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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Como é que estão as coisas por lá?

De regresso à etapa africana da vida, trago as primeiras impressões de Portugal, de há um ano e tal a esta parte (incluindo a excelente despedida que a Académica me proporcionou na Marinha Grande, na véspera de partir). Já por cá, a pergunta repete-se: “como estão as coisas em Portugal?”.

Com franqueza não sei se esperam uma resposta muito ilustrada, mas fico sensibilizado com o patriotismo e atribuo a pergunta à calma que emana dos noticiários nacionais da RTP Internacional (do pouco de bom que têm as sua emissões, a meu ver), sobretudo quando comparados com as imagens recebidas de Inglaterra, Grécia ou mesmo Espanha.

Cá por mim apenas consigo ter pinceladas impressionistas e angústias quase surrealistas sobre o nosso País.

Assim, em primeiro lugar, espanta-me a comparação do preço das coisas com os cortes salariais e com o aumento (apesar do ligeiro decréscimo do último indicador) do desemprego; dois indícios desgarrados: não imaginava que um bilhete de cinema (acesso à cultura, portanto) custasse mais de seis euros, e não sonhava que o litro de gasolina 98 pudesse rondar o euro e oitenta cêntimos numa auto-estrada (quase dois euros!!!)…

Por outro lado, nos saldos das marcas de média/alta qualidade vi uma abundância de escolha que não era comum em tempos idos, e constatei que os restaurantes da mesma gama tinham bastantes mesas disponíveis (em muitos casos incluindo a que eu próprio não ocupei).

Contudo, confesso que mais do que notas esparsas desta sorte, trouxe uma preocupação de monta maior: ao ver que as fatwas da Troika incluem a venda das participações do Estado em empresas estratégicas (TAP, REN, EDP e outras), fico a pensar o que faremos da próxima vez que o País estiver com a corda ao pescoço (algo que é cíclico na nossa História)… Nacionalizamos?! Bem sei que o Governo não tem qualquer remédio, mas não deixo de entender que alguma presença em certos sectores poderia ser estratégica e/ou lucrativa e de me perguntar se os Estados francês, alemão e italiano não conservam posições empresariais que obrigam os seus congéneres alienar (confesso, neste ponto, a minha real ignorância).

A somar a isto vem o assunto que temos discutido nestas páginas e que se prende com o facto de sermos incipientes nas exportações e não nos especializarmos em nichos produtivos de qualidade. Enquanto povo bastamo-nos com a invenção da Via Verde e a gestação do CR7, achando que não há quem nos iguale e deixando essa maçada que é o trabalho árduo para os trouxas do Norte da Europa, que não saem à noite e que não se riem nem perdem uma hora no café quando estão nos seus empregos. Sermos ricos e desenvolvidos envolve suor e nós, gente de fado e boa bola, vemo-nos idiossincraticamente como um povo perfumado.

Vamos ver o que muda até à próxima visita à Pátria.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Se vem ao Mundial, traga fé

E pronto, instalou-se a depressão colectiva e voltámos a pensar na crise, depois do trapalhão tropeção de ontem contra os “Elefantes”…

Todavia, como é recomendável para todos os que desejam comunicar e não são ilegíveis o suficiente para ganhar o Nobel da literatura, comecemos pelo início: o jogo com a Costa do Marfim foi, de facto, mal jogado, faltando criatividade e inteligência para romper a teia bem urdida por Eriksson (sem curarmos sequer de adjectivar o consulado de Queiroz, sublinho). Para quem foi ao estádio, ainda por cima, houve a novidade que terá destruído o mito africano de muitos: um frio de rachar!

Vendo bem as coisas, Itália, França e Inglaterra também começaram aos solavancos e no nosso grupo tudo continua em aberto, com a familiaridade aconchegante para nossa idiossincrasia nacional de, mais uma vez, estarmos aflitos…

Entrando nos bastidores da epopeia, todavia, a história não é tão convencional, já que ao invés do que aconteceu com outras selecções nacionais (México e Grécia, ao que se diz, e África do Sul, com toda a certeza), a nossa esquadra decidiu não se misturar livremente com a comunidade portuguesa, limitando-se a uma aparição relâmpago num jantar, em que cada degustação ficou por um pouco mais de quinhentos euros por pessoa. Soubessem os dirigentes federativos (ilibo os jogadores que, com exemplo de cima, fariam diferentemente, estou certo) o quanto os portugueses emigrados se emocionam com qualquer “aroma” do seu Portugal (houve quem se comovesse com o simples contacto com um agente da PSP…) e corariam de repúdio pela sobranceria exibida. Mas nós, a espaços e quando temos lugares proeminentes, somos assim: pequenos, narcisistas e insensíveis…

Por fim, uma palavra para os que, mesmo menos alegres, ainda se desloquem para assistir aos embates com a Coreia do Norte (a democracia preferida do jovem-idoso comunista Bernardino Soares) e, sobretudo, com o Brasil: venham, porque a África do Sul está longe do retrato pintado em Portugal e na Europa, em geral.

Um país encantador, de gente simpática (quer os locais, quer a comunidade portuguesa, que o ajudará em tudo, mesmo que o não conheça de parte alguma) e com todas as comodidades e mais algumas (das estradas aos hotéis, dos centros comerciais às telecomunicações, e por aí fora…).

Quanto ao crime – o assunto mais debatido – se é certo que, por exemplo e principalmente, Joanesburgo tem áreas pouco recomendáveis, não é menos certo que não há nada nessas zonas que recomende a sua presença (excepto a Art Gallery que, mesmo assim pode visitar-se, embora com um arrepio na espinha) e que a polícia sul-africana está a fazer um trabalho meritório, patrulhando incessantemente todas as áreas (assim o façam depois do Mundial, digo eu). Acresce que Portugal, nesta fase, joga em cidades bem mais tranquilas.

Em suma, venha sem medo e, acima de tudo, com muita fé, pois é algo de que a nossa Selecção necessita…