quarta-feira, 24 de abril de 2013

Um problema de timings


A vida é mesmo assim, e quando este problema surge nas nossas vidas pessoais, com  austúcia, com imaginação ou até com algum poder de persuasão conseguimos os nossos objectivos.

Pois é, e volto aqui ao meu tema preferido, o que vai fazer o líder do principal partido da oposição, António José Seguro perante os mais recentes factos.

De um lado temos um governo reciclado, regenerado e com novos objectivos e do outro um partido no verdadeiro sentido da palavra, que se tenta também reinventar, reciclar e regenerar, os próximos tempos vão ser interessantes, vamos ver ganha este novo desafio.

Do ponto de vista político, Pedro Passos Coelho livrou-se de um peso morto, retirando assim espaço de manobra aos adversários, na medida em que Relvas deixou de ser arma de arremesso. Remodelou inteligentemente, pois como se diz na gíria Portuguesa, conseguiu fazer o dois em um, ao substituir Relvas por alguém com peso político, Marques Guedes e por outro lado reforçar a equipa governativa, com alguém insuspeito, competente e conhecedor dos dossiers Europeus, Poiares Maduro.

Contudo nem tudo correu bem, estas remodelações a conta-gotas dos secretários de Estado, ameaçam minar um pouco este processo, não só pelas razões que estiveram na sua base, mas essencialmente porque ainda não sabemos qual a factura a pagar por erros passados destes Senhores. Não quero ser mais papista que o Papa, mas esta factura será paga novamente pelos contribuintes Portugueses, resta saber quanto…

Do ponto de vista económico, tudo indica que melhores tempos virão. Segundo os últimos dados, a execução orçamental está no bom caminho, tanto do lado das receitas como do lado das despesas, a negociação sobre as maturidades dos empréstimos foram bem sucedidas, e finalmente, temos uma estratégia para o crescimento. Desenganem-se os vendedores de ilusões, quando afirmam que já vem tarde e que escusávamos de ter sofrido tanto. Quem anda nestas lides e for sério, sabe perfeitamente que qualquer estratégia tem sempre várias fases e tratando-se de um monstro como é a máquina do Estado, mais lento é o processo. Contrariar em dois anos uma cultura de despesismo instalada e promovida durante dez, é obra.

Analisemos agora o que se passa no principal partido da oposição.
António José Seguro ainda não se conseguiu afirmar como líder da oposição, não só porque não tem envergadura para isso, mas essencialmente, porque sofre de um síndroma cada vez mais em voga no nosso burgo e que afecta os partidos do arco do poder, "O síndroma do líder efémero". Se até agora havia um inimigo comum que os unia aparentemente, que passava  pela renegociação do memorando, nas metas do défice e no reembolso do empréstimos e na ausência de uma estratégia de crescimento, agora as coisas estão mais difíceis.

A acrescer a isto, José Socrates está de volta, Jorge Coelho regressou à vida política e António Costa que tarda em mostrar qualidades de Presidente de Câmara, acha que chegou a sua altura. Como se isto não bastasse, surgiu agora um documento promovido pelo ex-secretário de estado da presidência de José Sócrates, a solicitar que o futuro líder do PS seja eleito também pelos simpatizantes e não só pelos militantes.

De uma coisa AJS está seguro, só um deles quererá disputar a liderança do PS, António Costa, porque os outros dois, têm uma agenda muito mais pessoal e mais economicista, não só porque já deram para esse peditório, mas essencialmente porque preferem continuar a viver bem e de preferência à custa do orçamento de estado.

Como tudo isto já não bastasse, Pedro Passos Coelho ensaiou mais uma jogada de mestre, convidando AJS para reunião. Ao dar-lhe a mão nesta fase difícil, faz agora o três em um, dá-lhe o protagonismo de que ele tanto precisa, segura um líder da oposição fraco, oco e sem ideias e finalmente porque coloca o PS entre a espada e a parede. Agora AJS ou é parte da solução ou é um problema e isto porquê? Porque depois de quase todas as reivindicações terem sido atendidas, a saber, uma estratégia para o crescimento económico, renegociação do memorando nas metas, prazos e maturidades, fica a faltar muito pouco.
Os próximos tempos vão ser interessantes.

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