sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O EURO E A EUROPA

Minha esposa, que nasceu junto à fronteira alemã, expulsa com a família, pelos alemães, em 1940, para ceder o lugar à colonização alemã da Lorraine, diz-me desde há dezenas de anos: “Os Alemães nunca mudarão! Serão sempre os mesmos desde que detenham a força e o poder.” Isto é, desde que possam dominar os outros.

Trata-se agora do poder económico, porque o militar é impossível e ainda bem!

Isto vem a propósito das dificuldades nas negociações entre os dois chefes da Europa, Merkel e Sarkozy, na procura duma solução para salvar o Euro e a Europa.

O Banco Central Europeu, (BCE), desde sempre considerado como o filho legitimo da Bundesbank, está inteiramente dedicado à estabilidade monetária, custe o que custar, e não mudará de posição de um só jota! Foi o que Frau Merkel disse ao Sarkozy ontem.

Os Alemães dizem aos Europeus: os programas de recuperação ambiciosos são seguidos rapidamente de efeitos positivos sobre o crescimento” Economizem portanto e mais nada. Isto quer dizer: Ponham dinheiro de lado e as empresas investem. São estas as únicas condições para que a redução das despesas publicas possam ter, a longo prazo, efeitos largamente positivos” Tudo parece muito límpido!

Só que, o ciclo económico depende das rendas disponíveis e dos investimentos, que eles provenham do Estado ou do sector privado. Se toda a gente se põe a apertar o cinto ao mesmo tempo, a economia entra numa espiral recessionista.

Não sou economista, mas não vejo bem como nos podemos adaptar à nova situação do mundo! Como evoluir na economia real e ao mesmo tempo pagar as nossas dividas, tanto publicas que privadas? Criando novas dividas para pagar as dividas antigas? Os Alemães dizem-nos: SIM , primeiro devem pagar e economizai ao mesmo tempo, mesmo se para isso é necessário estrangular o povo.

Actualmente, todos os países ocidentais estão em crise ou para lá vão. Se todos os países equilibram os orçamentos ao mesmo tempo, todos se encontrarão na mesma situação: aumento das despesas causadas pelo desemprego, baixa das rendas e investimentos. A crise total, enfim.

E porque é que fazemos tudo isso. Não para proceder a reestruturações, mas porque pessoas como Merkel descobriram que o nosso endividamento era demasiado elevado e que devemos reduzi-lo. Ora, reduzir a divida duma tal maneira não nos leva a parte nenhuma: é a razão porque o investimento está no ponto morto.

Na realidade, as empresas só investem que se elas entrevêem benefícios potenciais ou se o Estado substitui os investidores durante a crise. Mas o Estado não deve investir, ele deve consolidar as finanças do país, assim lhe dizem as autoridades da UE.

O Banco da Inglaterra e o Banco Federal dos USA , têm , ao contrário, toda a liberdade para emprestar ao Estado e às empresas durante a crise e defender ao mesmo tempo a economia dos assaltos das agências de notação. A diferença é grande. Aqui está o processo de autodestruição que acabará por ganhar o conjunto da economia. Sem confiança, o sistema desmorona-se. Eis o que nos promete o futuro.

Freitas Pereira

1 comentário:

Gonçalo Capitão disse...

Ainda ontem, Marcelo Rebelo de Sousa arrasou Merkel na sua crítica televisiva semanal. Tenho a esperança de que o problema de míopia não seja alemão, mas apenas do actual governo e da sua chanceler.