sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Entre pouca e sem vergonha

Salvo o devido respeito pelas pessoas envolvidas, o recente anúncio por parte do

Primeiro-Ministro de que tenciona privatizar a TAP envolveu um momento inicial de

contenção para evitar grosserias e enxovalhos.


Então o antipatriótico negócio de Passos Coelho que, imagine-se, ousara

privatizar a companhia de bandeira agora é bom?!


Foram precisos milhares de milhões de euros para que Costa e o Ministro-que-

não-quer-perder-o-lugar Santos percebessem que a gestão pública não só pratica preços

caríssimos (exemplos disso mesmo, a Madeira e a Venezuela) como acumula prejuízos

colossais?!


Que seria se fosse um governo de base PSD a gastar rios de dinheiro para chegar

à conclusão de que a decisão do executivo anterior estava correcta? Qualquer coisa

menor do que um mar de demissões não calaria a nossa esquerda, guardiã da moral que

é ou julga ser.


Traz isto também à memória a Caixa Geral de Depósitos, ainda na senda da saga

“socialismo lava mais branco” (salvo seja, referindo-me à habilidade de comunicação):

de que me serve a mim português um banco público com comissões iguais ou mais

caras do que os outros bancos?! A menos que… Se calhar já devia ter percebido que

cada vez menos contamos. É tudo macro e o micro que seja devidamente entretido,

confundido e esmagado pela circunstância, ainda para mais quando os seus gestores se

deixam mansamente desalojar e produzem lucros interessantes para os novos inquilinos.

Com franqueza, o que mais me espanta é a apatia da maioria da população,

provavelmente sufocada pelas contas que não consegue pagar e encandeada pelas

esmolas que o Terreiro do Paço vai lançando seja sob a forma de uns pós de reforma

que iludem os cortes vindouros, seja como ruido imperceptível sobre a factura

energética que só entenderemos quando doer a valer.


Temo que já não haja vergonha… Se a houvesse, logo desde o início, Passos

Coelho (que venceu) não teria sido destronado pelo PS com apoio do BE e do PCP; o

mesmo PS que foge do Chega como o diabo da cruz, sem referir que os nossos

camaradas apoiaram e continuam a apoiar os maiores facínoras à face da Terra.


É este o despudor que leva a aceitar a continuidade de uma Ministra (de cuja

honestidade legal e financeira não duvido) cujo marido concorreu a fundos tutelados ou

administrados pelo seu ministério. Legal? Com certeza. Ético? Eu não aceitaria, mas

depois deste rol, vejo que a minha moral é medieval. Siga a festa, pois,

inequivocamente, gostamos de ser levados por sorrisos e esmolas.

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