quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Remodelação um acto de boa gestão


Tal como na economia em que as medidas de crescimento se devem tomar em períodos de recessão, também uma remodelação governamental, deve ser empreendida quando menos se espera e menos se fala dela.
Pois bem, mas a primeira pergunta é: Faz sentido uma remodelação nesta altura?
E as primeiras dúvidas surgem, será que não devia ser depois do veredicto do tribunal constitucional, mas vamos por partes.

Tenho a certeza de que seja ela qual for, refiro-me à decisão do tribunal constitucional, o governo tem alternativas já estudadas e prontas a implementar, pelo menos é o que nós esperamos, portanto, este não é de certeza um obstáculo.
Do outro lado, temos argumentos muito mais sólidos, tais como, uma execução orçamental que poderá ficar aquém do esperado, estamos a meio do mandato, portanto é normal alguns ajustes ao nível político, digo Ministerial. Parece-me consensual, que agora está na altura de medidas mais do lado do crescimento e emprego do que do lado da austeridade, porque o profundo combate ao desperdício ainda não foi bem-sucedido e por fim, porque António José Seguro e o PS andam à deriva, como se de um náufrago se tratasse.

É costume dizer, “que aquilo que nos trouxe até aqui, não nos levará mais longe”, mesmo em períodos de normal funcionamento das instituições democráticas, as rupturas também podem acontecer, como se de ciclos se tratassem, mesmo sem cairmos no desvario já antes ensaiado, de que os tempos difíceis já passaram.
Esqueçamos por momentos o plano de reduzir o défice do Estado em 4.000 milhões de euros e focalizemos-mos na economia real. A economia é acima de tudo uma gestão de expectativas e tendo em conta as últimas projecções pouco animadoras, duvido que haja alguém de bom senso que desate a investir e a criar emprego e é por isso, que tanto uma remodelação como alguma inflexão na trajectória são aconselháveis.

Não me atrevo a indicar quais seriam os Ministros remodeláveis, não só, porque ao contrário de alguns comentadores que falam sobre o que sabem e o que não sabem, esta remodelação deveria ter por base critérios muito objectivos para dar resposta a desafios muito concretos.
Eventualmente alguns dos Ministros remodeláveis até desempenharam o cargo de uma forma aceitável ou até exemplar, mas porque tinham uma missão quando tomaram posse, que hoje já não é a mesma e por isso deverão ser os visados. Repito, quando defenso uma inflexão no rumo, não quero dizer que os tempos difíceis já passaram, que o compromisso com a troika é para ser esquecido, ou até, que a consolidação orçamental está concluída, digo sim, que temos que tomar medidas para impulsionar a actividade económica, para dotar o mercado de alguma confiança a médio prazo, no fim para dar uma nova esperança aos Portugueses.

Que critérios deveriam então, estar na base da remodelação?
Atrevo-me assim a enumerar alguns:
- Ministros/Ministérios com rendimento aquém do esperado
- Ministros polémicos, não por terem tomado medidas impopulares e necessárias, mas porque carregam consigo uma carga negativa que contagia o governo todo
- Porque já cumpriram a missão que lhes foi pedida, dão sinais de cansaço e poucas soluções para o futuro
- Finalmente, porque têm que acreditar verdadeiramente que a solução passa por um novo rumo

Próximo passo, perfil dos escolhidos:
Credível, intocável, com peso político para tomar decisões difíceis, tenha ideias e se sinta identificado com a nova estratégia, com um novo rumo.

É escusado dizer, que aqueles que mais contribuíram para o descrédito do governo, não deverão ter qualquer influência na escolha dos novos responsáveis políticos, ou então teremos perdido mais uma oportunidade. Idealmente, a banca, a maçonaria, a opus-dei e outros grupos de interesse, não deverão também interferir nas escolhas, mas talvez ouvisse sigilosamente, o líder da UGT, da CIP, no fundo os principais players da concertação social. Agora sem Cândida Almeida, talvez seja possível começar a ter diálogos sigilosos.
Finalmente, como se comportaria a oposição… tal como tenho vindo a fazer, apenas abordarei a questão PS e António José Seguro porque o resto não me merece qualquer comentário.
AJS vive tempos difíceis, não só porque foi obrigado a reabilitar toda a tralha Socratista, mas porque da câmara Municipal de Lisboa chegou a principal oposição, António Costa. As reacções têm sido diversas, mas todas elas com um denominador comum, inócuas e básicas do ponto de vista do marketing político.

Sabemos à partida, que num cenário de remodelação, AJS dirá com certeza que o 1º Ministro é que devia ser o remodelado, que o Presidente Cavaco Silva devia convocar eleições antecipadas, bla, bla, bla…, a conversa do costume e que ontem João César das Neves tão bem descreveu quando se referiu a quem se opõe ao rumo seguido até agora. Dizia ele, que apesar dos enormes sacrifícios que tocam directamente muitas famílias Portuguesas, que o desbaratar dos recursos dos contribuintes foi de tal dimensão e durante tanto tempo, que está admirado como é que a factura não é muito mais elevada. Dizia também, que até hoje não viu, não leu e não ouviu nenhuma proposta alternativa credível, eu também não, apenas ouvi afirmações do tipo, "todos os caminhos menos este", ora isto é uma mão cheia de nada.
A liderança de AJS é por isso instável, a ausência de ideais credíveis e exequíveis são uma constante e a pressão interna condiciona a racionalidade do Secretário-Geral, levando-o a cometer disparates constantemente. Contudo e como é costume no nosso futebolês, quando uma equipa joga mal, não faltam treinadores de bancada a sugerir alterações de jogadores e de táctica, algumas, verdadeiras aberrações e outras com algum sentido mas pouco sólidas.

Há que reconhecer que nem tudo tem funcionado bem no governo e tal como nas empresas quando se cai num ciclo vicioso, há que tomar medidas, que normalmente passam por mudanças ao nível dos decisores. Neste caso, a remodelação para além de um acto de boa gestão, representaria a mudança para um novo ciclo, uma nova esperança para muitos Portugueses e quiçá o sinal que muitos empreendedores e investidores aguardam há tanto tempo.

1 comentário:

Gonçalo Capitão disse...

Excelente análise, Pedro!