quarta-feira, 26 de outubro de 2011

GONE WITH THE WIND

Cerca de 60% do aumento do abismo que separa as rendas entre os ricos e os pobres entre 1998 e 2010 provém dos lucros realizados pelos serviços financeiros, segundo um relatório da Escola de Economia de Londres.

Pessoalmente nunca votei por esses organismos financeiros que ocupam as primeiras paginas dos jornais do mundo inteiro: Banco Mundial, Banco Central Europeu, FMI e todos os outros que têm uma tão grande influência na minha vida e na de todos os povos do mundo.

Mas são eles que dirigem o mundo. Os media só falam de mercado. Nos nossos ecrãs de televisão vêm-se indivíduos que têm os olhos fixos sobre os ecrãs e que apoiam sobre as teclas . Como se estivessem a tocar piano, cada vez que eles afloram as teclas , estes pianistas dos tempos modernos, dispõem da vida de milhões de seres humanos . Inteiramente à sua mercê.

Como é que lá chegamos? Que espécie de sistema criamos que lhes dá assim tanto poder? Eles a quem confiamos o nosso dinheiro, que engolem com avidez, o dinheiro daqueles que trabalham por vezes por muito pouco, tão duramente ganho?
Onde estavam aqueles que elegemos para se ocuparem de nos quando esta forma de capitalismo corrompido se propagou? Eram incompetentes ou acabaram por se integrar numa oligarquia que os enriqueceu ao mesmo tempo que os especuladores?
Como é possível que uma operação habitualmente tão simples como fornecer dinheiro aos criadores de riqueza, os da economia real, seja agora assim tão complexa?

Claro que conhecemos muito bem a resposta: esta complexidade é o método que foi utilizado para cegar deliberadamente as populações e permitir “aos senhores do dinheiro” de sugar todo o dinheiro do trabalho para o jogar no casino. Onde uns acabaram por perder em proveito de outros mais espertos.

Aqueles que tinham por missão de utilizar o dinheiro da gente ordinária para alimentar a máquina económica, fugiram com ele e o sistema gripou.

Freitas Pereira

4 comentários:

Dulce disse...

É, de facto, assustador como chegámos a um tempo em que a nossa vida está dependente da actuação desses organismos e deles nos tornámos meros fantoches no sinuoso palco económico.

Zelar pelo sistema financeiro internacional é necessário, mas o desempenho desses organismos deixa muito a desejar, ao representarem os interesses dos Estados mais poderosos, subalternizando e tornando reféns os demais. A ver vamos "se tudo o vento levou" e para onde nos levou...

Defreitas disse...

O que caracteriza, Cara Dulce, o desastre da sociedade actual, vitima do tal sistema, é que o mundo do trabalho está à deriva, tanto no que o estruturava que nas sua perspectivas.

O elo social salarial, necessitando, para o aparelho de produção, duma força de trabalho e a sua utilização no quadro nacional, assegurou durante dezenas de anos uma relativa estabilidade de conjunto – os conflitos internos ao sistema nunca o puseram em questão - . Isto deu nascença a uma sociedade, certo conflitual (reivindicações diversas..), mas apesar de tudo estável, oferecendo mesmo uma segurança relativa aos trabalhadores ( emprego, saúde, reformas, serviços públicos,..)

A abertura maciça ao mundo, do capital, a descolonização, o desenvolvimento dos meios de comunicação e de transporte, quebraram, para os antigos países industrializados, esta relativa estabilidade.
A internacionalização do capital tornou obsoletas as políticas económicas nacionais. Os mercados, incluindo o da força de trabalho, são agora mundiais.
O que fazia a especificidade nacional do elo social foi destruído : é possível encontrar noutras paragens uma força de trabalho mais barata, pode-se mesmo importà-la pagando a menos.

O consenso economico-social, se bem que conflitual, foi rompido, a lenta perda das vantagens sociais já começou.
O sindicalismo, mesmo se nem sempre razoável por falta de formação económica, mas que constituía a arma de defesa dos assalariados e dos seus desejos de conquistas sociais, está exangue, não somente incapaz de conquistar novas vantagens sociais, como de conservar as antigas.

Frequentemente, perante a chantagem patronal ao encerramento da empresa, os sindicatos são mesmo renegados pelos trabalhadores que preferem assegurar o emprego. Os sindicatos são obsoletos.

A ideia ultra-liberal, fundada numa racionalidade a curto prazo e confortada por uma legitimidade adquirida à força da demagogia, destrui o que resta do elo social. A sociedade acaba por se transformar numa verdadeira selva do “salve-se quem puder” .

Trabalhadores pobres, estatutos precários, desempregados, assistidos, acabam por ser a norma de um sistema fundado essencialmente na redução de custos e nos lucros a não importa qual.. custo! , sem respeito para os estragos sociais provocados.

O que eu receio é que, perante o aumento de tanto sofrimento, a grande massa dos espoliados de trabalho e de dignidade se revoltem, e que o sistema, para sobreviver, imponha um poder autoritário do qual se conhecem todos os perigos potenciais – ver os acontecimentos do século passado.

Freitas Pereira

Ricardo Jesus Cândido disse...

Algumas das razões porque chegámos aqui:
- Avançámos para a globalização sem saber muito bem quais seriam as implicações;
- Não se pode ter uma União Monetária sem União Política;
- Quando não há União Política e a zona económica é imperfeita o desfecho só podia ser este(aqui os euro-cépticos ganharam em toda a linha);
- Andamo-nos a matar uns aos outros e vêm o chineses e matam-nos a todos;
- A governação europeia tem estado entregue a uma cambada de incompetentes, tipos e tipas mal preparados, que não estão à altura das
dificuldades dos tempos;

BTW: bem-vindo ao "Lodo", Freitas Pereira. Excelente aquisição.
Consigo, estamos melhor, muito melhor.;)

Defreitas disse...

Caro Ricardo Cândido:

Creio que foi Galileo que disse, « Nunca encontrei ninguém por pouco que soubesse, que não tivesse algo para me ensinar" .

Ora na vossa companhia aprendo também, porque também sabem. E entretanto, grande é o prazer. Muito obrigado.