terça-feira, 23 de outubro de 2007

Depois de Torres, defender a dama

Olhado o Congresso do PSD de há uns dias e ao invés da intriga barata que se tem feito, podemos concluir pelo domínio de Luís Filipe Menezes que pauta claramente a agenda, mesmo no que à indigitação de Santana Lopes para a liderança parlamentar diz respeito.


Desde logo, conseguiu que o conclave decorresse sem história e sem discursos tribunícios. Mesmo onde podia vislumbrar-se novidade – falo de Passos Coelho – cedo foi percebido que o tempo era ainda de consagração de um líder que fizera a sua “longa marcha” e que estava popular e claramente legitimado.


Por seu turno, aos chamados barões, muitos dos quais sem algo a perder, competia materializar o horror de Drácula que veiculavam em relação à cruz de Menezes. E, nada…


Por fim, justiça feita ao sempre corajoso discurso de Alberto João Jardim, que voltou a balizar a acção dos eleitos, é de antologia – tenha ou não havido acordo de cavalheiros – passar-se um congresso sem que o “menino guerreiro” arrebate a audiência. Certo que ganhou em poder, mas aceitou moderar a tendência para brilhar em palco. A meu ver, maturidade de saudar e a seguir.


Se erros ou menores êxitos existem nas opções do dr. Menezes, eles podem, a meu ver, cifrar-se em dois: por um lado, creio que a expectativa em relação à comissão política era maior. Subentende-se a preocupação de gerir o xadrez interno (equilíbrios em face dos apoios) e de apaziguar fantasmas (personalidades que serviram em vários governos). Todavia, esperava-se mais arrojo nas figuras convidadas; mais gente nova na idade e no envolvimento com os mecanismos partidários formais. À parte de José Manuel Canavarro, fica um certo sentimento de déjà vu, por muito estimáveis e sabedoras que sejam as pessoas do novel politburo.


Por outro lado, sendo a aliança de risco, veremos até que ponto foi acertado o protagonismo autorizado ao dr. Santana, conferindo-lhe a liderança parlamentar.


Como social-democrata parece-me bem, prevendo elevada dose de combatividade por parte do grupo parlamentar.


Depois, percebo que não só não convinha a Menezes enfrentar uma guerra com os deputados escolhidos ao tempo da liderança de Santana Lopes (o que importa ao novo premier é afirmar externamente a sua marca), como, assim, aliando-se ao santanismo, encosta às cordas (como se viu nas mudanças de presidências nas comissões parlamentares) a ala mais cerebral (afecta a Durão Barroso) que, até ver, paga o preço de ter procurado, durante algum tempo, passar entre os pingos da chuva. O paralelo 38 (zona desmilitarizada entre as duas Coreias) é sempre um mau sítio para ver os comboios passar, digo eu…


Todavia, o protagonismo em Santana Lopes não é algo que se modere institucionalmente. Para o bem e para o mal (e tanto mal lhe fez no Governo…), o talento é inato e dispensa estudos estratégicos, pelo que a luz que lhe for dirigida não é “desligável” por interruptor, da São Caetano à Lapa.


E acresce que, bem pensada a coisa, Sócrates poderá optar por entronizar Santana enciumando, mesmo que não o próprio, os mais acríticos menezistas.


Ou seja, fiel ao seu estilo, que me agrada, Menezes arrisca, tendo já ganho parte substancial da aposta e mostrando que não é “rapaz” de assobiar para o ar, quando as coisas correm mal; tal percebe-se quando atribui o seu sucesso futuro aos resultados a obter nas várias eleições de 2009.


Veremos no próximo conselho nacional até que ponto é que a glasnost menezista se traduz numa real abertura a um debate aberto. Até lá, voto em São Tomé: é ver para crer.

5 comentários:

Gonçalo Capitão disse...

Excepção feita a José Luís Arnaut, cujo percuro tenho apreciado, acho um piadão à indignação dos impropriamente chamados barrosistas (sobretudo, um deles já esteve com vários "ismos") pelo afastamento das presidências das comissões parlamentares...

A meu ver, a regra é a da não perpetuação e não a de conseguir, sob a conveniente desculpa de "ajudar o partido", apoiar tudo e o seu contrário, no congresso seguinte.

