Uma tarde destas dei-me ao luxo de consumir lixo televisivo, sem dó nem piedade. Das tertúlias cor de rosa às madrugadoras televendas e dos talk shows deprimentes aos concursos fora de horas, em que umas moças curvílineas instam os noctívagos a telefonar para linhas de valor acrescentado, derretendo a mísera pensão em menos de nada... Porém, se pensam que isto é o pior que passa na televisão portuguesa, desenganem-se. Experimentem sintonizar na SIC às cinco da tarde. Vi um episódio da telenovela "Rebelde Way" e, neste preciso momento, ainda me encontro em estado de choque.
Para quem desconhece, faço o enquadramento: trata-se de uma novela juvenil que passa à hora do lanche, horário ideal (leia-se aqui ironia), já que a esta hora a criançada já chegou a casa e pode deliciar-se com a tv, enquanto os progenitores ainda não estão por perto. A trama desenrola-se num colégio interno que se vangloria de ter um enorme prestígio. No episódio que visionei, o número 181, a coisa começava com um adolescente imberbe a envolver-se sexualmente com a sua professora de Química numa bancada do laboratório, com direito a algemas e outros acessórios equiparados. Até um tipo com um coeficiente inferior a 20 percebeu o que se passou a seguir, mas os argumentistas não acharam suficiente. Mais tarde, o rapaz passeava-se feliz pelo colégio e, quando abordado pelos colegas, não teve papas na língua - "Dei uma queca na professora Irene" (ipsis verbis).
Entretanto, situação idêntica desenrolava-se entre um docente e uma aluna que conduziu aquele até ao seu quarto, onde dois colegas espreitavam e fotografavam o momento, com o expresso consentimento da menina. Se acham que a coisa ficou por aqui, atentem ao que se segue: numa outra cena, um grupo preparava-se para dar uma festa com álcool e tudo o mais a que julgam ter direito, até que chegam as atracções principais: duas strippers contratadas que, afinal, acabam por não actuar (deu-lhes - aos argumentistas - um repentino rasgo de bom senso!).
Para quem desconhece, faço o enquadramento: trata-se de uma novela juvenil que passa à hora do lanche, horário ideal (leia-se aqui ironia), já que a esta hora a criançada já chegou a casa e pode deliciar-se com a tv, enquanto os progenitores ainda não estão por perto. A trama desenrola-se num colégio interno que se vangloria de ter um enorme prestígio. No episódio que visionei, o número 181, a coisa começava com um adolescente imberbe a envolver-se sexualmente com a sua professora de Química numa bancada do laboratório, com direito a algemas e outros acessórios equiparados. Até um tipo com um coeficiente inferior a 20 percebeu o que se passou a seguir, mas os argumentistas não acharam suficiente. Mais tarde, o rapaz passeava-se feliz pelo colégio e, quando abordado pelos colegas, não teve papas na língua - "Dei uma queca na professora Irene" (ipsis verbis).
Entretanto, situação idêntica desenrolava-se entre um docente e uma aluna que conduziu aquele até ao seu quarto, onde dois colegas espreitavam e fotografavam o momento, com o expresso consentimento da menina. Se acham que a coisa ficou por aqui, atentem ao que se segue: numa outra cena, um grupo preparava-se para dar uma festa com álcool e tudo o mais a que julgam ter direito, até que chegam as atracções principais: duas strippers contratadas que, afinal, acabam por não actuar (deu-lhes - aos argumentistas - um repentino rasgo de bom senso!).
Mas se aqui não houve strip, o mesmo não pode dizer-se quanto a um outro quarto, onde uma aluna festejava a sua despedida de solteira com um stripper masculino, numa cena que só parou quando a tanga voou direitinha à sua face... Enfim, para terminar estes sessenta minutos de conteúdos pedagógicos, dois jovens do sexo masculino beijam-se e de seguida discutem entre si. Um deles sai do quarto e resolve (não alcançei a ligação...) fazer uma aluna refém, barricando-se numa sala de aula, onde lhe encosta uma navalha ao pescoço, ao mesmo tempo que recita mórbidas passagens biblícas. E pronto, amanhã há mais... Sendo que, entretanto, as criancinhas ainda podem deglutir os resumos dos episódios na página oficial dedicada à novela - aqui, onde podem confirmar o episódio que acima relatei.
