Lia-se ontem, no sítio da BBC e no Público, que Blair teria dito que colaboraria na invasão do Iraque, ainda que tivesse sabido que o país não tinha armas de destruição maciça, o que motivou reacções de condenação desde o chefe da procuradoria britânica à data da invasão, ao inspector chefe da O.N.U., nessa altura, Hans Blix, e mesmo ao antigo advogado de Saddam Hussein.
O jornal The Guardian (citado pelo seu homólogo português) compara a falta de fundamentação da decisão do antigo Primeiro-Ministro com a os crimes imputados aos dirigentes jugoslavos, que motivaram a acção militar nos Balcãs; ou seja, também Blair teria sido parte numa acção criminosa (embora o jornal não proponha, evidentemente, uma acção da N.A.T.O. ou de qualquer coligação internacional no Reino Unido).
Ora bem, resistindo à tentação de apontar o dedo, é preciso que se diga que Blair não afirmou que sabia da inexistência da parafernália bélica iraquina; o que sublinhou, como aliás fez em resposta a uma pergunta que lhe dirigi, nas Conferências do Estoril, foi que, dados os ganhos registados (por exemplo, a realização de eleições democráticas), teria apoiado a invasão, embora com argumentos diversos sobre a natureza da ameaça. Na pior das hipóteses; Blair será culpado de ter exacerbado a ameaça, sendo que parece estar a "criar um clima" para as audições a que será sujeito, numa comissão de inquérito.
Como também disse no evento do Estoril, a cuja organização tive a honra de presidir, a primeira coisa que nos interpela é a disparidade de critérios, mormento em lugares onde não há petróleo: Darfur (Sudão), Somália e, durante muitos anos e com o ouro negro divido entre indonésios e australianos, Timor-Leste.
Como também disse no evento do Estoril, a cuja organização tive a honra de presidir, a primeira coisa que nos interpela é a disparidade de critérios, mormento em lugares onde não há petróleo: Darfur (Sudão), Somália e, durante muitos anos e com o ouro negro divido entre indonésios e australianos, Timor-Leste.
Depois, há que pensar se, confrontados com a hipótese de não existirem (como veio a saber-se) a.d.m., se todos (e, no caso, os britânicos) apoiariamos (os que o fizeram, como eu) a invasão ou se o fariamos com o mesmo fervor. No meu caso, vou pela segunda via; creio que poderia escutar os argumentos, mas não colocaria a mesma prioridade na intervenção (o que fiz, entre outras ocasiões, num debate com a Deputada do Bloco de Esquerda, Ana Drago), desde logo porque me ocorreriam, já na altura, dúvidas sobre a estranha discrição dos vizinhos iranianos.
Mais grave ainda, fica para a história a total ausência de um plano para o pós-guerra, algo que, aí sim , deve pesar sobre George W. Bush e Tony Blair, em primeira instância.
O que entendo, em conclusão, é que a um pequeno país como Portugal não restará muito mais do que ir, com espírito crítico, mostrando solidariedade para com os nossos aliados, pois dela beneficiámos e poderemos vir a necessitar no futuro. Todavia, fica o aviso para que sejamos menos crentes, em futuras refregas...
1 comentário:
Escreve : "dados os ganhos registados (por exemplo, a realização de eleições democráticas), teria apoiado a invasão, !
Mas Caro Amigo , como é possível dizer que houve eleições democráticas quando são feitas à sombra dum ocupante estrangeiro ?
Seria como fazer eleições em França, durante o governo de Vichy e a presença dos nazis ! Não?
?
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