sábado, 1 de setembro de 2012

O Apartheid Económico na África do Sul

"Com uma infinda tristeza choro convosco a perda de tantos colegas", assim se exprimiu o presidente da firma Lonmin Pic, sediada em Londres, evocando o assassinato de 34 mineiros grevistas da mina de platina de Marikana. Lágrimas de crocodilo, na realidade! 

Sida, tuberculose e outras doenças pulmonares profissionais, salários de miséria, etc., e a polícia atira nas costas! E os patrões que choram! Os mineiros faziam greve não somente para reclamar melhores salários mas, também, contra um sistema de exploração insuportável. 

Lonmin, que jura agir com honestidade, transparência e respeito, utiliza uma grande parte da mão de obra de subcontratantes das comunidades afastadas da mina, exercendo chantagem contra os trabalhadores, excitando uns contra os outros. Aliás, o trabalho precário seria a causa de numerosos acidentes de trabalho nesta mina, não esquecendo as condições sanitárias deploráveis e os estragos ambientais provocados pelos resíduos da mina.

A água é confiscada aos habitantes, que só podem utilizá-la durante a noite e ainda por cima, poluída. Assim, quando 3 000 mineiros decidem de bloquear a mina, fazendo greve, os tribunais declaram-na ilegal, e lançam um ultimato aos grevistas: ou voltar ao trabalho ou despedimento. Ultimato final para 34, que foram assassinados e 78 feridos, dos quais muitos nas costas! Quatro dias mais tarde, os 28 000 trabalhadores voltaram ao trabalho. A ordem tinha sido restabelecida. Tudo é calmo! Os mortos foram enterrados. 

A Lonmin, a Impala Platinum Holding e a Anglo American Platinum, três multinacionais proprietárias da mina, estão satisfeitas!

O cenário estando assim plantado, a mina de Marikana evoca exactamente o quê? 80% da produção mundial de platina, utilizada sobretudo na produção de tubos de escape catalíticos para a industria automóvel. 

O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, ordenou uma comissão de inquérito! O resultado é previsível: os mandantes são de peso e nada mudará nas condições de trabalho dos mineiros de Marikana.

Por curiosidade, dei uma vista de olhos pelo "site" da Lonmin: a galeria das fotos dos colaboradores dirigentes,( com os olhos ainda enxutos!) são todos (excepto dois) bem brancos e "so british"!

 Quando vi na televisão a polícia negra e branca da África do Sul, abater com armas automáticas estes pobres "colegas" do presidente da Lonmin, pensei que se o apartheid politico foi extirpado pela luta longa e dura da ANC, o apartheid económico persiste. Razão pela qual a juventude da ANC, desafiando as instâncias superiores do partido, pede a nacionalização das minas. 

Claro que este problema vai muito mais longe que a África do Sul. Ele é emblemático dum apartheid global, a través do qual as poderosas elites económicas e financeiras se apoderam da riqueza produzida com o trabalho e os recursos do mundo inteiro, excluindo a larga maioria do planeta dos benefícios respectivos. 

E quando alguém se levanta contra um tal poder, as armas apontam sob o manto da legalidade!

Assim vai o mundo, e tendo lido há dias que os Americanos, protegidos pela lei HR 3422 do Congresso, vão utilizar o material bélico retirado do Afeganistão e do Iraque para o utilizar na caça aos Mexicanos que procuram entrar nos Estados Unidos, fugindo às "maquilladoras" para obterem salários mais elevados, o muro do apartheid do Rio Grande verá cada vez mais de corpos estendidos no solo a alguns metros do Eldorado! 

Como se chamava aquela ceifeira do Alentejo, assassinada pela GNR ,( às ordens dum sistema nefasto), abatida por causa de greve? 

Freitas Pereira

2 comentários:

Gonçalo Capitão disse...

Ilustre Amigo

Este País tem, de facto, coisas que não estão certas. Imagine que li um jornal onde se anunciam abortos a partir do equivalente a 7€ (imagine as condições...)!...

Peço apenas que modere o seu entusiasmo sobre o ANC e sobre a sua juventude. As minhas funções impedem-me de dizer mais, para já. Porém, um dia voltaremos ao tema.

Um abraço

Defreitas disse...

Caro Amigo
Peço desculpa, mas quando escrevi o meu "post" nao pensei na sua posiçao particular. Compreendo e espero me perdoe a "gaffe". Um abraço.

Freitas Pereira