Ao ler estas linhas, já tomou posse Barak Obama e já terão sido escritos e ditos milhões de palavras sobre raça, credo, esperança, economia, guerra, Iraque, Afeganistão, Médio Oriente e por aí fora…
Cá por mim mantenho baixas expectativas em relação a alguns aspectos fundamentais do debate, por muito que acredite em melhorias, já que, depois de George W. Bush, pior é quase de certeza impossível - o “quase” tem a ver com o desejo expresso pelo pai Bush de que o outro filho, Jeb Bush, possa vir, também ele, a ser presidente dos EUA, algo que seria justíssimo pelo “roubo” em que colaborou enquanto Governador da Florida (aquele que daria a vitória ao seu irmão sobre Al Gore).
Falo de baixas expectativas, desde logo, no domínio da política externa, já que o proselitismo está ínsito na mesma. Com excepção de Teddy Roosevelt e Nixon, os presidentes americanos encarnam o papel doutrinador que foi instituído por Woodrow Wilson. Assim, mudando de aliados em alguns casos e privilegiando mais o diálogo noutros, não vejo Obama com espaço de manobra ou sequer disposição para aderir ao multilateralismo puro e simples com que muitos sonham.
Depois, creio que os recursos naturais e a sustentabilidade do Planeta poderão registar evolução positiva, mas seria preciso um corte drástico na delapidação dos primeiros para que o segundo vector recuperasse de modo a evitar catástrofes como o degelo, a seca, a fome, as tempestades e outros fenómenos que, consoante a área geográfica, se vêm atribuindo às alterações climáticas e ao vampiresco padrão de consumo que se implantou a Ocidente e na Ásia. Ora, não creio que a própria indústria americana, mormente em tempo de crise, possa ou queira reconfigurar significativamente o seu modus faciendi, designadamente no sector automóvel. Acresce que sempre restariam, por exemplo, casos como o da China que, com a “desculpa” de que também tem direito a desenvolver-se, devora recursos fósseis e polui avassaladoramente.
Resta o plano económico, onde a mudança de paradigma pode, aqui sim, ditar melhorias, a começar pelo recuo na abordagem selvática que se fez do capitalismo e da economia de mercado. Ando, há algum tempo, a defender a ideia de que, a permanecermos cegos às desigualdades acabaríamos, involuntariamente, por dar razão a Marx, algo que me parece – a URSS demonstrou-o – errado, porque impossível de concretizar e contra-natura. Todavia, a crise actual mostra que nos excedemos, instrumentalizando as pessoas e entronizando o mero lucro.
O problema é, aliás, de tal modo global que tardam as soluções eficazes e crescem os sinais de desespero (aumento de desemprego, criminalidade, falências).
Face a isto, poderá até ser que Obama, apostando mais na função reguladora do Estado, venha a contrariar algumas tendências nefastas; contudo o cerne da questão subsiste: a expectativa depositada no 44º Presidente é tão elevada que a cobrança poderá ser quase imediata. Bem pode Obama tentar agora refrear os ânimos que espoletou durante a campanha, mas será sempre tarde demais. A situação é muito grave e o desespero não se apazigua com palavras.
É por tudo isto que olho o novo “líder do Mundo” com simpatia, mas com esperança refreada. Há que tentar e não há dúvida de que Obama parte com um capital de aprovação inaudito, de tal modo que a gaffe no juramento, que fez sorrir milhões e o próprio, teria valido os maiores enxovalhos se, por exemplo, se tratasse da tomada de posse de George W. Bush...
3 comentários:
Caro Gonçalo,
Não posso concordar mais com tudo o que dizes. Desde o dia em que ganhou que também tenho dito algo parecido. As expectativas são demasiado elevadas e Obama não é o super-homem.
Vai ficar tuido como dantes e Quartel General em Abrantes
Caro Gonçalo e restantes,
Diria que sou uma "garota" com quase 25 anos que ainda acha que pode mudar o Mundo.
Diria que "andei" a tentar perceber os meandros da política em Portugal e que me desiludi. Diria que percebo que tem mais a ver com que amigos temos do que aquilo que valemos ou que ideias é que queremos fazer vingar.
Diria que hoje olho para o cartão de militante e ele faz cada vez menos sentido na minha carteira.
O cepticismo relativamente a Obama assusta-me. Talvez não tanto em si (e não o estou a apelidar de "velho"), mas mais ainda nos jovens da minha idade e ainda mais novos.
Já pensou que se com esta idade eu não acreditar em Obama vou acreditar em quê? E quando digo Obama engloba uma série de coisas... (não precisarei especificar que não se trata do homem que hoje é presidente dos EUA).
Pergunto-me que jovens são estes que andam na política que "não acreditam" em Obama.
Penso no país que temos.
Temo pelo país que iremos ter.
Olho para Sócrates e penso no produto das juventudes partidárias. Olho para trás, penso no que vi e vivi.
E é assim que lhe digo que eu ainda acredito em Obama, em todas as acepções que isso tem.
Chamem-me diletante, idealista, sonhadora... talvez o cartão de militante faça menos sentido do que a Obamania como lhe chamam.
Cumprimentos.
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