quinta-feira, 22 de abril de 2010

Depois admirem-se...

Há um tema que me prende às malhas da dúvida, de algum tempo a esta parte.

Tudo começa com a leitura dos jornais do fim-de-semana e com a recuperação de um assunto que me é caro: o perigo de se desgastar o já puído prestígio da classe política. Noticiava um semanário que o Primeiro-Ministro, José Sócrates fora ilibado pela investigação do caso Freeport. Até aqui, nada mais do que a verificação da sapiência ínsita no princípio da inocência das pessoas até ao trânsito em julgado de sentença condenatória…

Contudo, fica por discernir qual a compensação que poderá obter o principal visado, tendo em conta que a imagem pública é um dos maiores trunfos de qualquer político contemporâneo, e que a de Sócrates foi o bombo da festa, durante todo este processo (no qual se preferiu sorver avidamente o voyeurismo informativo da TVI)? E o mesmo se diga em relação ao caso dos submarinos, que ainda agora está nos seus alvores.

Ao mesmo tempo que saúdo a decisão de Pedro Passos Coelho de não explorar o lado “barraqueiro” da política, preocupa-me, indiferentemente dos visados, o ataque a referências de conduta social (sim, os políticos…), por muito que os próprios actores se “ponham a jeito” para estes problemas que a cupidez dos media não perdoa, explorando os factos com a venda de exemplares ou a conquista de audiências (e, logo, de publicidade) como alvo.

Embora num plano diferente, é o mesmo estilo de navegação social anárquica que se induz ao abrir portas como as do “divórcio na hora” (denominação nossa) ou a da consagração festiva do casamento homossexual. Ao esbater o cariz fundacional da família enquanto pilar de referências da sociedade, o que se consegue é o desamparo e a vulnerabilidade do indivíduo em si mesmo, somando a isso a queda “em dominó” de tudo o que, hoje, temos por razoável.

Senão, vejamos: quem há umas décadas falasse em casamento homossexual seria tido por louco ou agitador. Hoje é tido por moderno e sofisticado. Até aqui, tudo bem, já que apenas me aborrece a teimosia taxonómica ou onomástica.

Porém, só por ingenuidade pode entender-se que as coisas ficam por aqui e que se não reivindicará com igual pundonor a adopção. E nem aqui eu coloco uma marca apocalíptica… O que pergunto é de coisas que, hoje, ainda temos por reserva de ética viremos a abdicar, sob a capa da modernidade… O que será “natural”, daqui a uns anos?

Tudo isto tem a ver com a perda de referências, com a contestação mediaticamente estimulada à noção de autoridade e com a perda dos conceitos de certo e de errado… Depois admirem-se…

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