terça-feira, 8 de março de 2011

Homens da Luta - qual luta?!


Enquanto metade do país se congratula com a vitória dos Homens da Luta no Festival da Canção deste ano, a outra metade - da qual eu faço parte - dá por si a perguntar que raio de país é este (esse, já que escrevo de longe) que se revê numa dupla de (duvidoso) humor, cabelo lambido e ar propositadamente trôpego, palavras cheias de nada e pretensões de contracultura.

Não vi o Festival, nem estou a par dos demais concorrentes e da sua qualidade (ou falta dela), mas por muito maus que fossem, nada é tão mau como esta dupla que ridiculariza um país e um povo. Antes representada pelas Wandas Stuarts, Tonichas e Sabrinas, gente genuína e assumidamente lamechas, bem à portuguesa, que por dois palermas que levam até à Alemanha um número de circo que só irá confirmar, perante toda a Europa, a palhaçada que vai por estes lados.

E nem que o arranjo musical fosse bestial, nem que a letra fosse soberba, que não é. Muitos estão convencidos que a música é de intervenção, que a letra de A Luta é Alegria é oportuna e cheia de palavras de ordem, mas não só não há quaisquer resquícios de intervenção no conteúdo desta canção, como não vejo onde é que alegria rima com o estado do país...

E a luta, que luta é essa que os dois humoristas preconizam? Que contributo é que ambos deram ao nosso país? Foram dados a conhecer por um decadente programa de televisão e por sistemáticas intervenções despropositadas e ofensivas em actos solenes, comícios partidários, etc. Ah, espera, também são conhecidos por discursos a transbordar de conteúdo, que oscilam entre "camarada" e "e o povo, pá?".

E é com isto que o português se identifica? Com gente sem mensagem, que é do contra porque sim, porque é muito mais fácil captar atenções a esparvoar, que a actuar. É mais fácil ligar para uma linha de valor acrescentado ou deixar um «gosto disto» no facebook, que arregaçar as mangas e ir à procura de soluções. É mais fácil acreditar que o país pode mudar só porque dois tipos vão ao país de Angela Merkel debitar meia dúzia de parvoíces em camisa de flanela e acordeão ao peito.

No fundo, e ironicamente, os Homens da Luta representam precisamente os portugueses que não vão à luta, que bocejam a ver o país a afundar e que só espevitam ao som de megafones e palavras de ordem ao acaso, com muita farsa à mistura, pão e vinho – como dita a música - que isto é que alimenta o povo…!

1 comentário:

luis cirilo disse...

Inteiramente de acordo Dulce.
E não me venham dizer que foram eleitos democraticamente que isso até me dá vontade de rir.
Um festival da canção rege-se por critérios bem diferentes de uma eleição política.
Eu não duvido que se fizessem uma eleição entre eles o Tony Carreira ganhava á Amália!
Mas jamais terá o talento dela.
Nem a voz!
A unica vantagem desta palhaçada é o festival ser na Alemanha.
Talvez assim a sra Merkel entenda melhor porque razão este país tem um PM chamado Sócrates.
Porque um país que elege os Homens de Luta para o representar num festival da canção não admira que eleja um Socrates para PM.
Num caso como noutro é tudo uma questão de mau gosto.