quinta-feira, 26 de abril de 2007

O Google, a China e o livre acesso à rede

Gonçalo, no seguimento do teu comentário ao meu último post, e visto que levantaste um tema que considero extremamente interessante, resolvi trazê-lo ao prime time do Lodo (espero que não te importes!).

Gonçalo Capitão

“Interessante este texto...
Porém, como há sempre um reverso da medalha, é a mesma empresa - "Google" - que admite censurar a pedido do governo chinês, assim limitando o potencial democratizador da Net em homenagem ao lucro.
Em sentido contrário, fica a ideia de que não é preciso explorar e tratar mal para obter resultados. Bem ao invés... “


Entendeu o Google que pior que oferecer um serviço censurado seria ficar fora do mercado chinês, que a curto prazo, terá mais pessoas conectadas à Internet que os Estados Unidos.

Como sabes Gonçalo, para uma ditadura, não há maior perigo que a livre discussão e o livre acesso à informação, enquanto que para um site de pesquisa na Internet, a sobrevivência depende da confiança que o público deposita nele.

Tenho a impressão que a fraca (para não dizer inexistente) resistência ao regime comunista da China não deve ter sido nada fácil para a alta esfera do Google, indo contra a tal confiança que acima referi. No entanto, ao render-se às regras da China, o Google não só deu força ao debate sobre a censura na net (tema que ainda vai dar muito que falar), como abalou a sua imagem.

Não esqueçamos é que a censura na net é uma realidade e a China não foi pioneira nesta matéria, sendo disso exemplos a França e a Alemanha, onde são barrados (e muito bem) sites nazis ou racistas.

A diferença, obviamente para além do conteúdo, é que umas são decididas por democracias, enquanto que outras são impostas por burocratas que não se preocupam com o imperativo de prestar contas à sociedade.

Termino com uma pergunta Gonçalo, até onde deverá ir a privacidade e liberdade de quem procura informações na rede?

2 comentários:

Gonçalo Capitão disse...

Primeira resposta ao teu texto:
Creio que estás com uma ideia um pouco ingénua dos regimes totalitários. O facto de, no Ocidente, discutires as cedências do Google ou de Rupert Murdoch ao regime maoísta (embora na versão "red chic"), não significa, nem por sombras, que o debate ocorra lá, uma vez que, provavelmente, nem conseguem ver o debate que fazemos.
Ademais, estes regimes são sábios: a China aproveitou um incêndio num cibercafé, para fechar todos os cibercafés "ilegais"; a Malásia, embora invista muito num "super corredor de Internet" tem todo o zelo para que se não polua o espírito islâmico e em Cuba o acesso só se faz por via de servidores públicos; ou seja, para Ricardo entendedor...

Quanto aos limites à privacidade, preconizo os óbvios, começando pelos direitos humanos. Não confundo é pornografia infantil, que censuro e entendo que deve ser denunciada, com a entrega de opositores políticos às mãos de regimes repressivos.

Diz lá que não concordas, "Mamede"... :)

Ricardo Jesus Cândido disse...

É impossível não concordar, quando enveredas pelo campo dos direitos humanos, “Mymen”.

Não vou entrar pelo debate do quanto sou contra os regimes totalitários, que não se sujeitam a controlos democráticos e que não respeitam os direitos, liberdades e garantias essenciais.

A verdade é que falando do Google, estamos a falar de uma empresa global, cujo imperativo primordial é o lucro, que opera num mercado hipercompetitivo, que se quiser disponibilizar uma oferta global não poderá ficar fora do mercado chinês, que convém não esquecer detém cerca de 38% da população mundial, com indicadores macroeconómicos de colocar os olhos em bico a qualquer “google”, caminhando a passos largos no sentido de se tornar na maior economia mundial (convém aqui não esquecer também o boom da Índia).

É verdade que a não resistência às condições draconianas do governo chinês não ficou nada bem, mas convém não esquecer que a Yahoo e a própria Microsoft já cederam ao regime, e segundo li há uns tempos, informações passadas pelo Yahoo ao governo chinês já levaram à prisão dissidentes políticos.

Gonçalo, os dilemas morais são complicados, muitas multinacionais podem dormir com a consciência nada tranquila, mas a verdade, como compreenderás, é que só entra no jogo quem aceitar as regras, e não há ninguém que queira ficar de fora.

Tudo de acordo com o teu primeiro comentário, à excepção do primeiro parágrafo. O post e este comentário, apenas tentam, na medida do possível, compreender a opção de ceder à censura imposta pelo regime comunista, o que convenhamos, não é uma tarefa nada fácil, ingrata até, mas a verdade também é que ninguém me mandou meter nisto.
Agora, há que aguentar…