segunda-feira, 4 de março de 2013

A culpa é dos políticos descartáveis

Na sequência do meu último artigo, recebi uma crítica de alguém que prezo muito, não só pela objectividade que coloca em todas as suas análises mas também porque não milita em qualquer partido e assim isenta nas suas apreciações.

Dizia ela, que grosso modo concordava com o meu artigo, mas usando uma expressão minha, rematava com, tal como tu dizes é uma mão cheia de nada.
Vamos então à questão essencial e como me é habitual colocar uma questão de fundo:
Há alguma saída para esta crise no curto prazo?

Creio ser consensual, que qualquer saída passará obrigatoriamente pelo crescimento económico que gera emprego e consequentemente gera mais receitas fiscais, menos custos nas prestações sociais e no fim menos défice e menos dívida pública. Estarei a ver mal a equação?

Usando alguma objectividade, não vou abordar aqui a questão de mais ou menos saúde, educação, reformas, pobreza, etc..., uma vez que são a consequência lógica e irrefutável do sucesso ou insucesso do crescimento económico.
Mas, voltemos então à equação e comecemos por analisar se o crescimento económico se decreta ou se é por outro lado uma variável que depende única e exclusivamente de nós, se depende de nós e da UE, ou até se depende de nós, da UE e no limite da economia global?

Resolvi então fazer alguma pesquisa e tentar perceber porque é que a ausência de crescimento, aumento do desemprego e os défices públicos não são um exclusivo Português. Se isto for uma evidência, então podemos calmamente tirar uma de três conclusões ou se calhar as três:
- o modelo económico dos países ocidentais está esgotado e carece de uma refundação
- os recursos são finitos e tornamo-nos demasiado egoístas, porque não queremos dividir benesses e regalias que conquistámos com os países emergentes
- ou finalmente, porque sucumbimos à tentação de queremos para nós o filet mignon, dando assim o osso aos países mais pobres, pensando que eles trabalhariam para nós por meia dúzia de tostões e que deste modo não precisaríamos de trabalhar vivendo assim dos rendimentos.

Vamos então à análise objectiva com base nas projecções para 2013, bastando para isso 5 países:

Crescimento económico
Previsão inicial
Última revisão
Erro na previsão
Alemanha
1,7%
0,5%
70%
França
0,8%
0,1%
           88%
Espanha
-0,4%
-1,4%
250%
Portugal
-1,0%
-2,0%
100%
Inglaterra
1,8%
0,9%
50%

Este quadro ilustra perfeitamente, que a crise é sistémica, que não depende de um País ter moeda própria, que Vitor Gaspar engana-se tanto como os seus ilustres pares e que a saída para a crise não depende de nenhum País em particular.
Salvaguardas as devidas diferenças que vão desde o grau de industrialização, maturidade, organização e qualidade da democracia, a Inglaterra é o único País, que não está no euro e por isso, tem toda a liberdade para emitir moeda e segundo alguns medíocres, ultrapassar facilmente a crise económica, então porque não o faz?

Há uns meses ouvia um reputadíssimo economista Português dizer, que a solução para Portugal estaria na saída do Euro, sofreríamos um choque inicial, ficaríamos mais pobres momentaneamente, mas que a seguir teríamos o oásis. Será?
Paradoxalmente, podemos também abordar um País e um tipo de líder que prometeu mudar a França, a Europa e quiçá a economia mundial e os resultados estão à vista. Refiro-me a François Hollande, que de um momento para o outro, passou de desconhecido a iluminado, de enérgico a resignado, de salvador a indiferente e ou corrige a trajectória, ou passará rapidamente, de Herói a Vilão. Segundo as últimas sondagens, dois terços dos Franceses estão desiludidos. Será por isso, que nunca mais ouvimos António José Seguro referir o seu nome?

Portanto, como é fácil de entender, não é por um País ser mais ou menos liberal, por ter mais ou menos estado social, por ter uma democracia mais ou menos consolidada, por ser mais ou menos industrializado, ou até por ter a faculdade de imprimir moeda própria, que o crescimento acontece por geração espontânea.
Sendo assim só pode haver uma explicação, o actual modelo económico Europeu está esgotado.
E está esgotado porquê? Pelo simples facto, de que nos demitimos de pensar, aceitámos que nos vendessem o oásis sem questionarmos, e essencialmente, porque sucumbimos perante as benesses, e o facilitismo.

A Europa industrializada do pós guerra desindustrializou-se, os políticos com envergadura reformaram-se e deram lugar aos políticos descartáveis, a criação de riqueza deslocalizou-se da Europa para os Países emergentes, o desemprego aumentou, o modelo social Europeu ruiu pelo simples facto de que a pirâmide que o sustentava se inverteu, com isto os encargos sociais aumentaram, os impostos para suportar esses encargos aumentaram também, a Europa perdeu competitividade, os políticos descartáveis permitiram que os especuladores financiassem as dívidas dos Países e agora quem nos governa são os grandes grupos económicos.
Respondendo à questão inicial, não há saída para esta crise no curto prazo. Contudo o sofrimento pode ser aliviado, os sacrifícios poderão ser menores mas mais dilatados no tempo, perderemos alguns direitos adquiridos e o futuro será muito mais imprevisível. E tudo isto porquê? Porque salvo raras excepções, somos governados por políticos descartáveis ao serviço dos grandes grupos económicos, que no fim são os nossos credores. Referi propositadamente salvo raras excepções, porque ainda há políticos que colocam o País à frente dos interesses pessoais e partidários.

