terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A democracia e a heterossexualidade

Políticos sofríveis, cidadãos pouco cívicos e empresários gananciosos. Se me não engano e ressalvadas excepções positivas, será assim que a maioria dos ocidentais adjectivará o tríptico social enunciado.

O que me apoquenta é que, na mesma medida em que temos sociedades com massa crítica exígua quando toca a pensar a vida pública e em que nos castramos civilizacionalmente (com honrosas exclusões como as dos EUA, Reino Unido e Israel), vivemos no mais estupidificante relativismo ético (ou seja, todas as opiniões valem o mesmo, esbatendo-se a diferença entre o certo e o errado), excepto quando toca a mostrar intolerância para com aqueles que ousam defender uma moral prática ou um código de conduta; aí sim, dizem os anarcas e extremistas de esquerda que está errado ter um rumo.

Falo a propósito da Igreja Católica e dos ataques que tem sofrido, mas sublinho que nem é preciso que concordemos com a sua doutrina; basta que admitamos que a ela tem direito e que se trata de uma proposta de vida de adesão voluntária, ao invés do que podem dizer muitos cidadãos de países com governação islâmica (mais uma vez, há casos de sentido contrário, felizmente) e/ou ditatorial.

A mais recente reunião da Cúria Romana fez o balanço de 2008 e, sem surpresa, reafirmou a ideia de que o projecto divino ínsito na lei natural deve guiar os seres humanos, entre outras coisas, para a família e para a heterossexualidade.

Por oposição existe a teoria do género, que (em versão simplificada) entende que tudo resulta de uma interpretação cultural que se faz da “infra-estrutura” natural com que nascemos.

Pessoalmente, estou-me nas tintas quanto à opção sexual de cada um, conquanto me não macem directamente com orientações que não perfilho (para que conste sou convicta e incorrigivelmente heterossexual); isto é, cada um deve ser feliz à sua maneira, mormente quando não prejudica o próximo… Nesse sentido, não sigo a ideia da Igreja Católica de que há na homossexualidade um crime de lesa Criador.

Todavia, o que não devem tentar impingir-me é a ideia de que a diferença que vejo na homossexualidade não é isso mesmo: um caminho alternativo ao que é a inclinação maioritária e historicamente comum do ser humano.

Não viso com esta conclusão gerar qualquer clima de intolerância, mas tão somente sublinhar três ideias: em primeiro lugar, a Igreja Católica tem direito a estruturar uma ética, sendo de lamentar que não existam mais alternativas consistentes.

Em segundo lugar, fica por perceber como existiriam os defensores de outra “normalidade”, se a heterossexualidade passasse a interpretação ocasional do nosso destino.

Por último, lamento que os que, por sistema, atacam pilares óbvios da ocidentalidade não percebam que estão a minar o modus vivendi que lhes autoriza essa divergência.

2 comentários:

PQ disse...

Claro que a igreja católica tem direito a estruturar uma ética mas o simples facto de haver uma ética não significa A Ética. Até porque as éticas vão mudando, a ética das cruzadas,a ética do ecumenismo, a ética do silêncio de Pio XII, a ética das igrejas sul-americanas, a ética anti-Galileu, a ética da reabilitação, será preciso continuar?
À paz e concórdia de Maomé respondem os integristas com a ética da guerra santa, enfim, éticas são como clubes de futebol, há para todas as ocasiões e gostos.
Homossexuais também houve sempre e a luta pelo direito à diferença é um dos factores civilizacionais que mais tem contribuído para o progresso. Liberdade religiosa, ideológica e sexual, desde que não nos queiram converter, claro, sem cruzadas nem autos de fé.
Por mim, fundo-me na ética ateísta, sou hetero porque sou e agride-me tanto assistir a uma missa na RTP1 como ter de aturar uma bixa. Missas é nos templos para quem quer e a orientação sexual é individual e não terá de ser ostensiva.
liberdade continua a ser o bem maior da humanidade.

Gonçalo Capitão disse...

A questão da ética e da sua evolução é bem apresentada. Porém, acreditando a Igreja que se encontra no estádio de compaginação adequado, creio que não há lugar a relativismo, mas "apenas" a ecumenismo, algo que me parece defendido em Roma.

Quanto à homossexualidade, como disse, creio que é uma opção individual que, nos limites da liberdade de expressão, não colide com a possibilidade de outros a acharem "contra-natura".

A única coisa que me apoquenta é quando de uma opção sexual se faz exibicionismo, qualquer que ela seja. Repugnam-me marchas gay, como rejeitaria marchas hetero... Embora siga pouco a TV cor-de-rosa, vomito com casos como o de uma tal "Solange F" que apresenta como CV (o mesmo que lhe deu para ser capa de uma revista masculina e participar num programa televisivo de maledicência) o facto de ser lésbica, tanto quanto pude perceber...