quarta-feira, 16 de maio de 2012

Carta a Ricardo

Meu Caro Amigo:

Espero que me perdoes a ousadia deste formato, mas foi a forma mais pessoal que arranjei de falar desse momento épico que vamos viver no Jamor – a maioria de nós fora do relvado e tu lá dentro, com o que julgo ser uma subida honra de representar a Académica numa final da Taça.

Antes de mais, deixa-me aproveitar estas linhas para dar a mão à palmatória, numa questão que, por ser directiva, sei que está fora do teu âmbito opinativo: se fui dos que critiquei a (tradicional) teimosia do nosso Presidente, sou o primeiro a dar a mão à palmatória, reconhecendo que – apesar dos riscos, que me pareceram excessivos – tudo acabou bem na luta pela manutenção. Aliás, acabou mais do que bem! Esta de irmos às competições europeias é um pacote de cerejas inteirinho, em cima do bolo da permanência na I Liga.

Falando do jogo, eu que sou pródigo em palavras ditas e escritas, sinto-me analfabeto quando toca a explicar o que sinto por ir assistir ao jogo que, desde pequeno (disse-o e escrevi-o bastas vezes), sempre quis ver a Briosa jogar!

Lembro-me das vezes que era levado pelo vizinho de cima, Dr. Manuel Cunha (que já não poderá partilhar connosco esta ocasião), a ver o então Clube Académico de Coimbra (mercê da idiota decisão da “esquerdalha” e anarcas que, durante uns tempos, se apoderaram da A.A.C., casa que deveria ser de todos) em Águeda, na Guarda e por aí fora – hábito que retive, ora à boleia (quando estudante), ora no meu carro e com amigos, depois.

Recordo com saudade as “batalhas” com o célebre União de Coimbra…

Foi também por essa altura que aprendi as histórias sobre as finais históricas, sobre os jogos memoráveis, sobre os jogadores inesquecíveis, sobre as capas negras, sobre os estudantes… Enfim, sobre a imensa Académica e sobre a sua relação íntima com Coimbra e a Universidade!

E quando comecei a ir sozinho aos jogos – ora entrava de graça, ora me esgueirava entre as largas grades (na verdade, eu é que era magro, nessa altura) do velho Municipal – ficou-me na memória o “puxão de orelhas” da nossa querida Carmo por ter estado uns tempos sem pagar quotas (mal sabia ela que eu ia aos jogos na mesma…), tendo-me dito que, à segunda, perderia o número de sócio… Nem sei se tinha 16 anos, mas ainda me lembro.

Por isso, caro Ricardo, aproveitando para te saudar pelas tuas magníficas e providenciais exibições dos últimos tempos e sendo que (mantendo-se o critério e a prudência) será provável que estejas entre os nossos postes, ouso pedir-te o possível e o impossível… Quando a bola for alta, sê maior do que eles! Quando ela for rápida, supera a velocidade dos felinos! Quando for longe, cresce ainda mais e dá-lhe uma palmada! E, se tivermos que ir ao desempate por grandes penalidades, conquista o teu lugar na história! Qual Ricardo I, de Inglaterra, qual quê! Tu serás o verdadeiro “Ricardo Coração de Leão” e os outros serão felinos esverdeados!

Depois, o Valente, o Marinho, o Édinho ou até tu que marquem com o pé, com a cabeça, com as costelas, com o que lhes apetecer! Está na hora de trazer a Taça de regresso a casa!!!

Aceita um abraço do teu amigo grato, Gonçalo Capitão.

Sem comentários: