terça-feira, 15 de março de 2011

Transiberiano V – Kazan

Com franqueza, desconheço se o leitor que habitualmente me honra com a sua atenção tem interesse em crónicas de viagens. Porém, depois de muito pensar, continuo, já que me parece uma maneira de não ler sobre crises e convulsões.

Assim na rota do Transiberiano – para dizer a verdade, com um pequeno bypass à linha principal – chega-se à capital do Tataristão (dizem os entendidos assim, e não Tartaristão; da mesma maneira que dizem tátares e não tártaros), terra de gente que se notabilizou pela sua bravura, nas primeiras linhas das incursões mongóis e, depois disso, pelas dores de cabeça que sempre deram aos eslavos. Para a “malta da bola”, é ainda esta a casa do Rubin Kazan.

A primeira nota de realce vai para o efectivo multiculturalismo, que coloca muçulmanos e cristãos ortodoxos lado a lado, tal como, sem burburinho, colocou uma enorme e bela mesquita (inaugurada em 2005)


dentro das muralhas do seu Kremlin,


em harmónico convívio com a velha catedral.



Não parece, aliás, despiciendo o facto de o conjunto amuralhado ser património classificado pela UNESCO.

Não se pense, porém, que o parto foi indolor, pois, com a excepção mencionada, as mesquitas estão a Sul do canal que divide a cidade milenar, pela qual passou a força de Ivan, o Terrível e onde estudaram Tolstoy e Lenine, que, como referi há tempos, ainda dá nome popular à universidade, embora seja a única etapa do périplo onde lhe não vi estátua erigida.


Voltando às vistas, a Torre Syuyumbike (no Kremlin) tem, a mais da inclinação, a lenda, que diz ter servido de rampa de lançamento a uma jovem tátar que havia sido prometida ao Czar Ivan (a flor que não podia cheirar-se)...



Entre belas igrejas e mesquitas,


o campanário da Igreja da Teofania impressiona.



Museus também não faltam. A mais do interessante museu regional – de onde nos retiraram “à força” do bar, com medo que não tivéssemos tempo de ver tudo antes de fechar, e no qual nos sentaram, quais cachopos de escola, em frente a um ecrã com um filme sobre a História da República do Tataristão -

a maioria está dentro do Kremlin, com um pequeno sublinhado para um pólo do famoso Hermitage (um dos tais que a Ministra Pires de Lima queria trazer para Portugal, o que, com pena minha, não fez)
e para o dedicado à II Guerra Mundial (a Grande Guerra Patriótica - como lhe chamam os russos - cuja vitória se comemora no dia em que nasci...).


Em termo de fait divers é também aqui que se vê o quanto a Rússia nos leva de avanço nas matérias da reciclagem, algo que pode aferir-se na casa de banho de apoio aos museus pela disponibilidade de jornais rasgados ou para rasgar no tamanho adequado e/ou desejado…



A terminar, uma nota para uma estátua que homenageia os gatos de Kazan, famosos pelas valentes coças que davam aos ratos, o que levava a Imperatriz Elisabete a “importá-los” regularmente e dar-lhes lugar de destaque na Corte.


Em Kazan descobrimos ainda que era o ano chinês do Coelho. Premonição?...

1 comentário:

Fi ♥ disse...

Fotografias lindas espero um dia lá ir *