domingo, 5 de abril de 2009

Fazer da morte um espectáculo


Foi ontem a enterrar Jade Goody, a britânica que esteve nas bocas do mundo por ter vendido a órgãos de comunicação social os direitos de transmissão dos últimos dias da sua vida, em plena luta contra um cancro.

E foi precisamente ontem que a SIC exibiu as imagens que resultaram desse negócio que Jade garantiu ter sido celebrado para poder garantir o futuro dos seus filhos.

Por mero acaso, mercê de um zapping, dei de caras com o programa (adormeci, felizmente, ao intervalo...), no qual vi uma mulher doente a sorrir disparatadamente para as câmaras, a impingir sessões fotográficas aos filhos, a dissertar sobre a orientação sexual da mãe, a mentir aos pequenos sobre o paradeiro do companheiro, a garantir que venceria o cancro (mesmo quando já sabia que era fatal) porque "o Mundo precisa de Jade Goody".

Tudo aquilo me pareceu um espectáculo deprimente, cujo consumo só nos pode tornar desumanos. Não pude, pelo exposto, simpatizar com a senhora. Não posso, por tudo o resto, deixar de me enojar pela mórbida mediatização da sua doença e da sua morte. Por muito que me tentem convencer de que aqui os fins justificam os meios...

Aliás, toda a história de vida da senhora é deprimente. Vivia apenas e só da sua exposição mediática, à sombra de Big Brothers, tendo-se revelado xenófoba, pouco dada à inteligência, insolente e exibicionista. E não se bastando com isso, mediatiza a sua doença, a sua dor, a sua luta, os seus últimos dias em troca de uns trocos para os tablóides sensacionalistas que levam pelo mundo foram imagens da mulher que, vá-se lá entender, casava às portas da morte com um moço detido por crime e aumentava a sua presença mediática à medida que o cancro a fulminava.

Já não bastava isto e acresce que, à boleia destas celebridades toscas e foscas há políticos que aproveitam para agradar à populaça, como o fez Gordon Brown, enaltecendo a nobreza de Jade e condicionando o funeral desta por razões de agenda.

Pior, a tal nobreza da jovem concedeu-lhe o cognome de "nova princesa do povo", uma usurpação pela qual os britânicos deveriam ter vergonha.

Por tudo o exposto e por mais que tente, não consigo compreender esta fixação do Mundo - e em especial da Grã-Bretanha - pela vida e pela morte de Jane Goody, que eu julgava - chamem-me insensível - que a qualquer um dos nós só poderia inspirar dó...

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