Juro que bem tento não cair no cliché de dizer mal dos funcionários públicos só "porque sim". Até porque tenho uma irmã que trabalha (e muito) numa autarquia deste país e não vê meio de lhe ser reconhecido o mérito que tem e a entrega exemplar com que todos os dias (úteis e não úteis) se dedica ao seu trabalho. Adiante. Dizia eu que bem me esforço por não cair na generalização de criticar a função pública e de usá-la como bode expiatório só porque, como a generalidade dos portugueses, me sinto mal servida pelo Estado.
Sucede que esse meu esforço cai por terra sempre que tenho que lidar com essa estranha espécie que são os funcionários públicos. Por força do meu trabalho, vejo-me algumas vezes levada a ajudar clientes em assuntos que lhes cabiam a eles resolver mas que não conseguem, por falta de diligência dos funcionários do Estado e, sobretudo, porque lhes faltam algumas armas que se mostram necessárias usar com aquela gente.
Há dias, tentei estabelecer contacto com Direcção-Geral das Alfândegas e estive cerca de uma hora em espera, porque os sucessivos interlocutores alegavam sempre "que não era com eles" e passavam a chamada uns aos outros, sem réstia de consideração. Cheguei a falar com a mesma pessoa duas vezes e - nada que me surpreendesse - levei com um "então mas eu não lhe disse já que isso não era comigo?". Às tantas, quando lá encontraram a pessoa "certa" (que ali é a mesma coisa que dar com uma agulha no palheiro) e me deram o respectivo contacto, atende-me uma senhora cujos bons modos escasseavam e cuja mensagem foi suficientemente esclarecedora: "Agora estamos a almoçar, seja o que for, só depois das duas".
Ontem o cenário não foi muito diferente. Estive 40 minutos em espera para falar com determinado departamento da Câmara de Lisboa, para meu desespero e da telefonista que tentava, sem sucesso, passar o telefone às "técnicas que estão cheias de trabalho ao telefone". Até podia ser verdade, mas chegada a hora de me atenderem só sabiam dizer que "não era com elas", mesmo quando lhes relembrei que no anúncio do Diário da República era aquele exacto contacto o que se indicava para eventuais esclarecimentos. Até que me exigem a "coisa" por escrito, meu deus, que burocracia! Um email sem resposta (mesmo tendo rogado resposta rápida uma vez que o prazo da coisa assim o exigia) e uma tarde passada a ligar para lá, até que percebi que ainda nem sequer tinham lido o email e, tal era a fúria com que estava, lá coagi uma senhora a dar-me um número de telefone de alguém que me garantiu saber ajudar. Claro que tudo isso foi em vão, porque o senhor, mesmo sendo Director de Departamento ou raio que era, não sabia patavina! Ainda estou em choque, a perguntar-me que raio faz aquela gente, que nem sabe aquilo que exige aos munícipes!
Pois bem, não há volta a dar, a imagem depreciativa que tenho dos funcionários públicos teima em piorar de dia para dia e, razões, como bem vêem, não me faltam para isso. E assim dou por mim a desejar que tudo neste país fosse privatizado! Pronto, já um pouco mais calma concluo que bastaria aplicar as regras do privado no sector público e já seria um grande avanço...
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