segunda-feira, 6 de abril de 2009

De olhos postos... ... no Parlamento!

Não, não é inveja ao melhor estilo feminino. A sério que, enquanto cidadã e enquanto mulher, muito me apraz ver o nosso Parlamento polvilhado aqui e ali de deputadas, cada uma delas com o seu estilo próprio, sendo que aprumo e elegância só lhes fica bem (o mesmo se dirá quanto aos nossos deputados, pois claro...).

Não obstante, a coisa torna-se preocupante quando a atenção do Parlamento se concentra na beleza feminina e se escapa à medida que discursam as senhoras deputadas, como é quase inegável que acontece na foto acima.

Inegável também é que Marta Rebelo é bonita - pelo menos mais bonita que José Vera Jardim, cujo assento veio substituir na AR - sendo que a deputada já por mais de uma vez veio dizer que a sua beleza e a sua juventude têm-lhe sido prejudiciais no mundo político. A julgar pela sua ascensão, ninguém diria.

Sinceramente, esta crescente tendência de justificar um certo tipo de depreciação ao trabalho político de uma mulher pelo seu género e pelo seu físico,"não pega". Ainda que se possa reconhecer que este é um meio ainda dominado por homens e por alguns preconceitos, não creio que Marta Rebelo venha sendo menos merecedora de respeito profissional por ser uma jovem mulher bonita.

O problema de Marta reside, parece-me, com o facto de a jovem deputada não vir deixando a melhor impressão na sua incursão pela Assembleia da República. A assiduidade deixa a desejar - 36 faltas nas últimas duas sessões legislativas - e o trabalho mostrado idem idem aspas aspas. Provavelmente na foto em apreço estaria a apresentar o seu voto de congratulação pela eleição de Cristiano Ronaldo como melhor futebolista do Mundo ou a congratular-se pelos resultados da política de desenvolvimento do Governo, já que a sua intervenção parlamentar a pouco mais se resume. Junta-se a isto uma excessiva exposição pública da sua pessoa na imprensa nacional. Da Caras à capa de uma revista LGBT, de presença constante no suplemento Vidas do Correio da Manhã à produção para a Pública e às páginas centrais da Única, nada lhe parece escapar.

Enfim, o trabalho extremosamente desenvolvido com a comunicação social contrasta com a ausência de trabalho no parlamento e a deputada do PS é por isso - e não pela sua juventude e/ou beleza - frequentemente criticada pelos cidadãos mais atentos, que vão escrutinando o exercício do seu cargo. O expoente máximo disso foi o que por aí veiculou a propósito da sua opinião sobre aquele episódio das faltas dos deputados na AR numa qualquer sexta-feira, tendo então argumentado que "a questão das faltas dos deputados (...) é política com 'p' pequenino"...

Pese embora seja de reconhecer que subsistem alguns preconceitos, não vejo que uma mulher bonita não possa ser uma deputada séria, capaz e exemplar. A beleza ou a fealdade não podem nem devem servir de desculpa a um trabalho parlamentar mais ou menos fértil, a uma postura mais ou menos escrupulosa.

Veja-se o o caso de Ana Drago, Joana Amaral Dias e Ana Zita Gomes, rostos jovens e bonitos de diferentes espectros partidários que marcaram positiva presença no Parlamento, sendo que cá fora se souberam mostrar moderadas na exposição pública, embora dela não se tenham privado para fazer passar as suas mensagens.

Ou atente-se ao excelente exemplo de Teresa Caeiro, deputada pelo CDS-PP que ao longo desta legislatura vem mostrando empenho e apresentando trabalho, dignificando o papel que lhe foi confiado pelos eleitores, sem qualquer pudor por abraçar (e ganhar!) causas de pendor feminino - veja-se o papel que tem tido na luta contra a violência doméstica, a vitória da comparticipação da vacina do colo do útero e a causa das medidas de apoio a casais inférteis, entre um sem fim de outras matérias com que vem trabalhando e enaltecendo o papel de deputada à AR.

Em suma, que não se duvide em momento algum que há muito a ganhar com a presença feminina naquele órgão de soberania, sendo que é possível que se captem as atenções dos portugueses e dos demais deputados pelo conteúdo da intervenção, pela honra e respeito com que se abraça aquele cargo e não tanto pelo tamanho e corte da saia que se traja.
* foto de Orlando Almeida

1 comentário:

Luis Melo disse...

Excelente Dulce...