quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Nos carris do Transiberiano II

Retomo o relato resumido de uma viagem que, de Dezembro a Janeiro, nos levou de Moscovo a Vladivostok, na mítica rota do Transiberiano.
Assim, munido de boa leitura (Dostoiévski, pois claro), lá começou uma aventura que haveria de levar-nos da estação de Yaroslav (tem marco do quilómetro 0) em Moscovo,
até à de Vladivostok, onde, com sete horas de diferença para a Capital, “amanhecemos” com a visão do marco do quilómetro 9288 e com uma emblemática locomotiva a vapor, exibida na gare.


Antes do embarque, uma nota de cunho histórico: ali mesmo, à entrada da estação, está o nosso camarada Vladimir Ilyitch Ulianov (vulgo, Lenine), representado numa das múltiplas estátuas espalhadas por toda a Rússia.


“Matámos saudades” em Nizhny Novgorod (estátua apontando para o Hotel Central),

Ekaterinburgo (na praça central, rodeado de esculturas de gelo e quiosques que o deveriam ter horrorizado, outrora),


Irkutsk (no cruzamento da Rua Lenine com a Rua Karl Marx!!!...),


Ulan Ude (escondido, não muito longe da estação ferroviária, mas de inusitada cor dourada, que parece pouco adequada aos ditames ideológicos do senhor)


e em Vladivostok (mais uma vez, em frente à gare).


Destaques especiais, desde logo para o próprio (se forem infundados os rumores de que a sua múmia foi substituída por um manequim) em exposição, ainda e sempre (???) na Praça Vermelha


e para a macrocefalia do camarada em Ulan Ude, onde, na praça principal (onde mais?!...), se encontra aquela que se diz ser a maior cabeça de Lenine do Mundo (não custa acreditar…).


Por fim, um sublinhado para a ausência da sua representação em Kazan (a mesma que nem em Kaliningrado verificáramos, em Março), onde, paradoxalmente, fica a universidade que, ainda hoje, é conhecida pelo seu nome (já não o ostenta, mas conservou o nome popular e a efígie do "rapaz").


Numa pura conjectura, creio poder explicar-se a falta de comparência pelo tradicional sentimento arreigado de autonomia da Republica do Tataristão, onde os tátares (assim mesmo e não “tártaros”) sempre gostaram de uma boa refrega com os eslavos.
No meio de tudo isto, o que quero sublinhar é que, além das estátuas, muitas das principais avenidas (Ekaterinburgo) e ruas (exemplo, Ulan Ude) ou Praças (veja-se Nizhny Novgorod) têm ainda o nome maior do executante mor do marxismo por aqueles lados.


Aliás, Irkutsk, além da rua e da estátua com o nome de Lenine, tem, como referi, mesmo uma rua Karl Marx.

Conclusão deste vosso criado: enquanto nós ainda vivemos mergulhados em complexos de esquerda herdados do 25 de Abril e que tanto nos tornam retrógrados e politicamente enfezados, os russos aprenderam, com mérito evidente de Putin, a lidar com o passado, tentando casar a idiossincrasia de ontem com o pragmatismo de hoje e com o potencial de amanhã. Eis como se forja uma potência: mobilizando a sociedade…


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