quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ditadura do bota abaixo

Deixem-me ser do contra, num País em que só é bem aceite quem é contra este governo, contra a troika e contra a Alemanha da Sra. Merkel.
 
Com este início, já todos perceberam que não vou alinhar na crítica fácil, populista, seguidista e bem vista pelos principais comentadores, políticos e interesses na comunicação social. Esta atitude generalizada da parte de quem deveria ter um sentido crítico mais apurado, mais refinado e mais evoluído, tem-me deixado desiludido e discrente relativamente a certas personalidades da nossa vida política, que deveriam ter um sentido patriótico muito mais apurado e consolidado.
 
De repente consensualizou-se na vida política Portuguesa, a noção de que dizer mal, atacar e destruir, é politicamente correcto e mais grave ainda, esta classe de derrotistas está convencida de que o futuro lhes dará razão. E se não der?
 
Não sei se sou uma ilha em Portugal, mas há uns anos no ambito das funções que ocupo e a proposito de um exercicio sobre quadrantes cerebrais, o meu perfil encaixou em algo entre Germânico e o Latino, no fundo concluia o exercício que eu era racional, factual, quantitativo e algo criativo. Muitos acharão que é impossivel conciliar na mesma pessoa, atributos como racionalidade e criatividade, mas se imaginarmos um quadrado dividido em quatro partes e em que cada um dos cantos tem atributos e se no final desse exercício, ficarmos situados entre quadrantes é sinal de que temos atributos de um e de outro quadrante.
 
Tudo isto para dizer que sou racional e lido melhor com factos do que com meras intenções ou suposições e por isso, custa-me ouvir todos os dias na comunicação social, que há um caminho alternativo, só identificável e perceptível pelos iluminados e que só o governo é que não vê qual é. Pior ainda, é esta elite de iluminados, influenciar negativa e erradamente um franja da população, criativa, preguisosa e laxista, que acha que o estado social é uma obra divina, imutável, sustentável e eterna.
 
Estamos pois perante factos incontornáveis tais como, um País praticamente falido, com uma dívida insustentável, um desemprego alarmante, um enorme desiquilíbrio nas contas públicas e ausência do único factor que poderia inverter todo este descalabro, o crescimento económico.
 
Ora, não é preciso ser muito inteligente para perceber que o crescimento económico não se decreta, não se compra e prior ainda, não pode ser um mero processo de intenções. Muitos recordar-se-ão, que José Socrates ganhou umas eleições aumentando os funcionários públicos em 2,9%, quando o País crescia 0,5% e ainda prometendo a criação de 150.000 empregos. Pois é, quem pensava que injectando dinheiro dos nossos impostos e outro tanto emprestado pelos nossos actuais credores seria a solução, enganou-se e mais grave ainda, enganou o Povo Português, que hoje tem que devolver os aumentos fictícios que recebeu, mais os investimentos e negociatas ao longo destes anos e tudo isto, acrescido de juros.
 
Qual é então o caminho? É aqui que divirjo da maioria dos políticos e comentadores reputadados, quando digo que não há um caminho alternativo. Contudo, creio que simultaneamente e noutro palco, devemos pressionar a UE e os nossos parcerios internacionais a disponibilizar fundos europeus do tipo, QREN, PRODER, FEDER, etc..., insentando nesta fase, ou durante um determinado periodo, o Estado Português da comparticipação Nacional. Estes fundos deveriam ter finalidades muito específicas, abrangendo sectores em que somos deficitários, reconstruindo outros com vista à exportação e se possivel e ao mesmo tempo, proibindo a utilização destes fundos para à construção de auto-estradas, aeroportos e pontes, porque a tentação é grande. Esta no fundo, seria a grande medida para implusionar o crescimento económico e a criação de emprego.
 
Contudo, esta medida não chega, faltam muitas outras relacionadas com, a melhoria da justiça, com a eliminação da burocracia e do desperdício ao nível do Estado central e Autarquias.
 
Finalmente, o tema quente deste outono, “que funções queremos que o Estado Português assegure aos seus cidadãos”.
 
