Dulce:
Quando li o teu último post pensei em comentar. Porém a lista de ideias começou a avolumar-se e optei por manter o diálogo aqui, no salão nobre do "lodo".
Sendo um assunto da ordem do dia, não me surpreendi com o que li na edição de ontem do The Daily Telegraph que me ofereceram no avião. Escrevia-se por lá, a propósito do relatório da ONU que inclui as crianças dos países desenvolvidos entre as mais infelizes, que a precoce "sexualização" das crianças (sobretudo das meninas) é uma das causas dessa infelicidade, sobretudo se pensarmos que temos meninas de 5 anos em frente à MTV equacionando se têm ou não um visual sexy...
Segundo a American Psychological Association, citada pelo jornal, esta introdução de padrões sexuais tão precocemente é fonte de problemas de saúde mental variados, de distúrbios alimentares (eis o cerne do teu texto) e de depressão.
E bem sabemos a força da indústria publicitária, sobretudo no que toca às crianças. Um dos casos mais polémicos é a Bratz Doll que torna a Barbie num exemplo de virtudes, dada a pouca mas ousada roupa com que é possível tapar algo do seu corpo.
Mais acrescenta o jornal britânico que a Asda foi alvo de polémica por comercializar lingerie de renda preta para meninas de 9 anos, incluindo uma espécie de wonder-bra, destinado a aumentar a volumetria do peito das infantas... Já a Next optou por vender t-shirts com a frase "So many boys, so little time" ("Tantos rapazes, tão pouco tempo") a menores de 6 anos...
E como se não bastasse a festa, citam-se ainda dois exemplos de revistas juvenis: a Sugar que tinha artigos sobre a "maquilhagem mais sexy" e "adolescentes que vendem o corpo pelo estrelato", e a CosmoGirl que respondia a uma carta de Alexis (14 anos de idade), dando-lhe conselhos sobre masturbação (neste caso a autora do artigo sublinha que o saco de gomas Haribo que vem como brinde desmente eventuais alegações de que a revista se destina a adolescentes mais velhas).
Aqui chegados, que dizer "Bella"?!...
Desde logo, que as novas tecnologias, em si, não são boas nem más, dependendo do uso que se lhes dê (continuo na minha, como vês). No caso da anorexia, que salientaste, foram os media que lançaram o alarme e que, com a sua força, estão a conseguir a "contra-revolução" pelos estilistas, organizadores de eventos e opinião pública.
Em segundo lugar, que vale a pena pensar o lugar que o dinheiro e o mito do sucesso profissional tomaram nas nossas vidas. Deixou de privilegiar-se o tempo para educar pessoalmente os mais novos, para acompanhar os seus gostos e emitir opinião sobre eles. A meu ver isso é essencial, mais do que resisitir de forma autista à introdução de novos meios de comunicação e novas necessidades de consumo.
Creio, como deixas entender a propósito do dia dos namorados, no teu blog pessoal, que mesmo as relações de afecto estão, hoje em dia, materializadas.
Direitos de propriedade sobre sujeitos, é o que estamos a criar, "Bella"... E dá-me tanta pena ver um partido como o PSD, que se gaba de ser humanista, não reflectir sobre isto com os militantes, chegando ao ponto de encomendar uma proposta de revisão do seu programa numa espécie de outsourcing intelectual....
Anorexia, liberalismo selvagem, falta de afecto, tu escolhes o nome que mais se adeque, em teu entender, ao lado escuro do tempo que corre...
Quando li o teu último post pensei em comentar. Porém a lista de ideias começou a avolumar-se e optei por manter o diálogo aqui, no salão nobre do "lodo".
Sendo um assunto da ordem do dia, não me surpreendi com o que li na edição de ontem do The Daily Telegraph que me ofereceram no avião. Escrevia-se por lá, a propósito do relatório da ONU que inclui as crianças dos países desenvolvidos entre as mais infelizes, que a precoce "sexualização" das crianças (sobretudo das meninas) é uma das causas dessa infelicidade, sobretudo se pensarmos que temos meninas de 5 anos em frente à MTV equacionando se têm ou não um visual sexy...
Segundo a American Psychological Association, citada pelo jornal, esta introdução de padrões sexuais tão precocemente é fonte de problemas de saúde mental variados, de distúrbios alimentares (eis o cerne do teu texto) e de depressão.
E bem sabemos a força da indústria publicitária, sobretudo no que toca às crianças. Um dos casos mais polémicos é a Bratz Doll que torna a Barbie num exemplo de virtudes, dada a pouca mas ousada roupa com que é possível tapar algo do seu corpo.
Mais acrescenta o jornal britânico que a Asda foi alvo de polémica por comercializar lingerie de renda preta para meninas de 9 anos, incluindo uma espécie de wonder-bra, destinado a aumentar a volumetria do peito das infantas... Já a Next optou por vender t-shirts com a frase "So many boys, so little time" ("Tantos rapazes, tão pouco tempo") a menores de 6 anos...
