sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A razão pela qual se não pode abrir a janela do avião

Creio piamente que tudo tem limites na vida. Felizmente, estamos ainda por conhecer quais os limites da resiliência social dos povos europeus; ou seja, vivo perguntando-me até quando podem os cidadãos ser prensados, habituados que estão às larguezas do modelo social europeu…

Confesso que me impressionaram os protestos de Madrid, na terça-feira. Pessoas que pediam implicitamente a mudança de regime (refiro-me às bandeiras republicanas), outras que acusavam os políticos de “venderem Espanha” e muitas que alimentam sondagens com o declínio claro dos partidos “de governo” em detrimento das propostas alternativas.

Por cá é o que sabemos. Milhares de pessoas saindo à rua sem motivação partidária, antes procurando gritar a sua genuína angústia pela casa que se vai, pelo emprego que se foi e pelo futuro que deixou de ser…Do que posso perceber à distância, as últimas manifestações simultâneas foram pacíficas, civilizadas e sentidas, tirando alguns bonzos, histriões e delinquentes profissionais que se mascaram com vestes anarquistas ou trotskistas e tentam estragar o protesto democrático e justificável de 99,9% dos que protestam. Felizmente, as nossas forças policiais (que, relembremos, também sofrem os mesmos apertos, tendo que trabalhar como nada se passasse) e a opinião pública sabem perceber que um outro meliante que apareça com os amigos em S. Bento ou Belém nada mais é do que um criminoso que em nada mancha a mensagem que um grande número de portugueses quis passar.

Dito isto fica por perceber se, a mais das elites, a grande massa de dirigentes de PSD, PS e PP estão preparados para mais do que remendos numa vela que se rasga com a força da borrasca económica. Ainda há não pouco, alguns dos novos protagonistas “laranja” defendiam projectos de empresarialização e condicionamento profissional dos tradicionais gabinetes de estudos o que, a meu ver e por muito que se apontem soluções estrangeiras análogas, representa o contrário da livre criatividade humana (a tal que, nem que fosse através de erros, nos fez progredir como espécie) e o apogeu da lógica clientelar de aspirantes a “poderoso” que, em certos casos, tem o carisma de um caracol e o humanismo de um seixo.

Enquanto vejo arder nas chamas do desespero popular a última geração de políticos cujas ideias reais se conhecem e percebem (refiro-me ao actual Governo e aos que se lhe opõem partidariamente), ninguém explica quando tudo isto pára, quando os Estados europeus dizem que chega de ditadura financeira ou sequer como podem as pessoas sobreviver sem casa, sem trabalho ou com salários que não cobrem os preços das coisas essenciais.

É por tudo isto que não me importava que deixassem Mitt Romney e outros políticos contemporâneos abrirem as janelas do avião, por muito que o primeiro não perceba a razão pela qual tal não é permitido…

1 comentário:

freitas pereira disse...

"... vivo perguntando-me até quando podem os cidadãos ser prensados, habituados que estão às larguezas do modelo social europeu…".
O meu Caro Amigo escreve " larguezas do modelo social europeu".
Bom, se me permite, o nosso PIB, como o dos países do oeste europeu, dobra todos os 40 anos. Contrariamente a uma ideia largamente aceite, são os serviços públicos e a protecção social que explicam este crescimento, e é a sua estagnação desde há 20 anos que explica a recessão duradoira na qual nos encontramos!
Impostos e cotizações sociais acrescentam-se ao PIB.
O que o mundo capitalista lega às gerações futuras através da dívida pública, não é uma falta ou um stock negativo de moeda, mas uma desigualdade entre aqueles que têm a moeda em excesso e que podem investir na divida (especulando) e aqueles que não têm nada e que dependem dos serviços públicos.
E quanto mais eles dependem dos serviços públicos, mais a dívida aumenta e mais os especuladores ganham moeda.
A crise, é bem sabido, é boa para os especuladores, que nunca ganharam tanto dinheiro.
O seu comentário sobre Madrid: Tem razão. Algo se passa na capital duma Espanha em transe.A Capital do Imperio de Carlos V treme...
Sessenta feridos, um grave. Será necessário alguns mortos para que os governos europeus compreendam que eles são "game over" na historia do mundo e dos povos? Que a velha casta está podre e acabou de viver?
Que a dominação deles é uma questão de alguns meses? Que isso vai chegar, enfim? Que a pressão que eles exercem sobre os homens e as mulheres da carne e osso, de sangue e de Historia em nome dos jogos virtuais malsãos que alimentam o tesouro de guerra é conhecido como ele é realmente: um hold-up. Umavigarice. Uma pirâmide de Ponzi à escala dos Estados. Organizada pelos Estados.
Ontem à noite, na noite de Madrid, no coração duma cidade mais uma vez desbordante de povo e de gritos, a policia carregava sem nexo. Em directo, nos sites que se comunicavam os "face-book people", via-se o que não uma descoberta, as estúpidas e inúteis violências de esquadrões policiais face a um povo" para o momento" desarmado. Para o momento. Violência que provocarà outras violências. Receia-se um golpe fatal. E todos, na Internet, de se transmitir estas fotos de mundos de gente que não se verá em parte nenhuma, de caras ensanguentadas, de homens idosos arrastados pelo chão, de mulheres que são conduzidas não se sabe onde!

Freitas Pereira