quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A Lei que compromete

Recentemente, o gabinete de estatísticas da União Europeia  (UE) veio dizer que a dívida pública portuguesa é a terceira mais elevada da UE em termos percentuais, apenas  superada pela Grécia e a Itália. Ou seja, o país está endividado até à medula dos ossos (vulgo tutano).

Endividaram-se as gerações futuras com a justificação que estas também deveriam pagar por investimentos que viessem a usufruir, aplicando o chamado princípio da equidade intergeracional, que poderá ser utilizado como case study da má gestão da coisa pública.
Face ao descontrolo e à falta de “cautela” na gestão das finanças públicas tornou-se imperativo travar a fundo, algo que este Governo fez com a chamada Lei dos Compromissos e Pagamentos em Atraso (LCPA), trazendo assim um conjunto de desafios a toda a administração pública.

Enquadrando a Lei num ângulo mais local, o das autarquias, a revolução será enorme e vai obrigar a práticas diferentes em muitos concelhos, a começar no empolamento das receitas ou as falsas expetativas orçamentais.
Os orçamentos tenderão a caminhar para a chamada “base zero”, devendo assegurar excedentes orçamentais no pior cenário e ser capaz de aproveitar as oportunidades que os melhores cenários poderão proporcionar.

Vai obrigar a escolhas fundamentadas. Haverá o chamado custo de oportunidade, que é o que acontece a quem tem apenas 20€ e quer ir jantar fora e descer o rio mondego de canoa. Terá de escolher porque os 20€ não darão para fazer as duas coisas. Quanto ao QREN, terão que ter uma visão além das taxas de comparticipação e analisar de forma cuidadosa a real necessidade dos investimentos. A despesa vai ter de diminuir.
Há naturalmente quem concorde e o seu inverso. Aparte disso, convém perceber que esta Lei não compromete nada, desde as festas da cidade de Penacova como noticiado num jornal local, até a aquisição de X ou o subsídio a Y.

O que compromete, isso sim, é a falta de dinheiro. Aliás, foi precisamente a falta de dinheiro que esteve na origem desta Lei.

2 comentários:

Defreitas disse...

“Endividaram-se as gerações futuras com a justificação que estas também deveriam pagar por investimentos que viessem a usufruir, aplicando o chamado princípio da equidade intergeracional,” assim escreve .

No dia em que se verificar onde foram parar as somas de dinheiro comunitário esbanjado em Portugal, os beneficiários reais deste maná, ver-se-à que não são os pobres pensionistas ou mesmo os assalariados pagos 400 ou 500 euros por mês, que levaram Portugal para o abismo.

Na Grécia, foi preciso o pais tocar no fundo, para se descobrir que os armadores mais ricos do mundo e a igreja ortodoxa , maior proprietária do pais, não pagavam impostos!

Claro que os pequenos artistas do IVA também ajudaram um pouco, mas os milhares de milhões que desapareceram não foram os últimos que os desviaram. Esse dinheiro está em Zurique ou Lugano! E o dinheiro português ?

Pedro Moutinho Tavares disse...

Ricardo a vida é feita de opções, mas infelizmente estes gestores de meia tijela não aplicam esta máxima à coisa pública e no fim pagamos todos. Espero como tu, que os orçamentos base zero venham a ser uma realidade e que os obriguem a tomar opções