quinta-feira, 24 de julho de 2008

A esquerda e o átomo II

Há uns dias, opinei no sentido de defender que muitas das transformações em curso na sociedade portuguesa obedecem à agenda política de uma esquerda que tem reminiscências do marxismo-leninismo na concepção de um projecto de sociedade em que um Estado central forte, planificador e empregador convive com cidadãos que, julgando-se senhores do seu destino, estão na verdade atomizados, descentrados pelo egoísmo e pelo ataque às células intermédias da sociedade, o que reforça o poder da nomenklatura regente.

Pouco importa que esta esquerda pseudo-intelectual mascare o seu propósito com supostos incentivos à iniciativa privada (PS), pois na realidade os agentes privados tem que bajular e beijar o anel do decisor, para gozar do acesso rápido ao sucesso dos seus projectos de investimento, ou que finja que se trata de um processo dinâmico com aroma trotskista (BE), pois, na realidade, falamos de gente instalada, cuja maior frustração é não mudar a dita instalação para as capelinhas do poder instituído.

Digo sem problemas que muitos dos movimentos sociais a que o BE se associa são infiltrados por militantes seus, sendo mais agrupamentos de comando à distância do que causas em acção...
E foi precisamente no capítulo da destruição das formas espontâneas de organização do tecido social que a economia do texto me aconselhou a ser lacónico.

Falo no enxovalho deliberado das convenções que moldaram uma identidade cívica e que, não sendo imutáveis, devem poder conservar um núcleo ético que se não belisca. Exemplo disso é a mais recente tendência para consagrar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Aqui chegados, não procuro saber sequer se o casamento é ou não destinado à procriação (algo que, sublinho, a Drª Manuela Ferreira Leite tem tanto direito a dizer, como a extrema-esquerda tem dito tudo o que lhe ocorre), defendendo até que se combata a discriminação negativa de dois cidadãos do mesmo sexo que querem partilhar a sua vida. Em bom rigor, não tendo eu qualquer inclinação homossexual, pouco me importa que outros a tenham, presumido o respeito pela minha escolha e não vejo razão para se perseguir um homem que goste de outro homem ou uma mulher que goste de outra cidadã...

Porém, há duas coisas de que ninguém me convence: a primeira é que tal laço tenha que se chamar “casamento”, que é um sacramento e/ou um contrato concebido para unir pessoas de sexo diferente. Dêem as voltas que derem, isso é "limpinho"!
A segunda é que tal insistência em adoptar a mesma designação não é sinal da fúria jacobina da ala esquerda do PS e do desarrajo biliar do BE para agredir a Igreja Católica e os sectores e convenções sociais auto-subsistentes. Se assim não fosse, concedendo exactamente os mesmos direitos aos casais homossexuais, chamar-lhe-iam qualquer outra coisa. Mas, não!... Tem que chamar-se "casamento", mesmo que isso possa subverter uma figura que é tão acarinhada por uma sensibilidade maioritária. Para o BE e alguns camaradas do PS, se não estivermos de cócoras perante as minorias, não temos preocupações sociais!...
No mesmo sentido enquadro a nova lei do divórcio que prescinde da culpa como causa de dissolução do casamento. Com este “simplex” pós-matrimonial, prescinde-se de qualquer instância moderadora e convidativa de reflexão e torna tão fácil dissolver uma família como comprar um automóvel.

E, aqui, não nos iludamos! Não creio que quem queira deixe de se divorciar. O que acho é que, hoje em dia, desfazem-se famílias por dá cá aquela palha e quanto mais se facilitar o cariz descartável das relações humanas, mais se caminhará para o isolamento no meio de multidões cada vez maiores e mais "metálicas"... Por outras palavras: não negando o desejo das pessoas em separarem-se, não vejo mal em conservar alguns momentos de moderação, mesmo que aligeirados em relação à lei vigente.

Quem ganha?! Quem controlar o aparelho de Estado, pois é mais fácil “dividir para reinar”. Creio que ainda voltarei ao tema…

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