Isto vem a propósito dos
"valores" , tema muito vasto, do "post" precedente do Sr.Gonçalo Capitao.
A Repúblicas exemplares
que nos prometem os candidatos à presidência cada vez que há eleições nos
diversos países europeus, deixam a desejar ao fim de alguns meses de
governação.
Os escândalos
financeiros e" les affaires" de corrupção que metem em causa membros
dos governos respectivos em várias nações tendem a perpetuar-se, juntando-se
assim aos empresários e banqueiros apanhados
em flagrante delito de fraude e evasão de capitais.
E num momento em que se
exige da população sacrifícios cada vez mais pesados, cada vez mais
insuportáveis, no momento em que os desempregados e os precários se contam em
milhões, os representantes da burguesia, eles, permitem-se esconder os seus
"tesouros" mal adquiridos , nos paraísos fiscais, servindo-se
abundantemente nas caixas do Estado e gozam de inumeráveis privilégios.
Os vários exemplos
recentes em França e noutros países, não são mais que alguns exemplos que não
devem esconder o caracter recorrente e estrutural da corrupção que reina um
pouco por todo o lado.
Porque os escândalos
financeiros, corrupção, privilégios, e outras "negociatas", são
intimamente ligados ao funcionamento mesmo do sistema capitalista que os produz
e reproduz de maneira permanente.
O governo moderno não é
mais que um comitê que gera os negócios comuns
da classe burguesa inteira.
O Estado, não está ao
serviço de todos, mas serve somente os interesses privados de alguns .A polícia,
a justiça, os deputados, os ministros etc. não são os representantes de toda a
sociedade. O presidente não é o presidente de todos os cidadãos. O presidente
gera o Estado contra o interesse geral em proveito do interesse particular, o
da classe dominante. E serve os interesses da burguesia, pois que ele se afasta
das classes populares.
A corrupção, ela também,
substitui o interesse público pelo interesse privado. Ela afasta as fronteiras
entre os dinheiros públicos e as rendas privadas. Os homens e as mulheres políticas
sem escrúpulos podem assim servir-se, com um sentimento de impunidade, nas caixas
do Estado como se tratasse do seu próprio patrimônio. Certos altos salários administrativos
e pensões adquiridas quinze e vinte anos mais cedo que um trabalhador, e o nível
indecente destas pensões, prova-o.
A corrupção nega e
despreza o princípio de transparência e permite a uma única e mesma classe
social, através do Estado, de aceder de uma maneira oculta e ilegal aos recursos
públicos.
Encontramo-nos assim
perante uma república corrompida e uma democracia inteiramente abandonada ao
capital e aos parasitas especuladores sem fé nem lei. Estamos longe da república
irrepreensível prometida pelos candidatos à presidência.
Não se trata aqui duma questão
de moral, mas o produto dum sistema econômico no qual os interesses das classes
constituem o seu fundamento material. A moral não tem existência própria. Ela
depende das condições materiais que a produzem. Ela é a emanação das atividades
econômicas, dos comportamentos materiais dos homens.
O grande desafio da
social democracia será de provar que é capaz de moralizar a vida publica, de
lutar contra as derivas do dinheiro, a cupidez e a finança oculta, de lutar pela
transparência da vida publica, contra a grande delinqüência econômica e
financeira.
A classe trabalhadora,
que não pede nada mais que trabalhar para sobreviver, descobre que aqueles que
lhe impõem sempre mais sacrifícios usufruem de regalias sem conta. O que é
escandaloso.
Mas o verdadeiro
escândalo atual é sem duvida nenhuma o capitalismo financeiro selvagem que perverte
as nações.
Freitas Pereira
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