Novamente e tendo por base alguma objectividade, acredito que deveremos em primeiro lugar, atingir um consenso nacional quanto ao montante máximo que os nossos impostos suportam e que devem ser alocados a estas funções e só a depois definir quais as áreas ou funções que o Estado presta e em que os Portugueses estão mais disponíveis a abdicar. Neste aspecto não há volta a dar e falamos sempre do custo da saúde, educação, prestações sociais, segurança interna e externa, democracia parlamentar, instituições, etc...
 
Sem querer passar um cheque em branco e acreditando que o corte mínimo indispensável para atingirmos o equilibrio nas contas públicas, é de 4.000 milhões de euros, então sem demoras, sem demagogia e sem complexos, devemos iniciar esta caminhada longa e penosa, evitando assim rupturas muito mais dolorosas e forçadas, como aquela a que que fomos obrigados há um ano e meio, que culminou com a assinatura do famoso memorando de entendimento.
 
O risco de nada fazer ou de fingir que se faz não fixando objectivos, é o pior erro, o pior caminho e a hipoteca definitiva do nosso futuro.
 
Convenhamos que os aumentos de impostos a que já fomos sujeitos, aliados aos cortes já efecuados na despesa e aos que se avizinham, são o ingrediente ideal para a instalação da ditadura do bota abaixo, pois no fim não haverá ninguém que consiga passar incólume desta situação e o egoismo imperará sobre o interesse Nacional. A prova disso, é que enquanto os cortes nos salários se limitaram à função pública, comentadores, políticos e outros grupos de interesse, foram doseando as suas críticas, mas quando estes cortes se tornaram mais abrangentes, pedindo a cada um de nós um sacrifício adicional, aí instalou-se definitivamente a ditadura do bota abaixo.

8 comentários:

freitas pereira disse...

...o equilíbrio nas contas públicas, é de 4.0000 milhões de euros, então...

Pode clarificar este numero por favor ? Obrigado. Freitas Pereira

Pedro Moutinho Tavares disse...

Obrigado, já está corrigido para 4.000 milhões

freitas pereira disse...

Artigo muito interessante, Caro Companheiro do Lodo. No fim da leitura, entretanto, parece-me que a sua análise se concentra sobre a situação portuguesa. Ora o problema é global, é europeu, mesmo se Portugal se debate contra certos problemas intrinsecamente portugueses, que o meu Amigo conhece melhor que eu.

Na base, existe uma degradação grave da economia, e sem ir buscar as causas profundas, não temos dúvidas que ela é devida aos planos de austeridade generalizados nos países europeus , que provocam uma baixa consequente do consumo, e os receios sobre o futuro incerto do euro que provocam uma queda dos investimentos.

Sem consumo e sem investimentos, como é possível pagar dívidas? Como é possível criar empregos? E não são as exportações que vieram ao socorro da economia portuguesa.
Li recentemente que a balança comercial portuguesa melhorou um pouco, não porque exportou mais, mas porque importou menos ! Igualmente nos outros países europeus, excepto na Alemanha. Mas mesmo esta começa a sentir o efeito da degradação nos outros países europeus, que são os seus clientes, e sobretudo a França.

Tem razão, quando diz que o crescimento não se decreta. Mas uma politica de crescimento é possível. Na realidade, o tal esforço que preconiza a marchas forçadas, para reduzir a dívida, só peca pelo excesso de austeridade imposta às economias ocidentais, o que quer dizer que a austeridade é necessária, mas não só: O crescimento deve ir de par.

A própria troika insiste agora para que o crescimento faça parte da politica económica da Europa. Mesmo se estamos de acordo que o endividamento do Estado como dos particulares é inaceitável a partir dum certo nível.

O crescimento não tem nada de extravagante nem de ideológico. Vê-se bem que o crescimento é a chave do consumo: sem ele, tudo acaba por ser impossível : a divida aumenta e o desemprego também. A Grécia , que foi obrigada a aplicar três ou quatro planos sucessivos de austeridade, viu a dívida passar de 5,4 a 12% ! O resultado está à vista: recessão, desemprego e empobrecimento máximo. Portugal segue o mesmo caminho! E quando os portugueses constatarem que os sacrifícios não serviram para nada, a reacção pode ser brutal.

