sexta-feira, 18 de abril de 2008

A cura do PSD


Em Setembro passado Luís Filipe Menezes ousou pegar num PSD moribundo, fez o pertinente diagnóstico, passou uma receita médica bem legível e sujeitou-a ao escrutínio dos sociais-democratas. Volvidos seis meses de tratamento e não se verificando claros sinais de melhoras, Menezes reconhece que “o partido está muito doente”. Não precisava de nos revelar o exame porque é perceptível que a reabilitação não correu como seria de esperar. Durante este meio ano, se houve alturas em que se adivinhava um sinal de recuperação, logo ocorria uma súbita e incompreensível recaída.

Menezes, como é sabido, é médico de reconhecido profissionalismo. Porém, esta enfermidade que vem arruinando o PSD não é passível de cura quando não há anticorpos que exterminem os progressivos agentes invasores. É certo que o vírus só se propaga se encontrar terreno favorável a isso. Mas havendo partes do corpo que rejeitam automaticamente os fármacos administrados sem lhes dar hipótese de qualquer actuação..., torna-se desgastante prosseguir o tratamento e utópico manter a esperança na convalescença.

Menezes não está no partido apenas para lhe administrar sucessivos cuidados paliativos, mitigando-lhe o sofrimento. Menezes acredita na cura – ainda que paulatina - do PSD. Não obstante - prudente que é - resolveu não fazer uso abusivo de antibióticos e decidiu que cabe agora auscultar de novo o doente, apurando a sua receptibilidade a novos agentes terapêuticos.

Se me permitem, o meu relatório médico recomenda que Menezes insista no tratamento, pese embora as contra-indicações e os eventuais efeitos secundários. Sim, o partido está débil. Mas é uma questão de reforçar o sistema imunitário, reforçar as defesas. Cabe uma primeira fase de vacinação para afastar os previsíveis micro-organismos - já a 24 de Maio - e depois é ir administrando as restantes doses com a devida precaução, aguardando por positivas reacções pós-vacinais.

O curioso é que no PSD há quem aja qual criancinha. Os que fazem birra por tudo e por nada, que falam muito - e à toa – e que chegada a hora de levar a ‘pica’ recuam, fugindo à seringa, subitamente medrosos. A esses cabe adverti-los – para já - de que esta síndrome da maledicência, do conluio, da cobiça e da ambição pode ser fatal. Não particularmente para o líder ora cessante, mas para o partido, para os seus militantes e, irreversivelmente, para o país. É que não é só o PSD que está enfermo. O país também. E não restam dúvidas que da eficácia do tratamento de um, depende a sobrevivência do outro.

2 comentários:

Diogo N. Gaspar disse...

Este texto é a ilustração perfeita para uma parte da realidade que afundou esta liderança. Menezes foi, realmente, um homem de coragem, contudo não podemos deixar de mencionar os momentos em que o PSD esteve de má saúde por culpa dos seus actores.

Em primeiro lugar, a visibilidade que a própria direcção permitiu que se desse a questões internas em detrimento dos chamados temas da governação; da forma de tratamento a certos notáveis; da participação em momentos de contestação dos portugueses, sem que depois se apresentassem as propostas; má definição de propriedades (ao nível das intervenções, de imagem, etc.), parecendo-nos, por vezes que a oposição ao governo e até mesmo o sentido cívico do partido estava sendo relegada para segundo plano; intervenções inaceitáveis como as desta semana com o caso Câncio.

Num efeito 'bola de neve', começaram a chover críticas, revelando falta de unidade e acabando, afinal de contas, por prejudicar o partido que chegou, na semana passada, a piores valores na sondagem do que nos tempos de Mendes. Ao fim de seis meses a culpa não pode ser atribuída a uma só parte: atestou-se uma comunicação social quase desumana e escutou-se um baronato impiedoso, que criticou sempre mais do que devia e, sobretudo, com pouca de legitimidade, mas teve-se uma direcção que, dada a falta de conteúdo, nos trouxe muita desilusão.

Dulce disse...

Nem mais, Diogo.
Que legitimidade têm os críticos de Menezes?
Fazem-lhe frente de todas as formas possíveis, excepto na mais corajosa: nas urnas.
Em Setembro passado – pese embora sedentos de poder - resguardaram-se para ver Menezes subir ao pódio. (Provavelmente muitos até votaram nele). Depois, uniram todo um conjunto de esforços para que, com a mesma rapidez com que LFM subiu, viesse a descer.
Abatido o alvo, ei-los agora, novamente indisponíveis para avançar, ainda que durante todo este tempo estivessem sempre prontos para lançar achas na fogueira.
Quer-me parecer que, cientes que não têm capacidade de alcançarem qualquer liderança, tudo o que procuram é um bom lugar para ver o partido chegar ao estado cadavérico... seja lá quem for que até aí o conduza .