Volto ao vosso contacto depois de ter tido a fortuna de participar na equipa que organizou as Conferências do Estoril, que de 7 a 9 de Maio, procuraram trazer “a globalização de regresso a casa”, querendo com isto significar que, depois de termos dado novos mundos ao mundo e ante a crise que vivemos (que não é só económica, insisto no que venho escrevendo), estamos em condições de usar as nossas especificidades culturais e geográficas para procurar encontrar a saída para esta época de mal-estar.
Contrariando alguns rótulos que procuraram colar acriticamente à classe política, o Presidente da Câmara Municipal de Cascais, António Capucho, e o seu Vice-Presidente, Carlos Carreiras, não só pretenderam, ao lançar o projecto em colaboração com o Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais, afirmar em Portugal um pólo de reflexão de excelência que, a médio prazo, se torne uma referência internacional, como interiorizaram o essencial da preservação das diversas identidades ante o turbilhão padronizador da globalização, ao aprovarem como tema da primeira edição “Desafios Globais, Respostas Locais”.
Acresce a isto a percepção do espaço que se abre a quem, num mundo sem perspectiva (quando muito podemos desejar algo, num raciocínio prospectivo), busque um modelo pós-Fórum Económico Mundial (vulgo, Davos), que a situação actual interpela impiedosamente nos seus contornos tecnocráticos e economicistas (sempre entendi que andávamos a tratar as pessoas como números, tendo mesmo afirmado essa ideia, por exemplo, em congressos do PSD); isto, claro está, se aceitarmos que o Fórum Económico e Social (vulgo, Porto Alegre) jamais passou de uma carta reivindicativa de inspiração libertária. Por tudo isto me parece ainda de aplaudir a abordagem conceptual de colocar o Estoril entre Davos e Porto Alegre em termos não apenas geográficos (algo que é evidente e inexorável…), mas também em matéria de concepção ideológica, de ideal social…
Durante 3 dias, num momento que creio relevante para a auto-estima dos cascalenses, em particular, e dos portugueses, em geral, personalidades dos mais diversos quadrantes ideológicos, religiosos e geográficos (destaco Tony Blair, Fernando Henrique Cardoso, Mary Robinson, José Maria Aznar, Joseph Stiglitz, Yegor Gaidar, entre muitos outros, sem esquecer a actriz Daryl Hannah que, sendo uma activista do desenvolvimento sustentável – quiçá por inspiração dos seus tempos de sereia, no filme “Splash” – foi desafiada a explicar o papel que Hollywood pode ter nesse combate) confrontaram ideias e permitiram afinar raciocínios sobre um mundo que desejamos multilateral, mas que é multipolar ao mesmo tempo; sobre a maneira como as empresas transnacionais colocam a sua autoridade económica acima de muitos centros de decisão política; sobre o modo como exaurimos os recursos do Planeta e como colocamos em xeque o futuro e sobre o futuro das identidades e dos valores, num Mundo globalizado.
Foi, em suma, um privilégio, ficando a esperança de que a decisão seja a de manter viva uma chama que ainda pode iluminar caminhos importantes.
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