sábado, 25 de novembro de 2006

Tolerância ZERO

O título deste post pode parecer um contra-senso para os leitores mais atentos deste blog, que ainda há poucos dias me viram focar aqui o Dia Internacional da Tolerância. Abordou-se, na altura, o facto de ainda fazer sentido designar determinadas datas para sensibilizar a opinião pública acerca de problemáticas tão graves quanto preocupantes.

Fazendo então a ponte da ‘tolerância’ para o que deve ser intolerável:

Hoje, 25 de Novembro, assinala-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

E mais uma vez senti necessidade de focar uma data; a de hoje para para relembrar que em pleno séc. XXI, por esse Mundo fora, as mulheres ainda são vítimas de discriminações de toda a ordem e de actos de violência de toda a espécie.

Lembrar que a violência sobre a mulher é um fenómeno mundial, que ocorre numa variedade de contextos - não só nos países ditos subdesenvolvidos - atravessa fronteiras, religiões, classes sociais e que não se restringe à violência doméstica. A realidade é muito mais ampla – tráfico humano, violação sexual, discriminação laboral... enfim, uma lista (lamentavelmente) infindável...
Lembrar também que os dados ‘falam’ por si. Aqui ficam alguns mais recentes:

*Nos EUA uma mulher é violada a cada 90 segundos;
*Em 28 países de África a mutilação genital ainda é praticada;
*80% dos refugiados de conflitos comunitários, étnicos ou políticos são do sexo feminino;
*A cada três dias morre uma mulher vítima de maus tratos em França (dados revelados esta semana por uma ministra francesa);
*Em Portugal, 50 casos diários de violência doméstica chegam à PSP/GNR;

(Ver mais dados aqui)

Não foi por acaso que a ONU, em 1999, resolveu dedicar este dia como dia oficial do combate a uma das muitas violências que teimam em proliferar.
Um dia para lembrar, meditar e pensar de que forma nos podemos mobilizar contra uma das mais vastas e persistentes violações de Direitos Humanos.

6 comentários:

Anónimo disse...

Olá a todos!:)

Obrigada por passares a palavra! Muitas vezes aquilo que nos é externo faz-nos achar que não existe. Mas não é assim! Não só em Portugal como em tantos outros países, a violência sobre as mulheres (nas suas mais variadas formas) assume proporções assustadoras.
Podia mesmo acreditar que toda a evolução humana sempre foi de tentativa de recalcamente à Mulher. Não consigo compreender como é que mesmo em sociedades desenvolvidas se continua a praticar esta barbarie. QUe, como disseste, tanto variar entre violações como pelo simples facto de não permitirem as mulheres frequentarem a escola. Sobretudo quando já se chegou ao consenso, na ONU, que as mulheres têm um papel fulcral no desenvolvimento humano, social e económico.
Como é que mudamos este cenário?! Com informação, com o utilizar destas tecnologias como bem disseste, com força de vontade, e a começar connosco.

Já trabalhei na AI, já tive contato directo com as pessoas do nosso dia a dia, e é surpreendente que nem sequer a noção de direitos humanos e o que isso abarca as pessoas (infelizmente demasiadas!!!) conhecem.
Este é o país que temos. Este é o país que temos de mudar, para uma verdadeira evolução a todos os níveis! Deixo-vos aqui um link para um post e que se podem apercerber de um pouco do que mencionei.

http://utopia-land.blogspot.com/2006_04_01_archive.html

Obrigada! Continuem! Porque todos somos Humanos! :)

*beijinhosss* e Bem Haja!

Anónimo disse...

Ahh, peço desculpa. O nome do Post é «Uma Coisa Doce», e retrata as aventuras de ter trabalhado numa ONG que se conhece menos do que se pensa!:p

Dulce disse...

Cláudia, (vulgo moonnoom) ;)

'obrigada' digo eu, por teres passado por aqui, deixado umas palavrinhas e um link que me levou a ler um post que oscilava entre o sério e o hilariante...

