quarta-feira, 26 de abril de 2006

Indústria de cosméticos

Sem meios financeiros (e, quiçá, com não muitos recursos académicos), a classe política portuguesa prepara-se para pôr em prática um sistema eleitoral misto, no qual haverá espaço para círculos uninominais (o lado "maioritário" do cocktail eleitoral, há muito no shaker parlamentar).
O propósito é o de uma determinada circunscrição ter um deputado eleito, que será mais facilmente identificado e responsabilizado pelos eleitores desse círculo.
Porém, se não se consagrarem as dotações necessárias, o representante não terá escritórios locais e pessoal auxiliar e, logo, continuaremos a saber do nosso parlamentar pelos jornais (pelo menos, propaganda para garantir a reeleição vai haver), já que não vai existir o "atendimento" próprio, por exemplo, de um congressista norte-americano.
Acresce que o rejuvenescimento eleitoral será relativo (geralmente, diz-se que a vantagem destes círculos é a renovação das apostas dos partidos, a cada eleição). Muito embora seja de esperar que o partido derrotado mude de candidato, no acto eleitoral seguinte, a verdade é que a maior parte das circunscrições (quase 2/3, em média) "tem dono"; ou seja, é praça forte de um partido, e só excepcionalmente mudará de cor, assim se tornando inócuas as mexidas nos candidatos da oposição local.
Isto não falando no facto de termos por cá um grupo de "profissionais" que, mesmo perdendo, é bem capaz de não se "despregar" da cadeira de candidato, na eleição subsequente...
Se não houver cautela, a mudança pode, por isso, ser meramente cosmética.

2 comentários:

el s (pc) disse...

Há sempre a possibilidade de aparecer uma multiplicação de Alegres nos círculos. A possibilidade de cisões poderem levar ao forçado rejuvenescimento. Há tb o perigo da multiplicação de Isaltinos, populistas e perigosos. Isto quer de um lado, quer do outro.
Assim será que os círculos uninominais levarão a uma melhoria dos candidatos ou apenas, uma autarquização do parlamento ou à explosão de partidos?
Mas que vai ser giro, vai... ... se vai ser bom, não sei...

Gonçalo Capitão disse...

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