sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Guarda pretoriana a gasóleo II

Continuo hoje a minha visão sobre um assunto que gerou debate na sociedade portuguesa: os lucros da Galp, que rondaram os 57%, em tempo de crise.


Os que tiveram a gentileza de ler o meu texto precedente terão visto que encetei um interessante debate com um amigo que trabalha naquele grupo económico e que, zelosa e inteligentemente, defendeu a sua “dama”.


Entre outras coisas disse o ilustre cavaleiro dos petróleos que a minha opinião se cifrava em “tirar aos que trabalham e sabem gerir o seu dinheiro para dar aos que nada fazem e tudo gastam”. De seguida, com ironia, pergunta se desejo que a Galp ajude “os ‘tugas’ que compram o Ipad, o Iphone e o Ipod” ou “as empresas que pagam mal aos seus funcionários para os donos comprarem carros de alta cilindrada”.


Começo por estas tiradas demagógicas, básicas e até um pouco patéticas, reservando o fillet mignon da argumentação do meu amigo e da Galp para o final. Assim e desde logo, se é possível reconhecer que todos – pessoas, empresas e Estado – vivemos acima das nossas possibilidades, o problema existe, tal como existe o irritante e cretino vício português de procurar dissecar por tempo infinito o passado e de ficar a apontar o dedo, em lugar de, feito o diagnóstico, avançar para a solução de problema. No caso vertente, o povo português está em claro sofrimento e esforço, de nada servindo, agora, lembrar-lhes as férias tropicais que não deviam ter gozado ou as trocas de carro e telemóveis que deveriam ter ignorado; todos o sabem e é o cidadão comum que sofre, já que me não consta que os políticos, que não fizeram a pedagogia adequada sobre a probidade a ter (há honrosas excepções, ocorrendo-me, nomeadamente, a Dra. Manuela Ferreira Leite), estejam desempregados ou em sérias dificuldades.


De passagem, digo ainda que me parece de um populismo de inspiração corporativista insinuar que maioria dos portugueses tem Ipad e Iphone… Entendo; havia que criar uma cortina de fumo na argumentação… Veja-se, porém, que muitos dos que têm essas inovações tecnológicas – que, em si, são excelentes progressos no domínio da comunicação e do lazer – também chegaram até elas mercê de infindáveis e hipnotizadoras promoções dos operadores de telecomunicações; ou seja, o caminho até à crise, digo eu, tem muito de responsabilidade partilhada pelos consumidores/trabalhadores, empresas e Estado.


Já os empresários que gastam nas “bombas” sobre rodas – o nosso iconográfico “pato bravo” – sei, até por conhecimento pessoal, que ainda existem sujeitos inconscientes que mantém as empresas com equipamento arcaico e pessoal mal remunerado para ostentar riqueza. Não creio (ou não quero crer), todavia, que a sua dimensão económica possa explicar a falta de vigor da nossa economia, a mais de me parecer que o género está condenado à extinção progressiva, exactamente pela sofisticação tecnológica a que os mercados ocidentais obrigam.


E, como a conversa (mesmo escrita) é assim, só na próxima semana a terminaremos.

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