Sim, já fui adolescente e sei como são os adolescente de hoje. Tenho noção de que, para muitos deles, alguns dos comportamentos acima descritos são encarados com relativa normalidade. Contudo, numa telenovela, tolero cenas de envolvimento entre jovens, desde que não explícitas e desde que o recurso às mesma tenha uma razão pedagógica - por exemplo, uma cena em que os intervenientes fomentem o uso de preservativo e de alguma forma passem a mensagem de incentivo a uma vida sexual saudável.
Sucede que, além da leviandade com recorrem a cenas de sexo (ou a circunstâncias que a elas se reportam, como o é a contratação de profissionais da área...), é incompreensível que em momento algum haja o mais leve sinal de pedagogia... No caso do envolvimento entre docentes e alunos, sabemos que haverá casos reais, mas o que ali é por demais reprovável é que não se tenha mostrado uma pontinha de sentimento de erro por parte dos personagens, passando-se assim uma mensagem de que este tipo de envolvimento é permissível e até natural.
A isto acresce a linguagem usada, o álcool sempre presente (ao menos punham os míudos a beber umas cervejas sem álcool, ou isso já não é cool?!), a referência a seitas religiosas, o fomento ao voyerismo, a violência como meio para atingir fins, as constantes cenas de índole sexual, enfim, tudo vale para tornar a série mais cativante ao olhar ingénuo das crianças e néscio dos adolescentes.
Pergunto-me onde raio pára a Entidade Reguladora para a Comunicação, a tal que "figura como um dos garantes do respeito e protecção do público, em particular o mais jovem e sensível, dos direitos, liberdades e garantias pessoais", como pomposamente anuncia na sua página de internet. Que se saiba, este mecanismo tem funções de fiscalização que não dependem de queixa apresentada pelo telespectador (embora este sempre o possa fazer e eu muito tentada me sinto a fazê-lo). Pelo menos da leitura aos Estatutos daquela entidade não vislumbrei que a sua actividade esteja circunscrita a esse ponto, i.e., que em face de conteúdos televisivos chocantes - mormente, para o público-alvo em apreço - e na ausência de queixa contra eles, a ERC não possa actuar...
Compreende-se que os trejeitos de Manuela Moura Guedes e o jornalismo a que nos habituou sejam alvo de crítica e levem à reprovação da ERC ao Jornal da Noite das sexta-feiras, mas convenhamos: aí, sempre podemos mudar de canal e "calar" a senhora. No presente caso, não só a maioria dos pais está (física ou mentalmente) ausente quando as crianças visionam estes programas - que os pais julgam vocacionados para aquele target - como muitos deles desconhecem os meios de que dispõem para alertar quem de direito.
Precisamente por isso e, sobretudo, porque não quero nem imaginar que a minha sobrinha algum dia possa vir a absorver conteúdos desta espécie, deixo aqui a minha indignação. A televisão está a passar dos limites e nós... nós continuamos a fingir que isso não é connosco.
1 comentário:
Realmente as nossas televisões começam a tornar-se perigosas más companhias para a juventude.
Começam é força de expressão porque,em boa verdade,já o são há muito tempo.
Não vi esse programa,não vejo telenovelas seja qual for a espécie (a ultima que vi foi o Roque Santeiro e por aí já adivinham a minha desactualização na matéria...)em suma cada vez vejo menos televisão generalista.
Refugio-me nos canais de noticias, na sporttv,nos canais tematicos tipo National Geographic ou Odisseia,espreito regularmente o Hollywood em busca de boas memórias cinematográficas e pouco mais.
Ás vezes a CNN,BBC,TVE e basta.
Agora a ERC anda de facto muito distraida para o que não lhe interessa.
E tqam você Dulce muita razão quando diz que continuamos a fingir que não é connosco.
Porque é.
Em casos como o que refere e noutros que nos invadem o pequeno ecrã.
Como alguns fretes da RTP e de uma conhecida jornalista a este depriemnte poder socialista em queda...
Outros contos !
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