terça-feira, 14 de agosto de 2012

Guarda pretoriana a gasóleo I

No meu último artigo inclui um post-scriptum sobre os lucros da Galp que rezava assim: “o que deveria ter indignado esquerda, centro e direita foi o filme pornográfico que vi na RTP sobre os lucros da Galp, que parecem ter crescido 56,7% (cifrando-se em 178 milhões de euros), no primeiro semestre de 2012. Isto só mostra que, se fosse solidária com o esforço dos portugueses, a empresa poderia encurtar as suas margens, assumindo parte dos dantescos aumentos dos combustíveis. É uma vergonha que parece não seduzir tanto a esquerda como o folclore político…”.

A esse respeito, um antigo colega de trabalho e, hoje, ilustre funcionário do grupo Galp (cuja identidade, evidentemente, salvaguardo) fez-me o favor de ler e comentar o apontamento supra citado.

Desde logo, esgrime o argumento ideológico, dizendo que não é meu armar-me em Robin Hood (palavras minhas), defendendo que se tire “aos ricos para dar aos pobres”. Comecemos, então, por aqui… Se alguma vez dei a impressão de que era um estouvado liberal ou um fanático do “laissez faire, laissez passer”, sinceras desculpas pela míngua de predicados próprios… Sou um reformista, com o que quero dizer que não sou um social-democrata “puro”, pois não só não conservo a sociedade sem classes sequer como utopia, como acredito que a economia de mercado é a que melhor promove a regulação de necessidades e desejos. Não deixo, contudo, de reservar para o Estado um papel regulador activo. Entendo, por isso, que será de perceber quem pode ser convocado a ajudar numa situação extraordinária e em que todos os “pobres” (para usar a demagógica expressão de que fui destinatário”) estão já em taxa de esforço máximo. É isso que compete ao Estado e que deve marcar a distância entre o povo que dizemos ser e a amálgama de cidadãos isolados e desprezados que, aí sim, deu quartel às mentiras e revoluções comunistas, no passado (no caso sei que foi apenas memória curta)! Faria bem o meu amigo “pregador” em comprar e ver com atenção o filme Metropolis de Fritz Lang (já que tanto aprecia o dinheiro, escuso de lho emprestar, já que, assim, poderá alimentar o mercado que tanto adula)…

Diz-me, depois, o meu interlocutor que usei “versos de rima fácil e popularucha” quando me referi à Galp. Percebo e aprecio o zelo pretoriano, mas defendo que o mesmo é bom para o rateio dos prémios anuais (que, graças ao bem amado mercado, serão cerca de um milésimo daqueles que vão receber os seus administradores…), mas não para um mundo em que a comunicação, a mais de livre (talvez tal desagrade às grandes corporações, mas paciência…), deve ser clara e acessível a todos e provida de emoção. Nada me enfada mais do que o discurso hermético e cinzento que caracteriza alguns políticos e empresários. Aliás, houvesse outros comunicadores “lá em casa” e talvez a Galp tivesse mais sucesso a explicar o quase inexplicável…

Continuaremos esta semana, sublinhando eu que apreciei genuinamente a oportunidade de debate com o amigo que venho citando e que nada, mas mesmo nada, me move contra a Galp. Faço apenas um comentário de actualidade e considero o grupo em causa um importante pilar da nossa economia.

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