quarta-feira, 16 de maio de 2007

Boa sorte, caro Amigo

Não me inscrevendo (por ora) em qualquer tendência de oposição interna ao Presidente do PSD, mas também não sendo dos que floresce à sombra de qualquer sol (e se os há no PSD de Coimbra…), não posso deixar de sublinhar que a propaganda laranja sobre os dois anos do Governo actual também podia, num caso concreto, traduzir o balanço do raciocínio seguido na S. Caetano à Lapa.

Falo do critério adoptado pelo dr. Marques Mendes para decidir quem tem mérito para vestir a camisola social-democrata, por enquanto só aplicado ao plano autárquico.

Apesar de dito pelo autor como político, é indisfarçável o toque judicial ou “justiceiro” do crivo usado, se nos lembrarmos de que os arguidos Valentim Loureiro (Gondomar) e Isaltino Morais (Oeiras) mereceram censura do politburo mendista.

Ora bem, não especulando sobre o “bom gosto” da decisão, a verdade é que o mesmo veredicto político atingiu Gabriela Seara e Carmona Rodrigues (Lisboa), assim que adquiriram a mesma qualificação processual.

Ou seja, fica a clara ideia de que, para o Premier laranja, quem é constituído arguido passa a não ter condições para representar o PSD…

Todavia, a apreensão assalta-me (salvo-seja, senão ainda me tramam também, como “assaltante”): por um lado, a constituição como arguido, por vezes, pretende também aumentar a esfera defensiva de alguém sobre quem recai uma determinada suspeita.

Por outro lado, bem ensina a doutrina (já incorporada até pelo senso comum) que, até sentença transitada em julgado em seu desfavor, um cidadão presume-se inocente.

Isto é: com base numa coincidência com a evolução processual, a Direcção do PSD arreda do seu horizonte de legibilidade cidadãos que a mesma Lei com que o partido se sintoniza para os excluir faz questão de dizer que eles não são, nessa data, culpados. Eis uma contradição complicada, mesmo e talvez sobretudo quando se usa um juízo político sobre alguém.

Depois a torrente de incoerências não cessa, mercê desta mistura pouco feliz de critérios políticos com momentos processuais penais; levado ao limite, o modus operandi vigente no palácio da justiça mendista teria obrigado a sacrificar Isabel Damasceno (Leiria) por dá cá aquela palha e, levando a linha de raciocínio ao absurdo, a excluir Rui Rio (Porto) de funções, já que, mesmo com o acordo relativo ao Túnel de Ceuta a que chegou com o IPPAR, a situação de arguido manteve-se por se tratar de um crime de natureza pública (violação de embargo).

Admitamos, contudo, que, efectivamente, o juízo político de Marques Mendes é moral, porque apoiado na sua ética política. Também aqui, salvo o devido respeito por ambos, me parece estranho meter no mesmo saco Valentim e Carmona.

Em suma, a mistura de uns pozinhos de judicial com uns gramas de político não me parece receita feliz e deu mau resultado em Lisboa.

A última palavra para dizer que, numa eventual derrota laranja na Capital (algo que não desejo), não pega, desta vez, aquela ideia de que foi uma derrota em nome de princípios, pois já foi com base numa opção pessoal que Marques Mendes excluiu a recandidatura de Santana e apostou em Carmona Rodrigues.

E valia a pena que não esquecêssemos as sábias palavras de Santana Lopes, quando ainda pairava a hipótese Fernando Seara, sobre a gritante carência de quadros de um partido que não tem sequer a desculpa de estar no Governo.
Porém, temos Negrão para enfrentar uma situação que, não vale a pena escondê-lo, está negra...
Sobre ele, com quem partilhei alguns tempos na Direcção do Grupo Parlamentar, tenho a dizer que é um gentleman, com todas as qualidades que os britânicos atribuem ao termo, independentemente de juizos sobre arte política que, agora, já não interessam.
E é tanto mais curiosa a escolha, quando reforça a coerência do que disse sobre o errado critério de Marques Mendes: andava o dr. Fernando Negrão a braços com um processo que envolvia uma alegada violação do segredo de justiça e fiz questão, na Universidade de Verão da JSD*, em São Pedro do Sul (na ocasião, organizada em conjunto com a Juventude Popular), de reafirmar a admiração pessoal que por ele tinha e o apoio da JSD (falava enquanto vice-presidente daquela e co-organizador da UV). Ou seja, para mim a presunção de inocência não é mero enfeite processual...
Quanto ao candidato à Câmara de Lisboa, um desejo sincero: boa sorte, caro Amigo.
* Embora o tema já tenha despertado fanatismo pouco democrático no blog do Luís Cirilo, continuo a dizer que a "alienação" da UV ao PSD foi um erro, pois descapitalizou a JSD, de modo irreparável. Tal não põe em causa a excelência do trabalho do seu actual responsável.