Quem não compreende que o poder de compra e o consumo estão ligados, e que os dois permitem de produzir e vender os produtos e fazer funcionar a economia? Quem não compreende que toda medida que ataque o poder de compra, faz baixar mesmo as receitas fiscais? Os salários são uma fonte de receita fiscal, através dos impostos.
Sem consumo, como é possível investir. Ora os investimentos produtivos são também uma fonte de receita fiscal.

Paralelamente, e ai tem razão, o Estado deve seguir uma cura de emagrecimento. Escolhendo cuidadosamente o sector: a saúde, a educação e o investimento no futuro, por exemplo.
A corrupção e os abusos de toda a espécie devem ser condenados brutalmente. Ao mesmo tempo que é preciso cuidar dos mais desfavorecidos que sofrem muito mais da crise que os outros.

Em conclusão, o debate sobre o crescimento ou a austeridade vai ser uma batalha onde o futuro da Europa se jogará. Tenho a impressão que não se pode continuar no caminho da austeridade ainda mais tempo. E se uma politica mais solidária, falta de unidade política, não se afirma rapidamente, a própria França arrisca-se a cair nas mesmas dificuldades que os países do sul .E então o problema seria duma outra dimensão.

Será necessário, portanto, evitar de alargar o fosso entre as necessidades da UE e o que as sociedades europeias estão prontas a aceitar.

Porque vê-se bem, que o risco de depressão económica à escala europeia é real, e a sua desintegração política faria saltar os seus fundamentos democráticos.


Freitas Pereira

freitas pereira disse...

Ler por favor : "Escolhendo cuidadosamente o sector, protegendo a saúde, a educação e o investimento no futuro", por exemplo.
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Pedro Moutinho Tavares disse...

Concordo, mas a questão é muito objectiva, devemos pressionar a Europa, o FMI e os nossos parceiros internacionais, na busca de soluções que levem ao crescimento económico, mas enquanto isto não passar de um mero processo de intenções, temos que cumprir o que acordámos e não podemos dizer ao Povo que há outra alternativa. Ou então dizemos que há outra alternativa mas que infelizmente não depende de nós. Não podemos é mentir ao Povo, criando falsas esperanças

freitas pereira disse...

Receio que a maior mentira e talvez a mais perigosa para o futuro, consiste em fazer crer aos Portugueses hoje, que o imenso sacrifício que lhes é exigido não tenha servido para nada, e amanha se concretize numa descida aos infernos, devido à falência da politica actual. Hoje mesmo, Christine Lagarde , a directora do FMI, não esconde essa eventualidade. Sustentável ou não sustentável, tal é o dilema.

freitas pereira disse...

Desculpe, Caro Sr. Martinho Tavares voltar ao mesmo tema. Datado de hoje:

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" A recessão europeia é a prova da ineficácia da austeridade, afirmou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol.

"Remeto-me às provas. Estamos muito próximo de uma recessão que prejudicará todos", disse José Manuel García-Margallo, na apresentação, em Cádis, de um relatório sobre as perspectivas económicas para a América Latina.

Margallo afirmou que a política actualmente aplicada na zona euro contrasta com o modelo anglo-saxónico que compensa a queda da procura interna com uma política orçamental "mais alegre", uma política monetária mais flexível e uma intervenção decidida no mercado de dívida.

Reparte-se assim o sacrifício entre devedores e credores em vez de aplicar apenas a política de austeridade total que "parece inicialmente favorecer os países credores, mas que acaba por prejudicar", disse.

"Estamos numa crise que dura há demasiado tempo e cujo final não descortinamos", considerou García-Margallo.

Para o chefe da diplomacia espanhola "a crise de Europa não é económica, é uma crise política", porque os investidores não acreditam que o projecto europeu continue".

Continua a ter razao : O que é preciso é passar agora aos actos!

Pedro Moutinho Tavares disse...

Continuo a dizer, que temos que conciliar austeridade com crescimento económico, mas não pode ser um processo de intenções por parte do FMI e de outras instâncias. Quando às políticas Anglo-Saxonicas, não podemos quer ter só essa parte mas sim tudo, a flexibilidade no emprego, diminuição das regalias sociais, etc, etc. Por outro lado, a moeda única é o grande travão, para discriminar positivamente as várias economias, uma vez que a dívida pública, os défices, etc..., são diferentes de País para País