Para lugares de confiança política, gente de confiança política ou apostas inovadoras, digo eu... E nem se diga que são lugares puramente institucionais; se o fossem não eram repartidos pelos partidos, de forma aritemética.

Já discordaria se falassemos de um saneamento puro. Todavia, no caso, trata-se de uma nova liderança que escolhe aqueles que, a seu ver, melhor interpretam o novo rumo.

Só espero que não seja para perpetuar outros, mudando apenas nomes...

Mas, a final de contas, eles todos é que devem ter razão, já que não largam os lugares, há mais de vinte anos, em alguns casos, e eu sou moço de passagens meteóricas...

Marta Rocha disse...

"Como social-democrata parece-me bem, prevendo elevada dose de combatividade por parte do grupo parlamentar."

A tua escolha de palavras é absolutamente genial!

Não me choca nada a renovação feita. Choca-me que se lhe chame "saneamento".

E não me parece justo, já que é protocolar que se deixem os lugares à disposição. Se eu não tivesse intenções de deixar o meu lugar à disposição, não deixaria (f*** protocol!).

Se me visse substituída também não lhe colocava o "bold". Vir à praça fazer birra é desperdício de energia, que seria mais bem empregue em provar com, trabalho, o erro nas escolhas.

Luis Cirilo disse...

Caro Gonçalo e Cara Marta:
O post inicial e os comentários posteriores são ricos de conteúdo e provocadores (no bom sentido) de um desenvolvimento da matéria.
Que contudo não devo fazer até ao limite do meu entendimento sobre o assunto.
Por isso,mantendo-me na zona desmilitarizada e atento aos comboios,direi apenas o seguinte:
Genéricamente vocês os dois tem razão.
Até porque seria de bom tom que,com nova liderançaparlamentar os lugares institucionais(porque é disso mesmo que se trata)fossem de imediato postos á disposição.
Não o foram nesses casos nem noutros.
E daí que o novo lider parlamentar tenha toda a legitimidade para proceder a ajustamentos.
Já não me parecendo tão bem o argumento de que 17 em 24 não apoiaram o novo lider do partido como forma de negar eventuais saneamentos.
Há justificações desnecessárias ainda para mais quando pretendem sustentar opções discutiveis.
E como estou a chegar ao meu "Rubicão" por aqui me fico.
Com uma notazinha final:Em nome da "realpolitik",que também faz parte da vida,uma dessas substituiçoes jamais devia ter sido feita.
No interesse do lider...do partido !

JAbreu disse...

Caro Gonçalo, atrevo-me a comentar o que genialmente, desde outros tempos, dizes e escreves.
A mudança efectuada nas comissões parlamentares parece-me excessiva.
Um low-profile inicial é o "elan" substâncial para uma futura entrada de leão(esta é uma opinião muito própria).
Considero que a confiança dos que trabalham connosco deve ser uma constante que pode ser variável considerando as funções. Serão estas presidências das comissões assim tão importantes para o líder parlamentar? E não seria melhor acalamar o povo depois de uma eleição para líder parlamentar com tanto voto contra e branco?
A falta de prudência já deu no que deu, há que aprender com a história! (esta é a opinião de um mero companheiro de base)

Gonçalo Capitão disse...

Caro Amigo

Talvez tenhas razão, mas mantenho que, sobretudo num dos alegados "saneamentos", mandaria o decoro que tivesse sido o próprio a perceber que é demais apoiar 101% (sim, porque vai apoiar o próximo também...) dos lideres eleitos.

Hoje, começou já a festa com o facto de Santana ter anunciado que não irá a todas as reuniões da Comissão Política Permanente do PSD, onde o lider parlamentar tem lugar por inerência.

Sendo que é uma personalidade fortíssima e que já foi nº1, creio que basta como prova de humildade dizer "a contrario" que irá a algumas reuniões, fazendo-se representar nas demais. Pelo que disse, creio que mais do que isto aumentaria os riscos de confronto, achando eu que o "menino guerreiro" tem aqui a última hipótese de demonstrar que é "homem guerreiro". So far so good...

Entendo ainda que devem dar mais espaço a Santana Lopes! Não fora eu tipo que não consegue esquecer faltas de respeito e ingratidão e acho que recuperava o "santanismo" que já houve em mim...