domingo, 13 de maio de 2012

Impunidade Insolente

O mundo inteiro acompanha com uma profunda tristeza e receio (porque pode acontecer a outros, não é assim?) a descida nos abismos da pátria da Democracia, a Grécia, onde a classe política mais corrompida da Europa deixou , durante anos, apodrecer uma situação previsível de bancarrota, quando as estruturas do Estado são inexistentes ou inoperantes, quanto mais não seja para recuperar os impostos!

Mas não é só a Grécia. O mundo conhece a pior crise desde a grande depressão de 1929. A crise provocou dezenas de milhões de desempregados nos Estados Unidos, na Europa e além. A enorme geração de "baby boomers" nos Estados Unidos, proximos da reforma, viu com estupefacção os seus bens imóveis desaparecer em fumo com a derrocada da “bolha imobiliária”. 

Seria difícil de imaginar um desastre económico pior que este. As crises precedentes, como a inflação persistente dos anos 70, parecem bem modestas comparadas à tempestade que varreu a economia mundial.  

Nada de novo, portanto. As pessoas não têm necessidade dum economista para lhes explicar que os tempos são duros ! Entretanto, o que as pessoas não sabem talvez, é que aqueles que provocaram este desastre ainda continuam no comando. Mais precisamente, não houve praticamente nenhuma mudança no pessoal e nenhum reconhecimento dos erros cometidos pelos bancos centrais cuja incompetência provocaram a crise! 

Incrivelmente, este bando de incompetentes ainda pretende deter uma infalibilidade papal e põe os governos e a opinião publica de calças na mão, atemorizada diante do que lhes pode acontecer se vierem a ser controlados de maneira mais estrita. 

Imaginemos Passos Coelho substituído por um “técnico” da finança nomeado pela “Troica”! Como na Itália e na Grécia. 

Claro que eles já ditam as políticas aos governos democraticamente eleitos. São todas as mesmas, porque os objectivos são os mesmos: diminuir as reformas, reduzir o financiamento publico da saude, enfraquecer os sindicatos e impor aos trabalhadores diminuições de salários. 

Mas eu acho, que visto a amplitude dos fracassos desta gente, é realmente incrível que os dirigentes dos bancos centrais ainda tenham o desplante de se mostrarem em publico. Eles têm sorte de ainda ter um emprego – e muito bem pago – o que mais é! (Muitos empregados do FMI podem ir para a reforma aos 50 anos, com uma reforma de 6 dígitos). Os trabalhadores ordinários teriam sido licenciados se tivessem feito tantas asneiras. 

Porque, que diabo, em que é que pensavam quando viram nos USA e na Espanha os preços do imobiliário subir em espiral sem razão? Criam que esta bolha ia crescer indefinidamente? Criam que este milhares de milhões iam simplesmente desaparecer sem impacto na economia?

 E pior ainda: que pensar destes dirigentes dos bancos centrais que permitiram que o Euro fosse imposto a um conjunto heteróclito de países que não tinham grande coisa em comum e sem organismo de controlo governamental? Pensavam que os salários e os preços iam evoluir da mesma maneira na Grécia e na Alemanha? ‘(Quando escrevo Grécia penso também no nosso país!).

No caso contrário, qual mecanismo de ajustamento tinham eles previsto para ligar uma mesma divisa a economias assim tão diferentes? Eliminar as industrias de base e abrir o pais à concorrência sem pára-quedas? 

Pois é, agora, vários dirigentes de bancos centrais e o FMI afirmam que sabiam que o Euro, desde a sua criação, era uma má ideia! Mas em 1998 ainda não impunham directivas aos governos eleitos , enquanto que agora reclamam o desmantelamento do Estado previdência!

Em conclusão, porque é que estes “especialistas” continuam à cabeça das instituições financeiras e porque é que ainda se lhes concede um crédito qualquer?

Se em teoria económica se diz que os trabalhadores são responsáveis do trabalho que executam e que isto é importante para a qualidade, porque é que estes altos dirigentes podem falhar tão lamentavelmente e continuam a receber chorudos salários no fim do mês como se nada se tivesse passado, em vez de serem postos na rua ? Porque sabemos que na próxima vez farao pior! 

 Freitas Pereira

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