR e do Turismo de Portugal - parece-me indesculpável. Além do mais, 3 anos volvidos e ninguém se deu ao trabalho de elaborar uma “Errata”.
Tenha-se em conta que é um livro que foi pensado para dar a conhecer um monumento, uma cidade e o que de mais marcante os rodeia e que se trata de um produto sujeito a uma revisão editorial que, no presente caso, parece ter corroborado da estapafúrdia ideia de que, entre a Ginja, a Louça de Alcobaça e a Maria de Lurdes Resende, o Marechal Gomes da Costa também ia bem com Terras de Cister.
Pois bem, recupere-se das lições de História de Portugal e relembre-se quem foi Marechal Gomes da Costa: destacado militar e líder da direita conservadora, encabeçou a Revolução de 28 de Maio de 1926 e, por golpe em Junho desse mesmo ano, alcança o Governo, sendo que este apenas dura 20 dias, uma vez derrubado por Óscar Carmona aos 9 dias de Julho seguinte. Carmona, assim que toma a posse, remete o seu precedente para o exílio nos Açores, não sem antes tê-lo feito Marechal.
É certo que, tal como Gomes da Costa, Humberto Delgado também fez carreira militar, tendo sido, já a título póstumo, também nomeado “Marechal” (da Força Aérea). Mas as semelhanças entre estas duas figuras históricas ficam-se, obviamente, por aqui. Opositor ao Estado Novo, o General Sem Medo sobressaiu naquela época pela sua coragem – daí o cognome -, coragem essa que, contudo, não lhe bastou para vencer as (fraudulentas) eleições de 58. Segue-se o exílio político, sem deixar de fazer oposição, até ao dia em cai numa cilada da PIDE e é assassinado em terras fronteiriças.
Muito mais fica aqui por dizer sobre este homem de exemplo, mas aos que desconhecem a sua apaixonante (embora trágica) história de vida, recomenda-se a biografia escrita por um dos seus netos, Frederico Delgado Rosa. A recomendação estende-se, naturalmente, à autora dos textos do livro aqui em apreço, para que não repita a proeza de confundir duas figuras históricas tão díspares.
* também publicado na edição de hoje do jornal “Região de Cister”;
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