segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A nova Europa

A onda de choque financeiro que assolou a Europa em 2008 transformou-se num verdadeiro tsunami que ameaça varrer todo o sistema do Euro.. E ainda não vimos tudo!

De facto, os problemas actuais do Euro não são nada mais do que uma das numerosas variantes dos problemas de soberania. Porque, quando os dirigentes irresponsáveis cedem a soberania inteira ou parcial dum país – seja ela monetária, política, financeira, judiciária ou militar – seria melhor prestarem atenção ao que fazem e às implicações duma tal decisão, a médio e longo prazo.

Ceder a soberania nacional significa que alguém doutro, algures, tomará as decisões baseadas nos interesses doutras pessoas. Enquanto os interesses de todos coincidem, tudo está bem. Mas, desde que os interesses das diferentes partes divergem, segue-se imediatamente uma luta pelo poder. E as lutas pelo poder têm uma coisa em comum: o mais fraco perde.

Assistimos hoje a uma tremenda luta pelo poder na zona Euro. Quem vai ganhar? Quem vai impor novas políticas – a Alemanha ou a Grécia? a França ou Portugal? a Inglaterra ou a Espanha? a Alemanha ou a Itália?

Os grandes eixos deste novo tratado europeu baptizado “acordo intergovernamental”, em que a Europa dos 27, se transforma na Europa dos 17 da zona Euro, mais 9 outros países, são uma verdadeira declaração de guerra social contra os povos.

O acordo explica que é preciso sair da crise comprimindo exclusivamente e ainda mais os orçamentos públicos. Os povos vão pagar mas não os especuladores. Indo sempre no sentido da submissão aos mercados financeiros, este acordo prevê que as políticas orçamentais sejam supervisionadas pela instituição de justiça europeia, sendo as penalidades automáticas aplicadas por toda e qualquer ultrapassagem do limite fixado, actualmente de 3% do PIB.

As coisas são claras, a Europa não é nada mais que uma instituição ao serviço da finança e dos mercados. Os serviços públicos, os assalariados, e a população vão ser sujeitos à contribuição para salvar o sistema capitalista do naufrágio. A supressão de empregos privados, a não substituição dos funcionários que partem para a reforma, a extensão da precariedade e do desemprego, são os únicos horizontes que nos propõem os nossos governantes.

Eles querem fazer-nos crer que as dívidas soberanas são exclusivamente culpa dos povos, enquanto que os Estados salvam os bancos com milhares de milhões dos contribuintes e que estes mesmos bancos especulam em seguida sobre a dívida! Este tratado confirma a perda de soberania dos Estados ao nível orçamental e entregam-nos manietados de pés e mãos aos especuladores e aos fundos de pensões anglo saxões. Não existirá nenhum controlo democrático.

Se os Estados não são capazes de resistir à pressão da finança, a nossa liberdade acabou. Estamos à porta dum mundo totalitário inteiramente controlado pelos mercados.

Freitas Pereira

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