E como se não bastasse a festa, citam-se ainda dois exemplos de revistas juvenis: a Sugar que tinha artigos sobre a "maquilhagem mais sexy" e "adolescentes que vendem o corpo pelo estrelato", e a CosmoGirl que respondia a uma carta de Alexis (14 anos de idade), dando-lhe conselhos sobre masturbação (neste caso a autora do artigo sublinha que o saco de gomas Haribo que vem como brinde desmente eventuais alegações de que a revista se destina a adolescentes mais velhas).
Aqui chegados, que dizer "Bella"?!...
Desde logo, que as novas tecnologias, em si, não são boas nem más, dependendo do uso que se lhes dê (continuo na minha, como vês). No caso da anorexia, que salientaste, foram os media que lançaram o alarme e que, com a sua força, estão a conseguir a "contra-revolução" pelos estilistas, organizadores de eventos e opinião pública.
Em segundo lugar, que vale a pena pensar o lugar que o dinheiro e o mito do sucesso profissional tomaram nas nossas vidas. Deixou de privilegiar-se o tempo para educar pessoalmente os mais novos, para acompanhar os seus gostos e emitir opinião sobre eles. A meu ver isso é essencial, mais do que resisitir de forma autista à introdução de novos meios de comunicação e novas necessidades de consumo.
Creio, como deixas entender a propósito do dia dos namorados, no teu blog pessoal, que mesmo as relações de afecto estão, hoje em dia, materializadas.
Direitos de propriedade sobre sujeitos, é o que estamos a criar, "Bella"... E dá-me tanta pena ver um partido como o PSD, que se gaba de ser humanista, não reflectir sobre isto com os militantes, chegando ao ponto de encomendar uma proposta de revisão do seu programa numa espécie de outsourcing intelectual....
Anorexia, liberalismo selvagem, falta de afecto, tu escolhes o nome que mais se adeque, em teu entender, ao lado escuro do tempo que corre...
Um abraço forte,
G
G
2 comentários:
Dear Captain, ;)
Muito oportuna esta “ponte” que fizeste do meu post sobre anorexia para esta problemática que é o prematuro e veloz crescimento das crianças de hoje.
Problemas sociais graves que estão interligados:a imagem feminina cada vez mais erotizada que leva a comportamentos precoces por parte das crianças dos nossos dias, com consequências graves.
Lembrei-me a propósito disto, de um dia destes ter visto a “Oprah” a falar com uma mãe desesperada porque a filha de 6 anos se achava gorda, demorava uma hora todos os dia a arranjar-se para ir à escola e não admitia que a mãe opinasse sobre o que vestia. Chocante, no mínimo.
Não há dúvida que a erotização excessiva da mulher nos media, publicidade, etc etc conduz a estes comportamentos inesperados por parte de crianças.
E tem sobre elas graves consequências físicas e psicológicas – transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia, mas não só… depressão, problemas de desenvolvimento, de aprendizagem, desenvolvimento sexual… etc.
“Adultos à força”, título de série juvenil que podia ser aplicado a estas meninas (essencialmente, crianças do sexo feminino) que, quais esponjas, absorvem toda uma cultura de vaidade que parece não conhecer limites.
Música, revistas femininas (Cosmogirl?! que absurdo!...), celebridades que impõem o culto da magreza excessiva (já lá vão os tempos de Kate Moss, agora é a vez de Keira Knightley ou de Mary Kate e Ashley Olsen - as actrizes gémeas que faziam as delícias da minha geração há uns aninhos atrás….) e claro, os brinquedos infantis, no caso as bonecas… Eu cá, desconhecia a Brazt..!
Mas posso falar da Barbie, essa boneca que acompanhou a minha infância e que foi motivo de alguma polémica há alguns anos atrás porque se concluiu que a sua existência seria humanamente impossível... i.e, transpor para o tamanho real de uma mulher aquela figura de ampulheta.
Enfim, os valores ditados pela sociedade moderna, que têm nestas bonecas um modelo de mulher (magra, atlética, consumista) vão afectando gravemente o crescimento das nossas crianças e num futuro próximo os problemas serão gravíssimos.
Mas tal como dizes, por muita campanha ou muita pressão que se exerça sobre os "responsáveis" por isto, nada como insistir na Educação. Alertar os pais e educadores para a importância da transmissão de valores às crianças e dar-lhes bases para que possam resistir a este bombardeio da ditadura da beleza.
Caso contrário...
Eu acrescentaria até, e aqui em tom de intromissão :p, que num país com raízes conservadoras, o outro lado do "pano" que foi liberalizar tudo a "torto e a direito" trouxe consequências graves. Parece-me que as pessoas não sabem moderar os seus direitos e deveres. A típica frase: "coitadinhas das crianças" levou a que muitas assumissem um papel de soberania sobre pais e professores desuducando-as. Depois a tal questão dos media faz com que elas cresçamm cedo de mais para a idade mas como não têm maturidade suficiente, tornam-se vazias, nas atitudes a tomar e nas pequenas, subline-se, opções que têm a tomar. Isto, já sabem, é a minha opinião. Choca-me também, quanto á questão do amor e de uma relação a dois que se substitua o postal careta e lamechas cheio de sentimentos e promessas, por um telemóvel, última geração, que poderá custar €500. Bela sociedade esta que depois torna o político, inevitavelmente, num hipócrita quando tenta falar nos pobrezinhos e oprimidos. Pois (...)
Enviar um comentário