terça-feira, 17 de julho de 2012

LIDERAR PELO EXEMPLO

Longe vão os tempos em que embuídos de um espirito de missão, PSD e CDS acordaram numa coligação com o grande objectivo de tirar Portugal da bancarrota. Esta grande cruzada, implicava sérias e profundas reformas estruturais, que para uns representariam o fim de algumas regalias injustificadas e para outros, a oportunidade de actuar num mercado mais justo e mais transparente. Passado 1 ano, aquilo que esteve na base desta grande cruzada e que implicou grandes sacrifícios por parte do povo Português, mostra sinais preocupantes de desagregação, senão vejamos:

- O governo é uma equipa, que para ter sucesso, tem que comungar dos mesmos princípios,  valores e objectivos. Percebemos hoje, que no seio do governo a partilha destes valores é inexistente e a escassa presença de governantes no último conselho Nacional do PSD é bem uma prova disso. De um lado governantes ainda imbuídos do espírito de missão que comungam dos mesmos valores e do outro, governantes com maior peso político e consequentemente com vícios, hábitos e procedimentos numa lógica partidária que acreditávamos estar em decadência.

- O chumbo do Tribunal Constitucional é mais um motivo de desagregação. De um lado o Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças, querem cumprir as metas do défice através de medidas que ofereçam mais garantias, entenda-se distribuir o esforço pelo público e pelo privado e do outro Paulo Portas e o CDS, dando a entender que os privados não devem ser chamados a mais sacrifícios e que os esforço tem que ser feito só do lado da despesa publica. Alias esta opção teve muito recentemente um apoio de peso, o FMI.

- O fim das empresas públicas, fundações, institutos e afins, que não cumpram determinados critérios e rácios, no fundo que não tenham razão de existir. A oposição no seio dos 2 partidos é enorme, porque se acabam os lugares de nomeação política e consequentemente as oportunidades para os que não tem curriculum ou experiência profissional, aspirarem a uma vida melhor sem que para isso lhes seja exigido qualquer competência.

 - Finalmente, o caso Miguel Relvas, que o Primeiro-Ministro tarda em perceber que quanto mais tarde o substituir, maiores vão ser os estragos. Sem querer cometer alguma injustiça e corrijam-me se estiver errado, a fama vem de longe. Numa rápida pesquisa pela internet, é fácil descobrir notícias e fotocópias de jornais com mais de 20 anos, que atestam o quão habilidoso é este político. Desde moradas falsas enquanto deputado para compor um pouco mais o salário, ao envolvimento na famosa questão das viagens fantasmas e agora, passados 20 anos e com apenas 1 ano de governo, já se lhe conhecem outras façanhas pouco recomendáveis e das quais cito apenas algumas:
a indicação de inúmeros Jotas e PSD's sem qualquer curriculum para lugares chave deste governo, o infeliz episódio das secretas, em que as contradições foram o que de mais relevante ficou na memória dos Portugueses, a questão do Jornal Público e o relatório da ERC, que depois de muito esforço para demonstrar alguma independência não deixa de condenar a atitude do Ministro, imiscuiu-se na escolha do gestores para o Metro do Porto e STCP, desautorizando o Ministro Alvaro Santos Pereira que tutela esta área e finalmente o episódio das equivalências e da  licenciatura "Batman".

Miguel Relvas não é só um mau exemplo para a sociedade, como também não deixa confortáveis muitos dos seus colegas de governo, que não se identificam com estas práticas menos próprias e recomendáveis. Com esta atitude muito Portuguesa ao estilo de governos de má memória, não é parte da solução mas sim o problema, que Pedro Passos Coelho terá que resolver rapidamente.

Se o Primeiro-Ministro é o líder que penso que é, não deixará de colocar o interesse Nacional à frente de qualquer outro, porque numa altura em que são pedidos tantos sacrifícios, em que o horizonte é incerto e as dúvidas são muitas, tem que surgir alguém que lidere pelo exemplo, aglutinando o Povo Português em torno de um objectivo comum, debaixo de princípios como o rigor e a transparência, tão enunciados durante a campanha eleitoral.

 Inconscientemente, Miguel Relvas está a resistir tanto e a tal um ponto, que quando sair, sairá pela porta dos fundos, a tal ponto, que quando regressarmos de férias nos fique a sensação de que foi de férias e já não voltou.

4 comentários:

Ricardo Jesus Cândido disse...

Boa análise.
Os casos que aqui enuncia exemplificam bem algumas das razões para o atual desgaste. Abr

Margarida disse...

O problema do 1º ministro em manter o ministro Relva é que aquele lhe deverá favores.
Não há almoços à borla e o 1º sabe-o.
Em minha opinião os dois já estão a mais. Não por causa das medidas que tomou, mas por aquilo que defendeu na campanha eleitora/versus a sua prática diária. Como diz e muito bem, que ele defendia "[...] princípios como o rigor e a transparência, tão enunciados durante a campanha eleitoral".
Pretendia valorizar a palavra, princípio que depois não aplicou. Parece-me um "coelho" com pele de lobo.
Revelou ser um politico, vindo da escola politica da JSD, igual a tantos outros que criticou duramente. Afinal só queria assaltar o poder.
Estamos fartos destes politicos.

Hugo disse...

@ Margarida

Será que estamos mesmo fartos destes políticos? É que o país continua a elege-los...e ao tempo que os anda a eleger já os devia conhecer ao longe.

Defreitas disse...

A Historia ensina-nos que houve momentos onde certos homens foram capazes de « aglutinar » (para utilizar o seu termo ) um povo à volta do leader para salvar o pais.
Mas quando se trata duma situação que põe em perigo não só os interesses económicos vitais daqueles que possuem tudo, mas também o mínimo daqueles que não possuem nada, nem mesmo o trabalho, a coesão não tem sentido para eles!

Escreveu: “Se o Primeiro-Ministro é o líder que penso que é, não deixará de colocar o interesse Nacional à frente de qualquer outro, porque numa altura em que são pedidos tantos sacrifícios, em que o horizonte é incerto e as dúvidas são muitas, tem que surgir alguém que lidere pelo exemplo, aglutinando o Povo Português em torno de um objectivo comum, debaixo de princípios como o rigor e a transparência, tão enunciados durante a campanha eleitoral.”
“colocar o interesse Nacional à frente de qualquer outro”, exige o sacrifício de todos e não só daqueles que possuem menos.

Repare-se o “sacrifício” pedido às grandes fortunas, que se encontram, por vezes, já, nos paraísos fiscais.

“o horizonte é incerto” é o mínimo que se pode dizer, no momento em que as nações vacilam sob o peso da má governança daqueles que “deviam dar o exemplo”! No momento em que a própria Alemanha perde um degrau de confiança nas agências de notação, (claro, é normal, o resto da Europa está em crise, e esta é o seu maior cliente), e em que a moeda , o Euro, treme de todo o seu peso, força é de constatar que os leaders se enganaram e nos enganaram estrondosamente.

Quanto ao rigor e à transparência, os políticos actuais são incapazes de obedecer a estas duas regras fundamentais, porque estão ao serviço de outros que detêm o verdadeiro poder