sexta-feira, 13 de março de 2009

Há Moda (e Lodo) em casCAIS

O Lodo marcou presença na abertura da trigésima segunda edição da Moda Lisboa Estoril - que tem vindo a assentar arraiais na Cidadela de Cascais - e aproveitou para fazer uma reportagem light, que dali outra coisa não seria de esperar. Mergulhados na fortaleza trajada de negro, a esconder o caiado das casas, deparamo-nos com um espaço mais modesto - logo, mais 'arrumadinho' - que nas últimas edições. Coisas da crise? Talvez. Até porque desta feita o evento resume-se à passerelle, sem debates e outras iniciativas paralelas, excepto a "after party", que por aqueles lados nunca se prescinde de festarola.

Mercê dos ossos do ofício, não chegámos a tempo de ver o desfile de Tenente in loco, mas através dos ecrãs espalhados pelo espaço fomo-nos habituando à passerelle enquanto aproveitavamos as borlas do evento, que é como quem diz, águas fresquinhas, café a la George Clooney e até revistas masculinas com capas mui sugestivas. Descansem, não levámos trolleys como algumas personagens que lá iam enchendo a sacola com o merchandising e outras dádivas que lhes iam parar às mãos, felizes da vida que aquilo não é todos os dias!

Terminado o desfile de Tenente, acaba a tranquilidade do lounge. As gentes acorrem ao bar, bebericam por uma garrafinhas com mais design que champagne ou equilibram sushi nos pauzinhos enquanto esboçam enormes sorrisos para as câmaras. Outros circulam com passos mais ou menos coordenados, muitos fazendo daqueles corredores as suas passerelles. E ainda há quem se acanhe aos cantos, incomodados com os flashes que se disparam a mil à hora. Tipo eu, quando três meninas armadas com enormes máquinas fotográficas desatam a fotografar os meus adoráveis - mas modestos - sapatos, comprados numa qualquer loja de um qualquer shopping!

Circulam com vaidade mulheres de jogadores de futebol, apresentadoras de televisão, socialites e outras que tais. Com mais discrição, lá vai o anónimo, apreciando a beleza alheia, concentrada em níveis dificilmente superáveis. A plateia do Moda Lisboa é, parece-nos, cada vez mais mesclada. Cruzam-se rapazes imberbes com sexagenárias vestidas de teenager, misturam-se caras conhecidas com perfeitos anónimos. O núcleo outrora restrito da Moda Lisboa (nos tempos de Alcântara?) alarga-se hoje graças aos protocolos com as escolas de design, aos passatempos dos patrocinadores, aos amigos dos amigos e... voilá, temos num reduzido espaço material digno de conduzir ao mais complexo e completo estudo sociológico, tal a diversidade de idades, estilos, gentes...

Para a ocasião, há quem ponha o melhor fato que encontra no armário mas também quem vista os trapinhos mais descabidos que já vi. Há quem exagere na maquilhagem, no decote, no salto alto, no (des)penteado... mas não é de exageros que o mundo da Moda vive?! Há também quem esteja perfeito, da ponta do cabelo ao dedo mindinho - e como isso nos corrói de inveja! E sim, há cada vez mais homens efeminados por ali. Quase todos com carteira de mão, lenço ao pescoço qual Audrey Hepburn e tiques que não lembram à mais feminina das mulheres.

Há por ali quem, como eu, aproveite as dicas de maquilhagem e ouse um novo penteado no cabeleireiro ali improvisado. Corre-se sempre o risco de ser preterida por uma jet set e ter que levar com os flashes em cima. Foi mais ou menos o que me aconteceu mercê - consta! - do beijinho de Miguel Vieira na face de Lili Caneças que causou danos irreversíveis na maquilhagem da senhora, que resolveu corrigir os estragos logo quando eu (eu!!!!) é que estava no centro das atenções da moça da maquilhagem! Lá me resignei com a minha condição de plebeia e cedi o lugar à senhora com o melhor dos meus sorrisos.

A Moda vive dos famosos e os famosos vivem de eventos como este? Talvez. Não é por acaso que Ana Salazar desabafou a propósito desta edição da Moda Lisboa que «cada vez mais as pessoas vêm para ser vistas e não para ver as criações». Nem é por acaso que os flashes encandeiam tanto na passerelle como cá fora. E também não é por acaso que já aqui escrevi uns quantos parágrafos e nada disse sobre as criações de moda que por lá vi.

Versemos então, sobre MODA. Alexandra Moura foi a senhora que se seguiu. Projectou uma colecção unicolor, simples no corte mas arrojada nos adereços e maquilhagem, inspirada na tribo africana Surma. Palmas. Depois foi a vez de Miguel Vieira. Feminino, a preto e branco (como de costume) e a dar muita elegância à Mulher do Outono/Inverno que se aproxima, pese embora o tristonho semblante das meninas que desfilavam. A meio, uma surpresa, Zé Pedro a trocar os Xutos & Pontapés por meia dúzia de suaves passos na candura da passerelle. Palmas, muitas palmas.

Nas primeiras filas os editores de moda escrevinham folhas brancas. Há uma senhora de óculos escuros, não sei se a proteger a identidade se a querer proteger-se dos projectores de luz intensa. Há também um clone da Betty Feia, curiosamente também esta editora de moda. E pelo meio, um cantor em cumplicidade com uma menina dos ecrãs, uma ou outra personalidade a dar o seu ar de graça à primeira fila, que é para isso que elas (as primeiras filas, está claro) servem. Lá atrás, onde as luzes já não chegam, escondem-se os demais.

Termina a noite com um toque de Verão. A Moda Cascais faz desfilar as apostas das lojas da cidade para esta estação e vemos por isso as modelos um pouquinho mais desnudadas. Claro que à medida em qua passam do vestidinho para o triquini as gentes - pelo menos as gentes que, como eu, não sabem o que é pesar menos de 50 kg! - vão-se arrepiando com a magreza das meninas, tão mais bonitas que ficam dentro dos trapinhos..!

A noite termina com ovações, distribuição de beijinhos e muito sorrisos esmerados, que o Mundo da moda exala felicidade. E depois, depois é como diz o Reininho: "A moda é passageira, o corpo o condutor. A moda mete a primeira, o corpo pega como um motor"...

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