Soltei umas valentes gargalhadas à conta dos portugueses alheados, equivocados e despreocupados.
Mas 'gargalhadas' à parte, é frustante perder tempo com espécimes desses quando estamos a dedicar tempo a uma causa tão nobre como o é o voluntariado...

Estás, com toda a certeza, mais dentro do assunto "violência sobre as mulheres" que muitos de nós.
Estás também mais apta para agir no que toca a esta matéria, mas ainda assim lembraste-nos (e bem...) que todos nós podemos esbater um bocadinho deste cenário negro.

Especialmente quando a maioria das vezes "Aquilo que nos é externo faz-nos achar que não existe"... ...

E remato com isto:

Que não nos esqueçamos que silenciar qualquer tipo de violência torna-nos cúmplices...

Gonçalo Capitão disse...

Dulce:

Se dúvidas havia, o facto de escreveres textos como este torna-nos muito melhores, aqui no "lodo"...

Quanto ao tema, a cruzada é tanto mais importante num País como o nosso, onde muita da violência (nem sempre física, mas, regra geral, cruel) é silenciada por preconceito ("é assim, mas não é mau homem") ou vergonha. Não há volta a dar-lhe: somos civicamente atrasados ou, como costumo dizer, albaneses com dinheiro.

Acresce que, tendo chegado ao estatuto de país de imigração, temos de viver com culturas onde essa violência, por vezes, nem chega a ser ocultada. Sem ponta de xenofobia, relembro um documentário da SIC-Notícias sobre a comunidade cigana portuguesa, na qual as mulheres abandonam a escola, no máximo, no fim do 1º ciclo (vulgo, 4ª classe) e casam, por arranjo, à roda dos 13 anos (para que se não julgue que vem com a raça, há ciganas romenas poliglotas e com formação universitária!).

Depois há uma nota de âmbito mais vasto: as sociedades ocidentais no todo estão mais desumanizadas. Hoje objectivamos o "outro", criando direitos de propriedade sobre sujeitos. Assim, acreditando que o problema das mulheres pode estar a caminho de uma solução geracional (a malta da minha idade já aceita bem a paridade ou o comando de uma mulher, creio eu), criamos outro problema maior de humanidade feito.

Dulce disse...

Gonçalo,

Em boa hora nos relembras que a violência, seja ela de que tipo for, tem muito ( se não tudo...) a ver com a (má) educação.

“Somos cívicamente atrasados”… dizes. Subscrevo.
Aliás, isso é inquestionável.
Tocaste no cerne da questão... sao as questões mais básicas – EDUCAÇÃO!! - as que temos de modificar.

Em casa, na escola, através dos media, dos partidos políticos, das instituições sociais, religiosas... TODOS deveriam de difundir valores fundamentais, fazendo da educação um factor de prevenção.

Mas parece que o esforço é precisamente o contrário: a violencia é o “pão nosso de cada dia”...
É nos servida numa bandeja, seja em televisão, cinema, videojogos e até alguns telejornais que nos brindam com peças que ao invés de informar, mais parecem incitar à violência e ao insulto…

E depois, como referiste, no caso da violência doméstica, aquelas ideias infelizmente tão comuns entre os portugueses do "é assim, mas não é mau homem" ou o «entre marido e mulher não se mete a colher...» acabam por não ajudar em nada este combate.

E assim sendo, por muito que as novas gerações, como a tua e a minha, já aceitem bem a paridade... Portugal continua submergido num machismo ancestral consentido, que não parece ter fim à vista...

Maria Manuel disse...

Mulher é Terra onde germina toda a vida.
Mulher é porto de abrigo, pão e fartura...
Mulher é perdão.
Mulher é doce nas horas amargas
Mulher é o Sal da vida.
Só o medo justifica a posse sangrenta.
Sou Mulher e de tal tenho vaidade e por tal minha voz ergo...

Gosto como escreve e do que escreve, não fora Mulher…