domingo, 1 de julho de 2007

No melhor pano

Eu cliente da FNAC me confesso (já por lá tendo deixado milhares de euros, ao longo dos anos).
Creio mesmo que, por vezes, a instituição em causa, dada o propósito democratizador da cultura com que foi criada, faz mais pela divulgação do que se vai criando do que algumas equipas ministeriais do sector, por cá.
Porém, ontem (30 de Junho), constatei que no melhor pano pode cair a nódoa.
Desloquei-me à FNAC com uma pessoa amiga que me facultou um vale de desconto de 5€, oferecido no âmbito de uma campanha que, vigorando de 21 de Junho a 1 de Julho, se destinava a fomentar a compra de música, nos mais diversos formatos.
No acto de pagar perguntei se não me dariam um outro vale, registando com estupefacção que não porque "a campanha termina amanhã" (hoje)...
Ora bem, sendo que, ontem, "amanhã" não é "hoje", também cedo percebi, pelo surrealismo da resposta, por ali não faria farinha, dada a peremptoriedade da asneira dita.
No serviço de apoio ao cliente, o mesmo resultado com partitura diferente: "já não há mais vales"...
Assim, e como nada nos cartazes publicitários ou nos vales limitava a data de atribuição dos descontos a um dia prévio ou ao "stock existente" pedi a apresentação do livro de reclamações, não pelo valor em causa, mas porque entendo que, cada vez mais, os consumidores devem acautelar os seus direitos, mormente quando, como é o meu caso, a sua formação académica os obrigue a conhecê-los.
Devo dizer que a gerente da loja não só trouxe o livro como conseguiu desencantar um vale sobrevivente, sendo de uma educação exemplar, embora manifestando ignorância em relação aos trâmites publicitários da campanha, pelo que o livro não foi rabiscado.
Todavia, três apontamentos permanecem válidos:

1 - Fica mal a uma instuição que tanto faz pela cultura incorrer em publicidade enganosa.
2 - Suspeito que muito boa gente foi vítima desta má prática comercial, ontem, e o será, hoje.
3 - Há alturas em que tenho pena de que não tenhamos um pouco do civismo britânico, alemão ou nórdico ou da filosofia norte-americana de protecção dos direitos individuais, já que a pessoa que me acompanhava, ao descontar o ressuscitado vale, teve de ouvir as uma das funcionárias da caixa, devidamente "envenenada" pela colega da caixa contígua (a primeira funcionária que se me dirigiu) comentar com desdém que era "o assunto do vale" e dar o troco em moedas (pode ser o meu espírito conspirativo, mas...).
Não sei que salário régio têm as senhoras em causa, ao ponto de desprezarem um desconto de mais de 25% num cd, nem que burrice as leva a não estimar quem exerce os seus direitos, mas é por causa desta mesquinhez e desta falta de consciência e solidariedade cívicas que nos tornámos num dos mais pobres e taciturnos povos europeus...

3 comentários:

camarao disse...

Mas o Gonçalo acabou por proceder de maneira a encorajar o chico-espertismo...

Ao abdicar de se queixar a troco de um "vale sobrevivente" deu razão ao sentimento que as grandes superfícies se estão marimbando para os seus clientes, tratando nas palminhas aqueles de quem têm medo.

O Gonçalo foi à mesma mal tratado como cliente, mas calou-se em troca do tal vale.

Rita disse...

Quando o director de marketing da FNAC Portugal, confrontado com o facto de os "preços mínimos" nem sempre serem realmente os mais baixos do mercado, afirma ao Expresso que só os clientes picuinhas (citação) se queixam, acrescentando ainda que a campanha "preços mínimos" é mais uma atitude do que uma regra, não me consigo espantar com o que relatas.

Não me espanto mas condeno. E a culpa é nossa (cidadãos e clientes) porque somos mal tratados e mesmo assim mantemo-nos fiéis às marcas/ estabelecimentos.

Gonçalo Capitão disse...

Caro blogger "Camarao"

Até podia dar-lhe razão se não tivesse feito esta denúncia.
Respeitando e agradecendo a sua opinião frontal, afirmo que o que pretendi foi evitar uma coisa comum nestes casos: a punição pessoal de uma funcionária expedita, quando quem deve "sofrer" é a empresa...

Rita
Apesar de tudo, continua a ser um bom espaço.