 P.S. Nem há uma semana, a propósito de políticos descartáveis e a respeito de candidatos às autarquias, um político da nossa praça dizia-me: se o individuo X me mostrar uma sondagem que prove que tem hipóteses de ganhar a câmara, será candidato e terá o apoio do partido.
Questão: Então já não importa saber se tem um projecto, se é honesto e competente?

3 comentários:

menvp disse...

MUDANÇA DE PARADIGMA DEMOCRÁTICO

-> A questão não é mudar de governo... com um sistema igual: apenas 'mudam as moscas'... ficando o sistema inalterável (vira o disco e toca o mesmo): um sistema muito permeável a lobbys... leia-se, um sistema muito permeável ao lobby dos políticos e a muitos outros - um exemplo: o lobby dos banqueiros.
.
-> A questão é - isso sim - MUDAR DE PARADIGMA: por um sistema menos permeável a lobbys... temos de pensar, não em «políticos governantes» [vulgo políticos que, armados em 'milagreiros económicos', acabam por nos enfiar numa Espiral Recessiva]... mas sim... em «políticos gestores públicos» que fazem uma gestão TRANSPARENTE para/perante cidadãos atentos... leia-se, temos de pensar em bons mecanismos de controlo... um exemplo: "O Direito ao Veto de quem paga" [blog 'fim-da-cidadania-infantil'].
.
.
P.S.
-> Político armado em 'milagreiro económico', é político que quer carta branca para pedir empréstimos...
-> Contrair dívida (para isto, ou para aquilo) pode conduzir a uma ESPIRAL RECESSIVA: o aumento de impostos para pagar a Dívida Pública... provoca uma diminuição do consumo... o que provoca um abrandamento do crescimento económico... o que, por sua vez, conduz a uma diminuição da receita fiscal!
Por outras palavras: pedir dinheiro emprestado é um assunto demasiado sério para ser deixado aos políticos!!!
-> Será necessário uma campanha para MOTIVAR os contribuintes a participar... leia-se, votar em políticos, sim, mas... não lhes passar um 'cheque em branco'!... Leia-se, para além do "O Direito ao Veto de quem paga", é urgente uma nova alínea na Constituição: o Estado só poderá pedir dinheiro emprestado nos mercados... mediante uma autorização expressa do contribuinte - obtida através da realização de um REFERENDO.

Defreitas disse...

Evidentemente. Mudar o sistema e nao so os politicos. O meu Amigo Capitão escreve sobre François Hollande que teria abandonado o seu projeto socialista no decurso dos últimos meses. Claro, François Hollande e o partido socialista francês geram a economia como os sociais democratas .

O partido socialista transformou-se num gestor mais preocupado da consolidação do sistema capitalista que da defesa das camadas sociais que representa . Receptáculo dos descontentamentos populares contra o capitalismo, o partido socialista e certos sindicatos "compreensivos" tendem sempre a neutralizar toda revolta geral .

Canalizando assim a massa dos descontentes num "espaço legitimo" de oposição ( a democracia parlamentar) no seio duma sociedade percorrida por profundos fossos políticos e econômicos, o PS faz o jogo de integração política no seio do sistema.

Como o Estado é por uma grande parte estruturalmente interdependente com o Capital, as reformas operadas no seio do Estado nunca poderão por em causa o capitalismo. Apesar de ser apoiado por um eleitorado e aderentes maioritariamente trabalhador e da educação nacional, este partido, perfeitamente social democrata, é prisioneiro do papel de mediador dos interesses do Capital e os do Trabalho.

Em período de recessão econômica, o PS recusa o conflito com o Capital. Prisioneiro do seu credo, ele não faz nada em benefício da classe trabalhadora e em certas situações faz mesmo pagar a esta a crise capitalista.
As próximas medidas do governo de F.Hollande irão ainda mais longe nesta direção.

Hoje, Caro Amigo, ninguém crê que o PS francês é um partido realmente "socialista" que tem por ambição de implementar políticas autenticamente "socialistas".
Quanto à pretensão de Hollande de mudar o quadro europeu, uma Europa mais "federal" será em todos os casos mais alemã! Pois que a Europa resta uma união de Estados, seria bom que cada um se interrogue o que ganha e o que perde. Veremos rapidamente que os "beneficiários" e os "contribuintes" não são forçosamente aqueles que se pensa. A Alemanha sendo o pais que beneficia mais da moeda única e da profundeza do mercado interior.
Atualmente, é a "germanizaçao" da Europa à qual assistimos.

J. de Freitas

Defreitas disse...

A CULPA

A culpa é do pólen dos pinheiros,

Dos juízes, padres e mineiros.

Dos turistas que vagueiam nas ruas,

Das strippers que nunca se põem nuas.

Da encefalopatia espongiforme bovina,

Do Júlio de Matos, do João e da Catarina.

A culpa é dos frangos que têm HN1,

E dos pobres que já não têm nenhum.

A culpa é das putas que não pagam impostos,

Que deviam ser pagos também pelos mortos.

A culpa é dos reformados e desempregados,

Cambada de malandros feios, excomungados.

A culpa é dos que tem uma vida sã,

E da ociosa Eva que comeu a maçã.

A culpa é do Eusébio que já não joga a bola,

E daqueles que não batem bem da tola.

A culpa é dos putos da Casa Pia,

Que mentem de noite e de dia.

A culpa é dos traidores que emigram,

E dos patriotas que ficam e mendigam.

A culpa é do Partido Social Democrata,

E de todos aqueles que usam gravata.

A culpa é do PS, do BE, do CDS e do PCP,

E dos que não querem o TGV.

A culpa até pode ser do urso que hiberna,

Mas não será nunca de quem governa!