5 comentários:

Bruno disse...

Caro Gonçalo,

Penso que te lembras de teres participado, com o Dr. Negrão, numa "Conversa de Café" da JSD Almada, sobre Revisão Constitucional. Foi uma das primeiras demonstrações que tive do seu valor, da sua inteligência e capacidade política. Isto porque já tinha uma boa imagem pessoal e profissional de Fernando Negrão antes de ele ter sido Deputado.

E continuo a ter! E por isso acho que ele merecia continuar o seu trabalho em Setúbal (na Vereação e como Deputado pelo Distrito) e ganhar a Câmara daqui a dois anos. Parece que assim não vai ser pois aceitou este desafio de concorrer a estas intercalares em Lisboa. Esperemos que não fiquemos a olhas para dois pássaros a voar quando tínhamos um (muito bom) na mão...

Mais uma nota para dizer que o títlo do teu post reflecte aquilo que me apetece dizer a Fernando Negrão (excepto a parte do "caro Amigo" porque não tenho esse privilégio).

Gonçalo Capitão disse...

Lembro, pois! E, realmente, a mais do seu valor, esse episódio também sublinha como é um homem simples, sem ser simplório no que quer que seja.

Não toquei na questão de Setúbal para não parecer demasiado ácido, mas creio que tens toda a razão, Bruno.

Por vezes, limito-me para não parecer um anti-mendista primário (não o sou), mas creio que o que disse Santana Lopes sobre Seara se aplica, mutatis mutandis, a Negrão, sem que esteja em causa o brio deste último.

Triste o estado do PSD, digo eu.

Zé das Alfaces disse...

Não é necessário ser-se ‘filiado’ em qualquer estrutura de oposição interna para ver que a incoerência do Dr. Marques Mendes é total. Gonçalo Capitão fala de casos em que arguidos à data das eleições, ou que o foram no decurso dos seus mandatos, que não foram apeados por MM. Lembro-lhe outro, que talvez por pudor, não referiu: o de Jaime Soares Presidente da CM de Poiares e da Distrital do PSD de Coimbra. Jaime Soares foi candidato e Permaneceu No CARGO MESMO DURANTE O JULGAMENTO! Ainda bem que MM não se ‘lembrou’ do amigo – Jaime Soares foi absolvido. E se tivesse sido afastado? Que faria MM agora? Como estaria Poiares? E Jaime Soares?

O PSD ainda tem alguns militantes que sabem ler e escrever, ou seja capazes de fazer algo pelo país, MAS, mas Mendes não quer ninguém a não ser os que se declarem seus apoiantes totais –e ninguém apoia alguém a 100% a não ser que seja imbecil… O ridículo por Lisboa é tal, que só os boys (e girls) mendistas receberam a notícia/convite para estarem presentes na apresentação da candidatura de Fernando Negrão. Os outros souberam pelo telejornal, à noite, visto que os jornais do dia nada diziam (pelo menos os 2 que li).
Realmente Fernando Negrão necessita de toda a sorte. E se quiser não ter uma derrota humilhante, é ser abrangente e livrar-se das pessoas que lhe vão colocar na campanha e na lista –se não tiver cuidado fazem-lhe o mesmo que ao Carmona, usa e deita fora.

Quanto a MM e PTC não tiveram a coragem de se candidatar –fica registado!

Gonçalo Capitão disse...

Não mencionei o Jaime Soares, porque não me lembrei. É um homem simpático, mas o argumento vale para ele, de facto.

Luis Cirilo disse...

Naturalmente que todos os sociais democratas desejam a melhor sorte ao dr Fernando Negrão.
Tal como o Gonçalo partilhei com ele algum tempo no grupo parlamentar do PSD,posteriormente tive alguns contactos com ele enquanto liderou o IDT ,e tenho a melhor das impressões da sua pessoa.
Sem prejuizo de achar que a sua "transferência" de Setúbal para Lisboa foi um erro.
Que eventualmente pagaremos nos dois concelhos.
Mas agora isso não é o mais importante.
Fundamental é apoiá-lo na dificil tarefa que aceitou desempenhar.
Faço minhas as palavras do ultimo parágrafo do Bruno.
P.S. Quanto ao fanatismo pouco democrático no meu blog,caro Gonçalo,ele continua.
Ãcho até,sem dar nenhuma importância a isso,que há uma brigadazinha encarregue dessa "nobre" tarefa de insultar cada vez que toco em assuntos incómodos para alguns.
Desconfio que vão ter muito trabalho...