sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A Júlio o que é de César

Durante muitos dias não soube como abordar a demissão de Paulo Júlio do cargo de Secretário de Estado para a Reforma Administra e, em alternativa, fui lendo o muito que se escreveu.

Tratando-se de um amigo e de um dos mais inteligentes e competentes políticos da minha safra, creio que o tempo de meditação me permite ter uma opinião mais objectiva sobre aquilo que reputo de uma perda de monta para o Governo e para os portugueses.

Antes do articulado justificativo, atalho eventuais tentações de “malandrices de algibeira” a respeito da minha opinião: entendo que qualquer ilegalidade comprovada e transitada em julgado deve ser punida, que mais não seja, em homenagem ao órgão de soberania que é corporizado nos tribunais.

Dito isto, tal não significa que concorde necessariamente com as leis. Venho, aliás, escrevendo e dizendo que me parece que têm sido feitas demasiadas cedências legislativas no sentido da menorização dos agentes políticos; de tal modo que, hoje em dia, podemos concordar que só aceitará o ónus de o ser quem seja dependente da vida partidária ou pessoas com extrema e genuína dedicação à causa pública, dado o constante escrutínio e até enxovalho e o facto de haver salários bem mais tentadores na iniciativa privada, que não impõe o mesmo grau de devassa, inclusive, da vida privada.

Vem isto entroncar na ideia de que muitas das escolhas para lugares dirigentes – relembro que a demissão de Paulo Júlio teve a ver com o alegado favorecimento de um primo em segundo grau num concurso da Câmara de Penela, a que, à data, presidia – são condicionados por critérios de pretensa objectividade que desprezam em absoluto a confiança política que deve existir entre eleitos e dirigentes que têm por missão concretizar um projecto político sufragado nas urnas. Dir-me-ão que as regras dos concursos visam prevenir abusos… Pois bem, mas a meu ver os abusos, a existirem, devem ser castigados, sendo errado partir de um pressuposto generalizado de desconfiança.

Contudo, o Mundo é como é e não como nós queremos que seja, e acabámos por deitar pela borda fora um talento… Mas que fique clara uma dúvida que paira inevitavelmente no ar: será mera coincidência uma notícia velha de anos vir a lume quando Paulo Júlio “pisou alguns calos” com a anunciada fusão de freguesias? Não branqueando um eventual erro passado, fica o convite à meditação.


Nota: foto "emprestada" aqui.

2 comentários:

luis cirilo disse...

Não o conhecendo pessoalmente não me posso pronunciar sobre a pessoa.
Sobre o politico creio que o concurso em que o 2º prio sai vencedor reunia um ou dois requisitos...dispensáveis digaos assim.
Mas o cerne da questão está,óbviamente, no cerco que a classe politica vem montando a ela própria desde pelo menos 1996 (as famosas leis da transparência de Fernando Nogueira)e que transforma o exercicio de um cargo público numa aventura de fim imprevisivel.
Obviamente que defendo que os politicos e os governantes devem usar do máximo de transparência na forma como exercem os seus cargos mas não podem é estar sujeitos a um escrutinio tal que os transforme em cidadãos de segunda perante uma opinião pública implacável para a qual todos os politicos são corruptos até prova em contrário. A chamada inversão do ónus da prova.
Não deixa,contudo, de ser sintomática a forma como PCP e BE atiram quanta gasolina podem para cada fagulha que parece poder crepitar.
Talvez porque á falta de outros méritos estão convencidos que enlameando todos os outros eles acabarão por aparecer como os impolutos.
Um nojo.
A que os partidos democráticos não tem sabido fazer frente.

Ricardo Jesus Cândido disse...

Luís Cirilo: o Paulo Júlio é do melhor o PSD tem. Oxalá regresse à vida política brevemente…