quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Balada da Despedida

Fui sempre, sou e morrerei como sendo alguém de Coimbra.

Adoro a cidade onde nasci e morei, ininterrupta e diariamente, até aos meus 30 anos e onde ainda passo os fins de semana (excepto os bocados dos ditos em que sigo a Briosa) e os dias de semana ou as férias que posso.

Aliás, este meio lamento passa a lamento inteiro em relação às estratégias que sucessivos executivos centrais e camarários não tiveram para que a Cidade fosse não só um pólo de saber (mérito quase exclusivo da Universidade e das nossas excelentes escolas do ensino básico e secundário), mas também um dínamo empresarial que gerasse emprego para fixar os seus e captar criatividade de outras paragens. Quase nada se fez nesta área e até a Universidade, asfixiada pela avareza do ministério e pelo conservadorismo da instituição, foi empalidecendo no contexto universitário geral, embora não perdendo a liderança qualitativa de que sempre desfrutou e que é reconhecida internacionalmente.

No fim-de-semana passado resolvi passear por alguns dos locais que fazem parte da minha idiossincrasia coimbrã… Todavia, fiquei com a ideia de que, também nos detalhes, a Coimbra que adoro anda tristonha.

A começar pelo altar gastronómico onde voltei a pôr as papilas gustativas em ascese que, fruto da emergência das cadeias de fast-food, de propostas visualmente mais modernas e da crise económica, não tem já o esplendor de outrora, apesar do serviço esmerado e do alvo de deglutição bem demarcado.

Saído do comedouro, passeio pelo que sempre chamei de Parque da Cidade (Parque Doutor Manuel Braga) e vejo folhas sem conta a pedirem cama mais confortável do que o inevitável enleio com os pés dos transeuntes.

Depois, anima-se-me o espírito ao pensar que vou estrear-me na travessia pedonal do Mondego (décadas depois da última vez que o fio de água do nosso Basófias – falo do original; ou seja, o rio – o permitiu pelo leito), pela Ponte Pedro e Inês. Aí chegado, dói-me a alma ao ver vidro estalado, lâmpadas em falta e outras sem revestimento. Sei que a culpa é dos selvagens que vandalizam a nossa querida Lusa Atenas, mas também estou bem cônscio de que há que repor imediatamente, pois o desleixo convida a mais vandalismo.

Na outra margem, aplaude-se a estética da vedação a jusante (a que fica do lado da Ponte de Santa Clara) da Praça da Canção ou queimódromo, como lhe chamam na gíria académica, mas abomina-se aquela que fica a montante (para o lado da Ponte Rainha Santa Isabel), feita de uma chapa horrível que estraga o bem conseguido arranjo arquitectónico da área envolvente.

À volta, embora possa compreender-se a opção pelos materiais sintéticos, desgosto-me com o mau estado de conservação do enorme urso que faz as delícias de miúdos e graúdos…

Falta um pouco de maquilhagem à nossa velha e querida Coimbra…

3 comentários:

Rui Miguel Ribeiro disse...

É bonito ler uma declaração de amor, mesmo que doída.

Gonçalo Capitão disse...

Há quanto tempo te não havia, amigo!!!

Pois é... Apanhaste bem o tom ;)

Rui Miguel Ribeiro disse...

É verdade. A família aumentou e o trabalho também. Também nunca mais apareceste no Tempos Interessantes... Diga-se que a minha escrita se tornou muito irregular.
Grande abraço.