quarta-feira, 16 de março de 2011

Sobre a Corrupção, para reflexão...

A propósito destas palavras que o Bastonário da Ordem dos Advogados proferiu esta tarde, no âmbito da abertura do novo ano judicial, afirmando que "ao longo dos anos a corrupção alastrou a todos os níveis do aparelho de Estado", ocorreu-me uma passagem de um livro que li recentemente:

«(...) Eufórico, o ministro Prasad esboçou uma expressão erudita enquanto revelava a sua "filosofia da lei indiana". Segundo ele, uma manipulação tão óbvia era apenas possível porque a corrupção na Índia era endémica: não era a poluição do ar, era o ar.
Anos de testemunhos e de gestão de burlas tinham convencido o ministro Prasad de que, embora todos os países debaixo do Sol se debatessem com a corrupção nos seus sistemas, a Índia avançara um passo e aceitara que na verdade existia um sistema na sua corrupção. Assim que a fraude se instalava na consciência nacional, o sistema político não se movia para rectificar essa falha, mas sim para abraçar os seus ideais.» *

Por momentos deu-me ideia que podíamos ali substituir a palavra Índia por Portugal. Talvez esteja a exagerar (e o Brasil? e a Colômbia? e a Itália de Berlusconi?) mas, com excepção de meia dúzia de figuras políticas (Fernando Negrão, Teresa Morais e João Cravinho ou Vera Jardim, em diferentes espaços e tempos), não vejo ninguém realmente preocupado com o combate à corrupção, coisa que influenciaria ( e muito) o estado dos cofres do Estado. É certo que em Julho do ano passado foram aprovados alguns projectos-lei quanto a esta matéria, mas parece que ficaram na gaveta...

* «Os Flamingos Perdidos de Bombaim»,
de Siddharth Dhanvant Shanghvi, pág. 222 da 1º Edição, Civilização Editora

2 comentários:

Defreitas disse...

Nenhum pais é actualmente exempto de corrupção. Mas quando a corrupção toma proporções tais que ela risca de travar o crescimento económico e contrariar os esforços realizados para instaurar uma boa governação, ela provoca a degenerescência geral da sociedade.

Obstáculo ao desenvolvimento durável, a corrupção pode agravar eventualmente as disparidades económicas e favorecer a criminalidade organizada.

De facto, se a corrupção se desenvolve sem entrave, a democracia pode dificilmente impor-se, a liberdade e a justiça prevalecer.

A corrupção tem portanto um custo político, económico e social. E infelizmente, qualquer que seja a facção política no poder, nenhuma se ataca realmente, com ardor, a combatê-la. Porque a política e a moral não se coadunam.

.

Freitas Pereira

Dulce disse...

Caro Freitas Pereira,

uma vez mais obrigada pela seu comentário que acrescenta valor à 'discussão'. Quanto à sua última frase, eu não seria tão assertiva... acho que há quem consiga ocupar cargos públicos e manter-se fiel aos seus princípios... mas que é difícil é, dado o «assédio» de que são alvo!