Pelo menos da minha parte, não o foi sem aviso...
Efectivamente, a mais do estilo descolorido e pouco entusiasmante com que fez oposição, a forma como se enclausurou num “bunker” de palmadinhas nas costas feito em relação ao que era o seu forte – o contacto personalizado e afável – e como concessionou a colaboradores arrogantes e persecutórios o trabalho de relações pouco públicas e, seguramente, nada urbanas – tudo isto, dizia eu – foi cavando um fosso entre a cúpula partidária e as sempre referenciadas, mas nem sempre cuidadas, bases do PSD.
E nem se trata de “pisar quem perde”, mas sim de rever a matéria dada...
Todavia, creio que a análise ficaria incompleta se não fossemos a outros pontos. Em primeiro lugar, entendo que é de mau gosto culpar as “directas”, como fizeram muitos “notáveis” sociais-democratas. Em si, a eleição directa do presidente é apenas um processo, dependo os juízos morais do uso que dele se faça. Ou seja, as chamadas directas tanto podem conviver com os mais notáveis espíritos e as mais filigranadas formulações ideológicas, como podem ser um gigantesco tanque para lavagem de roupa suja.
Não vale sequer a pena recuperar exemplos de desmandos plebiscitários (tipo República de Weimar, que teve as consequências políticas que se conhecem com o apogeu do nacional-socialismo), pois, também neste caso, não só se trataria de um abuso especulativo, como seria um atestado de menoridade aos militantes do PSD que, se estão habilitados a votar “directamente” num Primeiro-Ministro (por muito que se elejam deputados em listas, no subconsciente está a escolha de um líder partidário para Chefe do Governo), parecem não poder ser dignos dessa confiança quando o assunto se prende com o seu líder partidário.
Com isto não fica dito que esteja ainda em fase pueril de entusiasmo com as directas. Entendo, hoje (nem sempre pensei assim, reconheço sem problemas), que se perde muito debate sem a disputa em congresso; agora, o que não posso aceitar é que se objecte às directas com o argumento de que se não controlam supostas pulsões malignas da turba inculta, mais a mais quando, desconfio, teríamos uma militância esclarecida, na opinião dos agora insatisfeitos “barões”, caso fosse outro o resultado.
E por falar na dita fidalguia, de novo, um ponto de ordem: falamos de pessoas por quem tenho imenso respeito, que deram muito ao País e ao PSD (se falamos da geração fundadora, note-se, pois parte da que sucedeu inverteu um pouco o sentido da dádiva…) e em quem deposito esperança para com as gerações mais novas fazerem um movimento de tenaz que, no mínimo, coloque pressão na faixa etária que, actualmente, lidera a vida interna do PSD e que, como já escrevi, se profissionalizou e enquistou, com consequências óbvias para o sistema partidário e para a vida pública portuguesa.
Todavia e no sentido irónico dos termos, não deixo de achar uma certa graça às figuras gradas do PSD que parecem envolvidas numa onda de consternação, desde a vitória de Luís Filipe Menezes… Se estavam genuinamente empenhadas no que entendem ser o futuro desejável para o PSD, por que suportaram a liderança nitidamente “partisan” (entenda-se, de aparelho) de Marques Mendes? E por que lhe deram verdadeiros beijos de Judas, apoiando com nítida resignação, ao estilo “do mal, o Mendes”? E, por fim, por que não arranjaram o tão anunciado D. Sebastião (leia-se, 3ª via)?
Agora, o que temos é uma liderança legitimada e pertencente a um grande autarca do PSD.
A mais dos votos do sucesso tradicionais, espero que o dr. Menezes não copie os vícios que criticou e, desde logo, seja tolerante no debate e abrangente nas opções.
Quanto ao “medo” que o novo líder parece suscitar, diria que quem tem medo “compra um candidato”!...
3 comentários:
O problema,Gonçalo,é que os tais notáveis nem o respectivo condominio ganham.
Os tempos mudaram e os cogressos de resultados pré fabricados deram lugar á escolha democrática das bases que só não foi mais alargada porque houve um vergonhoso controlo administrativo do proceso por parte da extinta direcção.
Nao fora isso e o resultado ainda lhes seria mais adverso.
Não há lugar neste partido para discursos sobre "vencedores" e "vencidos" dentro do PSD, como se viu e ouviu na última Assembleia Distrital do Porto. Não abona nada a favor da união. Os grandes perdedores destas directas são (como espero) o PS e o Governo socretino e a debandada será em 2009!
Luís
Talvez... Em todo o caso, és daqueles que tem maturidade intelectual para evitar os tradicionais excessos "pós-revolucionários" (estilo decapitações, a seguir à Revolução Francesa).
Marta
Que saudades dos seus comentários! :)
Fico-me por aqui, pois receio que o cinismo que os anos de partido, por vezes, me põem na análise possa ser desagradável para a sua saudável juventude de propósitos ;)
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