Se há área sacrificada em tempos de crise, é a Cultura. Porque temos essa tendência de achar que, do mal o menos, sem Cultura até podemos (sobre)viver. Esquecemo-nos que cultura traz desenvolvimento e que com ele se torna mais fácil escaparmos ao manto de crise. Com a nova governação sob orientação troikiana, confesso que a extinção do Ministério causou-me alguns arrepios, mas reconheço que não havia grande alternativa. E, afinal, nada impede que uma Secretaria de Estado possa fazer um bom trabalho na área, mesmo sem grandes recursos. Porém, a julgar pelas políticas culturais recentemente anunciadas por Francisco José Viegas, o trabalho passa essencialmente por extinguir organismos e acabar com a gratuitidade dos produtos e serviços culturais. É certo que não havendo dinheiro há que rever a gestão cultural e reduzi-la ao essencial. Mas quanto ao fim dos domingos com acesso gratuito aos museus, parece-me que o efeito económico da medida é irrisório quando comparado com o impacto que vai ter na (falta de) predisposição dos portugueses para o consumo cultural. Ou seja, se já não era muita, menos vai ser. A gratuitidade dos museus um dia por semana é, aliás, uma questão de princípio: afinal pagamos impostos também para custear os gastos públicos com a Cultura e a contrapartida justa é poder usufruir dos espaços culturais com carácter gratuito pelo menos no descanso dominical. Dificilmente os museus em Portugal são auto-sustentáveis, mas não me parece que o caminho seja por aí e que medidas destas salvem a Nação. E assim somos levados a concluir que em solo luso a Cultura é, cada vez mais, um bem de luxo, o que não faz sentido. Negligenciar a Cultura é projectar-nos para o grau zero do desenvolvimento - do pessoal ao sócio-económico.
2 comentários:
Infelizmente, a Cultura é o parente pobre dos nossos governos. Falta alguém que perceba mesmo a sua importância para completar o ser humano, para tornar a sociedade mais harmoniosa e para nos fazer evoluir como Nação.
Sempre foi e não é de esperar milagres, ainda para mais em tempo de vacas magras. Porém, estava convencida que um Francisco José Viegas, ligado ao meio cultural (tal como a sua antecessora) pudesse chamar à razão os seus pares...
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