domingo, 28 de abril de 2013

Esquizofrenia generalizada

Definitivamente encontrei o termo que melhor define o momento político que vivemos. Mas o que é a esquizofrenia? É um transtorno mental que pode atingir qualquer pessoa independentemente da idade, sexo, raça, classe social e que se caracteriza por delírios, alucinações, etc..., no fundo uma descolagem perante a realidade.

Desde que este governo tomou posse, com o grande desígnio Nacional de evitar a bancarrota, cedo se percebeu que iríamos ser influenciados e condicionados por um movimento transversal à sociedade Portuguesa, liderado pela comunicação social no sentido de impedir o inevitável, o "fim dos interesses instalados".

Esta esquizofrenia generalizada, vem em crescendo e atingiu o seu epílogo com o discurso do Presidente da Republica no dia 25 de Abril. Ora, seria fácil adivinhar, que qualquer que fosse o discurso se responsável , e de estado, seria criticado da esquerda à direita e ontem alguém por quem não tenho grande simpatia, dizia algo muito obvio mas que a esquerda só releva quando é conveniente. Ao rejeitar eleições antecipadas, apelando à estabilidade política e aos consensos, o Presidente da Republica não fez mais do que cumprir e respeitar a constituição, a saber os mandatos são de 4 anos.

Ao contrário, Jorge Sampaio violou a constituição quando dissolveu a Assembleia da Republica sem qualquer razão objectiva e porque todas as sondagens davam uma vitória clara ao PS, convocou eleições antecipadas, vindo a dar posse ao governo que levou o País à bancarrota. A esquerda e uma parte da direita aplaudiram e o resultado foi aquele que se viu e para o qual somos hoje todos chamados a pagar.

Não posso estar mais de acordo com o Presidente da Republica, "À primeira qualquer cai, à segunda só cai quem quer"

Mas afinal de contas quem são os maiores beneficiários desta esquizofrenia?

A lista é extensa, mas nada como dar alguns exemplos:
No topo da pirâmide podemos encontrar as elites económicas, que historicamente sempre viveram à custa do orçamento de estado. A seguir, temos as elites políticas, que vêm o sistema de reformas chorudas ameaçado, depois, todos os operadores judiciais a começar pelos juízes, procuradores, terminando nos advogados. Mais abaixo os jornalistas e comentadores (normalmente ex- políticos) e finalmente os funcionários públicos em geral, que pela sua dimensão e capacidade de gerar vitórias eleitorais, foram acumulando benesses insustentáveis, roçando em alguns casos a indecência. A propósito disto, muitos se questionarão porque é que o tribunal constitucional nunca invocou a falta de equidade e justiça, evitando assim a divisão da sociedade Portuguesa, entre Portugueses de primeira e Portugueses de segunda.

Numa soma de resultado nulo, se uns são beneficiados, alguém tem que ser prejudicado.
A resposta é simples, Portugal, e a maioria dos Portugueses, os tais cidadãos de segunda, que pagam com os seus impostos todos estes desmandos.

Contudo, os beneficiários desta esquizofrenia, sofrem de outra patologia, a miopia galopante, porque ainda não perceberam que quanto mais cedo reformarmos e acabarmos com todas estas distorções insustentáveis, menores serão as perdas. O colapso de todo este sistema, é o pior dos cenários e a pior das opções.

Muitos Portugueses, estranharão porque é que a maioria dos comentadores adoptou a política do bota abaixo e invariavelmente está contra toda e qualquer medida anunciada pelo governo, mesmo aquelas há muito reclamadas por toda a sociedade Portuguesa. Eu não estranho e as razões são simples e deviam ser perceptíveis ao comum dos mortais.

Para começar, os media por uma questão cultural, a que eu chamo "intelectualite de esquerda", recrutaram desde muito cedo, jornalista e comentadores simpatizantes da tão conhecida esquerda caviar, gostam de viver bem, ganhar bem, julgam-se intocáveis, não se sujeitam a qualquer julgamento e acham que só eles detêm a verdade. Depois, porque nos últimos dois anos, muitos destes pseudo-comentadores foram sujeitos pela primeira vez a cortes salariais e para quem se julgava intocável e acima do comum dos mortais, começou sentir toda esta construção em perigo.
Finalmente, porque os grupos económicos de media, sentiram-se ameaçados com a perspectiva da privatização da RTP, e sub-repciamente, as administrações terão passado a mensagem aos jornalistas que eles seriam os principais prejudicados pelo sucesso desta operação. Como quem não quer a coisa, a mensagem foi clara e muito objectiva do tipo, "façam pela vida que os tempos estão difíceis"

Temos assim um " melting pot" de interesses, que nada tem a ver com as reais necessidades do País ou do cidadão em geral, mas apenas e tão só, com a defesa de interesse corporativos e pessoais, que ameaça a cada momento a estabilidade tão necessária para sermos bem sucedidos na defesa do interesse geral e do nosso futuro.

Vivemos assim tempos a que eu chamaria de censura silenciosa, muito mais perniciosa do que a censura do lápis azul, porque se nos tempos idos e em alguns casos se escrevia aquilo que se pensava, que posteriormente poderia ou não ser censurado, hoje, à partida, já nos dizem que se não escrevermos em determinado sentido, é a nossa última missiva. Honra seja feita aos blogs, local onde ainda podemos ser genuínos e escrever segundo as nossas convicções.

Nem há muito tempo, um comentador e articulista da nossa praça, confidenciava-me que tinha abandonado algumas convicções e se tinha dedicado a escrever e a comentar banalidades e terminou dizendo, não quero fazer parte dessa grande fileira que são os desempregados do nosso País.

O corolário deste unanimismo ficou bem patente na primeira página do jornal de negócios desta semana. O convidado foi Fenando Rosas, um historiador, bloquista que para além de não acreditar na economia de mercado, também não a entende e é como sabemos um feroz crítico deste governo.

Este cinzentismo a que fomos votados, não augura nada de bom, não só porque a nossa cultura foi construída sob a diversidade, criatividade e espírito de aventura, mas também porque esta forma unânime de pensar tão ao estilo das ditaduras nunca deu bons resultados. Estranho é, que aqueles que mais defenderam a liberdade de expressão e a pluralidade de opiniões, estão hoje na linha da frente na defesa desta nova cultura.

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