O Conselho Nacional do PSD decidiu, ontem, apoiar a continuação da solidariedade do grémio laranja com o Governo, no sentido continuar a atacar os graves sintomas da crise que se abateu sobre a zona Euro e, em concreto, sobre Portugal.
A decisão parece avisada, como avisada e segura tem sido a liderança de Pedro Passos Coelho. Deste modo se consegue preservar o necessário patriotismo, passando a mensagem adequada aos nossos pares da União Europeia e, sobretudo, aos especuladores que procuram vampirizar os países mais frágeis (continuo pasmado com a importância que dão às mesmas agências de rating que, há não muito tempo, davam boa notação às empresas que vieram a estar no epicentro de uma crise global sem precedentes…). No entanto, com as bolsas a continuarem em queda, veremos se não morremos da cura...
Ao mesmo tempo, Passos Coelho preserva o PS no Governo, numa altura em que ninguém ganha popularidade por governar; em linguagem corrente, o líder do PSD deixa o Primeiro-ministro acumular desgaste, sendo obrigado a protagonizar medidas impopulares que somarão os seus efeitos nefastos aos que já vinham de quatro anos precedentes como inquilino de S. Bento.
Ademais, ao propor a redução do vencimento dos políticos e dos gestores públicos, creio que o PSD esteve bem na forma, mas mal na extensão. Bem na forma, porque é um sinal de moralização, mostrando que há quem tenha um exemplo a dar (já não era sem tempo…). Mal na extensão porque reduzir os vencimentos em menos de 3% seria irrisório para a Economia, quase imperceptível para os “lesados” e, por isso mesmo, desproporcional em relação ao que sentiria o português “comum” com o aumento de impostos que se adivinha; quem já pouco tem de sobra sentirá um impacto muito superior. Bem vistas as coisas, os 5% a que se chegou parecem mais adequados.
Entendo, todavia, que algo mais deve fazer-se. Desde logo, já que, agora e finalmente, os políticos querem fixar um padrão ético de conduta, haveria que explicar, em linguagem que todos entendam, o que está a passar-se (as razões e as consequências da crise) e qual o resultados dos sacrifícios que se pedem.
Depois, cumpre que haja conta, peso e medida. Ao falar-se em cortes no décimo terceiro mês (que, para já, parecem arredados), cumpre não esquecer que, mesmo para a classe média, mais do que uma cornucópia de esbanjamento, o subsídio em causa serve para pagar apólices de seguros e outras contas “extra” que o vencimento já não comporta.
Persistir em onerar os mesmos de sempre, tornará demagógica qualquer proclamação de justiça social; será omeleta sem ovos ou Robin sem bosques, pedindo a bolsa a céu aberto e sem alguém que disso beneficie.
Em suma, em tempo de agruras, valha à Nação o título benfiquista e a visita Papal para que se não fale tanto do que aí vem…