quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O que pôde arranjar-se

Quando terminou a prestação do Eng. Sócrates na "Grande Entrevista" de ontem, fiquei com uma dúvida: bastará ser um político competente (a meu ver, é-o) e comunicar bem ou atingimos o grau mais elevado de saturação em relação aos políticos portugueses?

Vamos por partes: creio que a entrevista, no cômputo geral, correu bem a José Sócrates. Com a boa presença que o distingue, conseguiu explorar todas as falhas usualmente atribuídas a Manuela Ferreira Leite; da célebre tirada em que disse que as grandes obras públicas só dariam emprego a cabo verdianos e ucrânianos áquela outra em que falou da suspensão da democracia por seis meses, sem olvidar a alegada contradição entre a reclamação de exclusividade dos candidatos feita pelo PSD (na altura das eleições para o Parlamento Europeia e visando Edite Estrela e Elisa Ferreira) e o facto de o cabeça de lista pela Madeira ser, como sempre, Alberto João Jardim, que jamais assumiu o lugar. De permeio, nem sequer se esqueceu de "envenenar", devolvendo as acusações de "asfixia democrática" ante a exclusão das listas do nome de Passos Coelho.

Ou seja, na "finta" esteve bem.

Já quanto ao resto, procurou cavar o fosso na interpretação do papel do Estado, seja nas obras públicas, seja nas questões cívicas (divórcio e casamento homossexual), seja ainda na segurança social. A diferença parece, aqui, clara entre PS e PSD.

Todavia, continuo a perguntar-me se a dureza destes quatro anos ainda deixa disponibilidade aos portugueses para escutarem o nosso Premier... Seguramente não o ouvirão os professores, a quem o Primeiro-Ministro dirigiu um lamento pelo facto de o Governo não ter usado de maior "delicadeza" na comunicação de medidas que continua a defender...

Parece que falta um epílogo... Não se ouviu uma medida galvanizadora ou algo que nos faça crer que vamos ser um País dos mais bem sucedidos da Europa. Parece que os nosso líderes (o PSD não faz melhor, neste particular) abandonaram o ideal social e a esperança de não sermos mais os remediados da União...

Foi o que pôde arranjar-se, calculo...

1 comentário:

Dulce disse...

Não vi a entrevista, mas pelo teu relato as contas que faço são estas: José Sócrates - 1, MFL - 0;

E Gonçalo, por muito que custe a acreditar, os portugueses têm MESMO mais vontade em ouvir o nosso "agastado" PM que a líder social democrata... pelo menos é essa a ilação que se pode retirar da diferença de audiências entre a entrevista de ontem e a da semana passada a Manuela Ferreira Leite(no mesmissímo espaço informativo, foram mais 266 mil portugueses aqueles que se predipuseram a ouvir Sócrates)...